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Ciência e Saúde

Como o trabalho remoto pode impactar o ambiente

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Fonte: Unsplashed | Clay Banks

Num mundo pós pandemia, que se continua a adaptar aos regimes de trabalho remoto, trabalhar em casa pode ser mais do que uma conveniência, e passar a ser também uma escolha sustentável.

 

De acordo com um novo estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, funcionários em teletrabalho reduzem em 54% as suas emissões de gases de efeito de estufa, em comparação com funcionários a trabalhar no escritório a tempo integral. Num regime de trabalho híbrido, a redução pode chegar aos 29%.

Investigadores da Universidade de Cornell nos Estados Unidos, em colaboração com a Microsoft, usaram dados da empresa de tecnologia acerca dos hábitos de teletrabalho e deslocações dos funcionários como base de estudo, avaliando três principais cenários de trabalho: totalmente remoto, híbrido e no escritório. Foram monitorizados aspetos como os gastos de energia, viagens e deslocações relacionadas com o trabalho ou não, e o uso de equipamento tecnológicos.

O estudo indica que trabalhar a partir de casa apenas um dos dias da semana causa uma redução de cerca de 2% na pegada de carbono. Os valores mais significativos foram encontrados no sistema híbrido, com dois (11%) a quatro (29%) dias de trabalho em casa, ou no regime totalmente remoto, onde a redução passa para metade.

Esta diminuição baseia-se em dois fatores principais: o menor consumo de energia e a diminuição das deslocações pendulares.

No entanto, os investigadores alertam para a necessidade de haver precaução quando se que qualquer regime parcialmente remoto possa ser benéfico ambientalmente, com alguns pontos que são importantes considerar. Os trabalhadores em modo remoto fizeram mais viagens não relacionadas com o trabalho, quer de carro, quer de avião, que aumentam a sua pegada de carbono. Adicionalmente, com o estabelecimento do trabalho remoto, houve um êxodo dos centros urbanos, que pode tornar agora as deslocações dos funcionários mais longas. Foi apontado também o fator do consumo energético de equipamentos domésticos, que têm tendência a ser menos energeticamente eficientes do que no escritório, como é o caso de impressoras, scanners e similares.

“Embora o trabalho remoto mostre potencial na redução da pegada de carbono, a consideração cuidadosa dos padrões de deslocamento, do consumo de energia dos edifícios, da propriedade de veículos e das viagens não relacionadas ao deslocamento diário é essencial para perceber totalmente os benefícios ambientais”, concluíram os investigadores. Apontaram ainda que, sendo os resultados específicos para os EUA, é muito provável que as tendências sejam semelhantes em locais como a Europa e o Japão e que, as conclusões sejam assim transponíveis.

Longqi Yang, um dos autores, indica ainda que o estudo serve particularmente para informar para além das diferentes políticas de trabalho que podem ser tomadas, estendendo-se à importância de medidas como o estabelecimento de fontes de energia mais limpas para os escritórios e para os transportes, e a possibilidade de coordenação e partilha de espaços de trabalho pelos trabalhadores em modo híbrido quando se deslocam aos escritórios.

Embora as conclusões do estudo não se apliquem a todos os setores, já que há muitos empregos que pela sua natureza não permitem teletrabalho, estas são um bom indicador para funcionários e empresas sobre como podem reduzir a sua pegada de carbono.

Numa época em que o teletrabalho se está a tornar um fator determinativo na contratação, é importante ter todas as perspetivas sobre os diferentes sistemas de trabalho, sendo o impacto ambiental um dos aspetos a considerar, quer por trabalhadores, quer por empresas.

Texto por Ana Luísa Silva. Revisto por Joana Silva.