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Política

Eleições EUA: De um primeiro debate mais “agressivo” a um debate de vices mais “moderado”

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Donald Trump e Joe Biden confrontam-se em eleições acesas.
Fonte: Sic Notícias

 

Será já no dia 3 de Novembro que os norte-americanos irão ser chamados às urnas para eleger os delegados do Colégio Eleitoral que, posteriormente, irão eleger, a 14 de Dezembro, o Presidente dos Estados Unidos da América. 

Os dois principais candidatos ao cargo são o Republicano Donald Trump (atual Presidente) e o Democrata Joe Biden (que foi Vice-Presidente entre 2009 e 2017). Cada candidato tem o seu running mate, ou seja, o seu “companheiro de chapa”, que irá tomar posse como Vice-Presidente em caso de vitória. Mike Pence, o atual Vice-Presidente dos Estados Unidos, continuará como o vice de Trump, enquanto que, no caso de Biden será Kamala Harris, Senadora pela Califórnia, a ocupar o dito lugar. 

Os Estados Unidos regem-se pelo sistema bipartidário. No entanto, apesar deste sistema, as eleições também contam com a candidatura de outros partidos mais pequenos como o Libertário, o Verde e o Da Constituição.

O primeiro debate

Foi no penúltimo dia do mês transato que se realizou o primeiro debate entre os dois principais candidatos, na Universidade Case Western Reserve, em Ohio, que ficou marcado não só por questões globais, como é o caso da pandemia de Covid-19, mas também por ocorrências internas aos EUA, nomeadamente os protestos contra o racismo e a violência policial. 

Nesta troca de ideias ficou manifesta uma certa tensão entre os dois candidatos, com Biden a chamar Trump de “palhaço” e “racista”, acusando-o de ser “o pior Presidente que a América alguma vez teve” e chegando a mandá-lo calar depois de constantes interrupções. 

De acordo com o jornal Público, Chris Wallace, jornalista da Fox News e moderador do debate, tinha prometido manter-se invisível, o que foi impossível, vendo-se obrigado a chamar à atenção o Chefe de Estado norte-americano pelas obstruções não só ao seu próprio discurso como ao discurso de Biden.

Os ataques de Trump e as respostas de Biden

Porém, não foi só Biden que se ficou pelos ataques ao adversário. Donald Trump enfrentou também o seu opositor, acusando-o de estar há 47 anos na política norte-americana e de não ter qualquer atividade notória. “Em 47 anos, não fizeste nada (…) Fiz mais em 47 meses do que tu fizeste em 47 anos”, foi a acusação do Presidente dos EUA ao antigo Vice-Presidente do país. Trump acusou também o seu adversário de estar senil, exigindo que este fizesse um teste de despiste de drogas. 

Donald Trump e Joe Biden tiveram o primeiro debate no dia 29 de setembro no Ohio. Fonte: Reuters

 

Outra das acusações de Trump a Biden foi a de este proteger o seu filho Hunter, que está envolvido num escândalo de corrupção e tráfico de influências na empresa de gás ucraniana Burisma, onde detém um cargo no Conselho da companhia. Biden negou todas as acusações de que o filho está a ser acusado, chegando mesmo a dizer a Trump de que podia ficar a “conversar a noite toda” sobre falta de ética envolvendo a família, referindo-se ao facto do Presidente ter a sua filha Ivanka como assessora na Casa Branca e o seu genro Jared Kushner (marido de Ivanka) como seu conselheiro de relações internacionais, tendo Trump afirmado que para o ajudar na administração do país, os seus parentes “perderam uma fortuna”. 

Biden usou posteriormente o exemplo do seu filho mais velho, Beau (falecido em 2015), como o de um “herói americano”, por ter servido o Exército na Guerra do Iraque. Tal exemplo foi usado pelo democrata para criticar Trump recordando os rumores de que, aquando das celebrações dos 100 anos do fim da Primeira Guerra Mundial, em Novembro de 2018, na França, terá dito que os soldados mortos em combate eram uns “otários e falhados”. Trump negou as acusações e respondeu com um ataque a Hunter Biden, dizendo que este foi expulso das Forças Armadas por consumir cocaína. Joe Biden reconheceu que, de facto, o filho tivera uma dependência dessa droga, mas garantiu que este se recuperara, pelo que se encontra “orgulhoso dele”.

Por fim, Donald Trump acusou também Joe Biden de querer ocupar o Supremo Tribunal com juízes da “Esquerda Radical” e de não ter qualquer tipo de apoio por parte das forças de segurança, acusações que o candidato democrata desmentiu. 

Da pandemia à violência racial: o que foi discutido no debate

Foram vários os tópicos discutidos no debate, como a economia, as alterações climáticas e a escolha da juíza federal Amy Coney Barrett para o Supremo Tribunal, de modo a ocupar a vaga deixada por Ruth Bader Ginsburg, falecida a 18 de Setembro. No entanto, houve assuntos que receberam uma maior atenção, como foi o caso da resposta do governo à pandemia do COVID-19, ou a violência policial contra membros da comunidade negra

A avaliação do desempenho de Trump no combate à pandemia não tem sido a mais positiva por parte do povo norte-americano. De acordo com uma sondagem feita pela The University of Chicago Harris School for Public Policy, cerca de 78% dos norte-americanos culpa as políticas do governo pela crise de saúde no país.  Biden acusou o Presidente de não estar preocupado com a saúde pública e de ter sido “totalmente irresponsável com o distanciamento social e máscara”. À data do debate, um milhão de pessoas tinham morrido de coronavírus à escala global e cerca de 20% dessas mortes proveem dos Estados Unidos

Biden acusou ainda Trump de já saber da gravidade do vírus em Janeiro e de o ter escondido da população, só revelando a sua gravidade quando se deu uma queda na bolsa de valores, tal como o jornalista Bob Woodward revelou no seu livro “Rage”, de acordo com o El País

Um dos tópicos que se levou a discussão foi o da ocorrência de uma possível fraude eleitoral. Donald Trump já afirmou que não confia no sistema de voto por correio e, de acordo com a BBC, incentivou os seus seguidores a “irem às urnas e fiscalizarem com muito cuidado”, reafirmando que serão precisos meses para sair os resultados definitivos e que o povo americano terá de confiar nos juízes do Supremo Tribunal para obter a resposta efetiva de quem será o Chefe de Estado do país nos próximos quatro anos.

Outro tema que foi amplamente discutido foi a violência racial que tem sido levada a cabo por membros das forças policiais contra membros da comunidade negra. Desde a morte de George Floyd, em finais de maio, provocada por dois agentes da Polícia de Minneapolis, que o país tem-se visto mergulhado numa onda de manifestações violentas e ataques entre membros do movimento Black Lives Matter e supremacistas brancos.  

Os protestos saíram à rua após o homicídio de George Floyd. Fonte: CNN

Chris Wallace acabou por perguntar ao Chefe de Estado norte-americano se estava disposto a condenar a supremacia branca, ali e em direto para todos os americanos, o que foi igualmente exigido por Biden. Trump inicialmente disse que sim, que estava disposto a fazer isso embora depois tenha dito que a maioria dos ataques nas principais cidades norte-americanas a que se tem assistido desde junho sejam da autoria de grupos de esquerda e não de direita, dando uma particular atenção ao movimento Antifa. 

Quando o moderador reforçou mais uma vez esse pedido de condenação, Donald Trump referiu-se então aos “Proud Boys”, um grupo de nacionalistas brancos pedindo-lhes para “recuarem” e para “se manterem a postos”, o que levou membros do grupo a congratularem-se pelo apoio do Presidente através do Telegram.

Debate Harris – Pence: Um debate mais moderado

Se o debate entre Trump e Biden ficou marcado pelo tom agressivo e confuso, o debate entre Mike Pence e Kamala Harris foi mais calmo e moderado. O candidato republicano à vice-presidência dos EUA acabou por falar mais do que o devido e por interromper algumas vezes Harris, mas no seu todo o debate acabou por ser mais controlado. 

Realizou-se a 7 de Outubro, isto já depois de Donald Trump ter sido diagnosticado com COVID-19. Kamala Harris criticou a gestão do governo no controlo da pandemia, apontando diretamente as culpas a Pence, chefe da “task force” responsável por essa mesma gestão. À data do debate, cerca de 211 mil pessoas tinham morrido com o vírus nos Estados Unidos, e cerca de 7,5 milhões tinham sido infetadas. 

Mike Pence e Kamala Harris confrontam-se como vices.
Fonte: Agence France-Presse

 

Harris considerou este “o maior falhanço da história presidencial dos Estados Unidos”, acusando Trump e Pence de encobrirem a seriedade do vírus porque queriam que as pessoas se mantivessem calmas. “Quão calmos estavam vocês quando entraram em pânico por causa do papel higiénico?” questionou a candidata democrata e Senadora pelo estado da Califórnia.

Harris afirmou ainda que será a primeira a tomar uma possível vacina contra o COVID-19 se a comunidade científica, e não Donald Trump, a aprovar. Pence garantiu que a vacina estará disponível antes do fim do ano e acusou a democrata de “brincar à política com a vida das pessoas”.

Transição pacífica de poder continua uma incógnita

Durante o debate discutiram-se não só medidas políticas mas também as visões dos dois partido para o futuro do país. No que toca à violência racial e a uma possível reforma dos sistemas judicial e policial, Kamala Harris afirmou que não foi feita justiça no caso de Breonna Taylor, uma afro-americana funcionária dos Serviços de Emergência de Louisville, Kentucky, morta na sua própria casa por agentes da Polícia, na sequência de uma rusga realizada sem o devido mandado. A senadora democrata garantiu que caso Biden seja eleito o sistema policial será reformado. Medidas como a criação de um registo nacional de polícias que quebrem a lei ou o fim das fianças pagas em dinheiro fazem parte da lista de propostas.

Já Pence garantiu que a administração Trump está do lado da polícia e afirmou acreditar que a decisão do caso de Breonna Taylor foi justa (os agentes responsáveis não foram acusados de nenhum crime). 

O Vice-Presidente dos Estados Unidos também acusou Kamala Harris de apoiar a incoerência de Joe Biden, que atualmente diz não ser contra o fracking e a exploração de combustíveis fósseis, embora num debate das primárias democratas, ocorrido em Março contra Bernie Sanders, tenha afirmado o oposto, de acordo com o jornal brasileiro “Gazeta do Povo”. “Senadora, você tem direito à sua opinião, mas não tem direito aos seus próprios factos” foram as palavras de Pence contra a candidata democrata.

Tanto a democrata como o republicano evitaram responder a algumas das perguntas feitas por Susan Page, jornalista do Usa Today e moderadora do debate. Harris não esclareceu se os democratas pretendem aumentar ou não o número de juízes do Supremo Tribunal. Por sua vez, Pence não se comprometeu a garantir uma transição pacífica do poder caso Joe Biden ganhe e, tal como Trump, sugeriu que o voto por correio pode levar a possibilidade de fraude. O republicano garantiu que a vitória de Trump levará a uma recuperação eficaz da economia, prometendo que “2021 será o melhor ano económico da história da América”.

Ambos os debates se destacaram por trocas acesas de acusações entre os candidatos, embora o debate dos vices tenha sido mais controlado. De acordo com uma sondagem do Wall Street Journal publicada a 1 de Novembro, Joe Biden está à frente de Donald Trump com uma vantagem aproximada de 10 pontos. Após a realização de um comício, Donald Trump já avisou que se está a preparar para uma possível batalha jurídica após a noite eleitoral caso desconfie de fraude na contagem dos votos.

Artigo da autoria de Leonardo Pereira. Revisto por José Milheiro e Marco Matos.