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Política

JOVENS E A POLÍTICA: GRANDE AFASTAMENTO OU ENVOLVIMENTO?

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Os elevados números de abstenção em Portugal demonstram este mesmo desinteresse, assim como o estudo “Emprego, Mobilidade, Política e Lazer: situações e atitudes dos jovens portugueses numa perspetiva comparada”, encomendado pela Presidência da República e realizado em maio de 2015. Mais de metade dos jovens inquiridos revelaram não ter qualquer interesse em Política, contudo, a percentagem daqueles que acham que a Democracia funciona mal oscila entre os 41% (15-24 anos) e os 52,2% (25-34 anos).

Segundo o Presidente da República, numa intervenção no encerramento da IV conferência internacional dos “Roteiros do Futuro”, também em maio deste ano, existe uma “crescente apatia cívica” e “indiferença dos jovens perante a atividade política”. Deve-se, por isso, passar das “palavras aos atos”, através do desenvolvimento de “uma estratégia vocacionada para a criação de emprego qualificado e para a credibilização das instituições e seus protagonistas”.

O chefe de Estado afirmou também que “as novas gerações serão portadoras de uma cidadania mais exigente e informada e que irão contribuir de forma decisiva para um futuro melhor”.

Para perceber este fenómeno, foram entrevistados 4 não militantes em juventudes partidárias, ou organizações políticas e também um militante de cada partido (5 mais votados em Portugal nos últimos anos) e da Academia de Política Apartidária (APA) – uma escola de política dentro da Universidade do Porto, que congrega diferentes ideologias partidárias.

Para os 4 entrevistados não militantes, é consensual o afastamento dos jovens e da Política, motivado, muitas vezes, pela educação tida em casa e na escola que não incute o interesse por esse tema, nem promove o debate necessário. Para além disso, também consideram que os jovens não confiam nos partidos e que muitas das decisões de voto são influenciadas por tendências familiares.

Karoline de Souza, Adriana Costa e Susana Pinto têm 20 anos, são estudantes e não estão filiadas em nenhum partido ou juventude partidária porque não conseguem confiar nos partidos. “Não consigo acreditar que, finalmente, este país irá ter um partido que realmente queira o bem do povo, porque, hoje em dia, a nossa sociedade é muito egoísta e só pensa no seu próprio umbigo.”, refere Adriana.

Já José Rocha, também de 20 anos e estudante esteve filiado no PS, devido a tendências familiares, mas optou por deixar o partido pois considera que “nenhum dos partidos representa uma ideia correta do que deve ser o país. Acho que cada um diz coisas válidas, mas levar rigidamente uma ideia, um ideal e pô-lo em prática só por ser aquele ideal do partido, acho que isso dá sempre mau resultado, por isso, é que Portugal está como está.” Para o estudante, o problema reside, em parte, na forma como os partidos estão organizados e na falta de honestidade.

Na visão dos militantes de juventudes partidárias, ou partidos, a perspetiva de afastamento dos jovens em relação à Política permanece, sendo que também se coloca a hipótese de ter sido a Política que se desinteressou pelos jovens.

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Luís Guimarães, de 27 anos, presidente da concelhia da JS – Penafiel, acha que os jovens, hoje em dia, estão “pouco virados para a política”, devido ao “estigma que se criou de que a Política é só para gente oportunista e é para os outros e não para nós.”

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Para Luís Mateus, também de 27, vice-Presidente da Juventude Popular, a descredibilização sentida em relação às juventudes partidárias é, muitas vezes, provocada pelas mesmas que também não expõem, não vão “buscar” os jovens, nem desmistificam as ideias erradas que se criam à volta. Há também uma “desconfiança instalada, uma alergia contagiante pela maioria” de se envolverem com os partidos.

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Emanuel Bandeira, de 23 anos e militante da JSD acredita que este afastamento não é exclusivamente sentido nos jovens, mas que, provavelmente, é mais elevado nessa faixa etária e devido aos maus exemplos que levaram à descredibilização da classe política. Refere ainda que “já ouvi (com algum exagero, reconheço) que hoje em dia é mais fácil convencer um jovem a fumar um charro do que convencê-lo a falar de Política.”

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Por outro lado, Luís Monteiro, de 22 anos e deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia da República, acredita “que a Política se desinteressou pelos jovens também, porque não há proximidade nenhuma entre os agentes políticos de decisão e as camadas mais jovens. (…) Nem as pessoas se sentem capacitadas a intervirem politicamente porque se sentem afastadas da realidade.”

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Helena Castilho tem 18 anos e é militante da Juventude Comunista. Entrou este ano para a faculdade e apercebeu-se que os jovens universitários têm um maior interesse pela Política. “Mas eu acho que esse interesse ainda não está como devia estar, porque realmente, eu acho que, embora se interessem, deviam preocupar-se mais. É um interesse, ainda, um bocado relativo.”

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Rosina Pereira tem 24 anos, é Presidente da Academia de Política Apartidária (APA) – organização política, sem fins lucrativos, que reúne todas as ideologias partidárias – e considera que o cada vez maior número de abstenção nas eleições deve-se ao facto de as pessoas acharem que vai ser sempre tudo igual e deixarem que a decisão seja tomada por outros, o que revela a falta de credibilização no trabalho político. “Só consegues desenvolver certas competências, quando sais da zona de conforto. É óbvio que é mais fácil ficar em casa no sofá a ver televisão e, simplesmente, dizer que aquilo está tudo mal.”

Através deste panorama, percebe-se que a maior parte das opiniões, mesmo daqueles que não participam em nenhuma organização política, converge no grande distanciamento entre os jovens e a Política. Muitas vezes, são apontados como culpados desta situação: o Estado que não implementa as medidas necessárias para aproximar os jovens; o próprio sistema político, em si e os partidos que também nada fazem; e a educação e formação que é dada em casa e nas escolas, que não desperta o interesse por este tema. No entanto, apesar de haver a consciência de que estão condicionados pela conjuntura económica e política, também há que apontar aqui o grande poder de decisão que os jovens têm, pois se não lutarem por aquilo em que acreditam, tudo vai estar nas mãos de outros.

Existem, contudo, esforços no sentido de tornar estes dois campos mais próximos: nestas últimas eleições de 4 de outubro, foi criado, por exemplo, uma plataforma online, (RE)AGE.VOTA, com vista a apelar ao voto dos mais jovens e disponibilizar informação para que o voto seja o mais consciente possível.

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