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Cultura

Matinés Saliva Diva na reabertura da Sala Estúdio Perpétuo

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Espaço inaugurado em 1966, a Sala Estúdio Perpétuo, inserida no espaço do Centro de Caridade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, abriu novamente portas ao público. No primeiro andar, onde funciona o bar, é possível observar memorabília dos tempos de abertura como jornais com notícias de estreias de filmes. Quanto ao auditório em si, apresenta cadeiras apropriadíssimas para desfrutar de uma sessão de cinema, um teatro ou um momento musical mais eloquente, mas que, à primeira vista, parece um bocado estranho para uma matiné de concertos de rock, garage-punk e eletrónica.

Este passado fim de semana a editora discográfica Saliva Diva decidiu então participar na semana de reinauguração desta sala de espetáculos (não no dia, porque já foi palco de um concerto no dia 1 de outubro). Esta editora, focada na cena underground portuguesa, levou a palco quatro projetos musicais interessantíssimos para qualquer melómano que se permita aventurar por este mundo subterrâneo musical português: Daniel Catarino, Fugly, Conferência Inferno e Baleia Baleia Baleia.

As atuações começaram em grande no primeiro dia deste mini-festival de matinés com uma grande atuação de Daniel Catarino. O guitarrista e vocalista, acompanhado por mais duas vozes, baixo e bateria (dentro das quais uma outra cara conhecida: São Manuel Molarinho, dos Baleia Baleia Baleia), abriu este fim de semana em grande. Com temas sérios e atuais como “Candidatura” e “Coração muito estreito de Gibraltar”, que foram compostos já durante a atual situação pandémica para o álbum “Isolamento Voluntário?” – presente no bandcamp e outras plataformas digitais -, a atuação deu para abanar o capacete e fazer pensar ao mesmo tempo. Ainda nesta primeiro momento foi de destacar o tema “As Meninas Loucas da Montanha” que sacou algumas gargalhadas do público.

Após uma pausa, para preparações técnicas do concerto que viria a seguir bem como rehidratação de público e músicos, subiram ao palco os Fugly. Dona do single que tem passado frequentemente na antena 3, “Stay In Bed”, lançado em setembro do ano passado, a banda portuense partiu a louça toda naquele palco que já há muito que pedia por um pé de dança. Nesta atuação houve de tudo: guitarras entre o público, moshpit, invasão de palco, bateria tocada a quatro mãos. Se havia saudades de um bom concerto com a hospitalidade típica do punk, este aqui serviu, e de que maneira, para matar essa saudade. Com a bateria sempre a soar bem alto durante todo o concerto, as guitarras distorcidas e um baixo potente, era impossível ficar sem, no mínimo, bater o pé e abanar a cabeça.

Ao segundo dia, lá voltou o público para mais uma tarde de cheia de música do bom e do melhor do underground português. A tarde abriu com os Conferência Inferno e o seu badwave com influências de Joy Division, New Order ou The Cure. Os sintetizadores ecoaram pela sala e a pista de dança abriu mais rapidamente que no dia anterior, com algum público a tomar a iniciativa e a preencher logo a fila da frente em pé, mesmo junto ao palco.

O testemunho depois passou para os Baleia Baleia Baleia que, como de costume, iam fazendo o alinhamento das músicas à medida que iam tocando, em certo momento, até com a ajuda do público. Com o seu rock puro e duro, os Baleia Baleia Baleia trataram de deixar toda a gente com vontade de ir para a fila da frente. Pela sala ecoram alto e bom som temas sem conta, dentro dos quais, destacamos “Quero Ser Um Ecrã” e “Interdependência”.

Com a enorme pausa que houve nos concertos, pelo menos deste género, estas duas matinés acabaram por saber a festival e até por ser apreciadas de maneira diferente, e mais intensamente. Todos os que apareceram decerto estarão à espera de ouvir falar mais da Saliva Diva, da Sala Estúdio Perpétuo ou de qualquer uma das bandas que preencheu e reabriu este palco.

 

Artigo da autoria de Daniel Diogo