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Ciência e Saúde

Portugal debaixo de água? As previsões para os próximos 100 anos

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Região alagada devido à subida do nível da água. Créditos: Pok Rie, pexels.com

O nível da água do mar tem subido cada vez mais rápido devido às alterações climáticas. Prevê-se que, em 2050, várias zonas de Portugal sejam já afetadas.

Subida do nível da água

Há mais de 20 mil anos, quando terminou a última era glacial da Terra, o aquecimento do planeta levou à subida do nível dos oceanos. Esta subida foi lenta, ocorrendo gradualmente até há cerca de 3 mil anos atrás. Desde então, e até ao século XIX, o nível do mar teve várias flutuações, subindo e descendo naturalmente, com poucas alterações na tendência global.

Desde essa altura, no entanto, o nível das águas dos oceanos tem subido a um ritmo cada vez mais acelerado. Isto é uma consequência direta das alterações climáticas, causadas pela atividade humana. A libertação para a atmosfera de gases que contribuem para o efeito de estufa – através, por exemplo, da queima de combustíveis fósseis – leva ao aumento da temperatura da Terra.

O aumento da temperatura do planeta contribui para a subida do nível da água, através de dois fenómenos principais. O primeiro fenómeno é a chamada dilatação térmica, que se deve ao facto de os oceanos absorverem o calor em excesso do planeta. O aumento da temperatura da água faz com que esta dilate, ocupando mais espaço. O segundo fenómeno é o degelo da calotas polares e glaceares, libertando água que flui para o oceano.

A subida do nível do mar tem sido monitorizada utilizando medidores de marés e, desde os anos 90, dados de satélites. Esta é, portanto, uma das evidências mais incontestáveis dos efeitos das alterações climáticas. Enquanto que o mar subia cerca de 1,5 mm por ano no século XX, a taxa de subida acelerou para 3,3 mm por ano entre 1993 e 2018 e para 4,5 mm por ano em 2023. Dependendo da evolução de emissões de gases com efeitos de estufa no futuro, o nível da água do mar pode subir entre 28 cm e 1 metro, até 2100.

Estes valores podem parecer reduzidos, mas os efeitos serão notórios em várias regiões do planeta. Uma em cada dez pessoas vivem perto do mar. Num cenário em que a atividade humana tem baixas emissões de carbono no futuro próximo, 190 milhões de pessoas irão viver em regiões que se prevêm estar abaixo das linhas de maré alta em 2100. Num cenário com elevadas emissões de carbono, o número de pessoas afetadas aumenta para 630 milhões.

 

Na última semana de novembro deste ano, 2025, mais de 1100 pessoas morreram na Indonésia, Tailândia e Malásia, devido a chuvas fortes que provocaram inundações e deslizamentos de terra. Imagem meramente ilustrativa. Créditos: Iqro Rinaldi, Unsplash.

Na última semana de novembro de 2025, mais de 1100 pessoas morreram na Indonésia, Tailândia e Malásia, devido a chuvas fortes que provocaram inundações e deslizamentos de terra. Imagem meramente ilustrativa. Créditos: Iqro Rinaldi, Unsplash.

Zonas afetadas em Portugal

A organização Climate Central, um grupo independente de cientistas e comunicadores de ciência sem fins lucrativos, apresentou um mapa mundial de previsões de subida do nível do mar e inundações costeiras entre 2030 e 2150. Os dados baseiam-se em artigos científicos publicados em várias revistas internacionais de referência.

O objetivo da organização é identificar locais que estejam em maior risco de inundações e não prever com rigor os níveis precisos da subida da água do mar, algo que está sempre associado a erros, tendo em conta a natureza de grandes conjuntos de dados.

Sendo um país costeiro, Portugal será igualmente afetado pela subida do nível da água do mar. Utilizando as predefinições selecionadas pelo mapa da Climate Central, em 2050, as regiões de Portugal mais afetadas serão a região da lagoa de Aveiro, a região envolvente ao Rio Mondego, perto de Figueira da Foz, a Reserva Natural do Estuário do Tejo, e Faro. Nestes locais, vastas zonas estarão abaixo do nível anual de cheias, que apenas se agravarão à medida que os anos passarem, até 2150. De uma forma geral, toda a costa Portuguesa será afetada, ainda que algumas regiões com menor magnitude.

Detalhe de algumas das regiões de Portugal que se prevêm estar abaixo do nível anual de cheias em 2050. As regiões afetadas estão destacadas a vermelho. Créditos: Climate Central, www.climatecentral.org.

Detalhe de algumas das regiões de Portugal que se prevêm estar abaixo do nível anual de cheias em 2050. As regiões afetadas estão destacadas a vermelho. Créditos: Climate Central, www.climatecentral.org.

A solução

A subida do nível da água do mar é inevitável, dado que a atividade humana, no presente, continua a contribuir para o aumento da temperatura global. No entanto, a magnitude desta elevação depende das estratégias de mitigação futuras, quer a nível individual como coletivo.

Atualmente, os quatro setores da atividade humana que mais contribuem para a emissão de gases com efeito de estufa são a produção de eletricidade, os transportes, a manufatura e a agricultura. A nível individual, existem várias ações que podem ajudar a reduzir esta pegada.

Em termos da eletricidade, a redução do consumo energético é a melhor solução, aliada à utilização de fontes de energia sustentáveis, como painéis solares.

Nos transportes, privilegiar o uso de transportes públicos, bicicletas ou deslocações a pé reduz significativamente as emissões de gases com efeito de estufa.

No setor da manufatura, reduzir o consumo de bens é uma das estratégias mais eficientes. Isto inclui evitar a compra de roupa associada a indústrias fast fashion; não adquirir objetos desnecessários produzidos ou transportados a longas distâncias; e optar por reutilizar e reparar objetos do dia-a-dia.

Na agricultura, reduzir o consumo de produtos com origem animal, ou adotar dietas com base vegetal é uma das formas mais impactantes de diminuir emissões, dado o elevado custo ambiental associado à produção animal.

Finalmente, e de forma transversal a todas estas medidas, apoiar políticas que visam a redução das emissões de gases com efeito de estufa é uma das contribuições mais impactantes que cada pessoa pode oferecer.

Artigo por Isabel Santos de Sousa. Revisto por Ana Luísa Silva. Créditos da imagem de capa: Pok Rie, pexels.com.

 

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