Connect with us

Educação

BISTURI TALKS: LIDERANÇA NO FEMININO

Published

on

Mudar o mundo através da tecnologia, empreendedorismo e liderança no feminino foi o mote da segunda Bisturi Talk, que teve como convidadas as Chicas Poderosas e Inês Santos Silva, fundadora do Startup Pirates e diretora de operações da Ripe Productions.

Chicas Poderosas é o nome do movimento que promove o empoderamento das mulheres, com vista a que exista uma igualdade entre géneros.
Desde jornalistas a juristas e advogadas “sem idade”, atualmente, estão envolvidas mais de 3000 mulheres, que vão aos eventos e cerca de 50 embaixadoras e também embaixadores, mas em menor número, distribuídos por 11 cidades mundiais. América Latina, Portugal e EUA são alguns dos exemplos das regiões onde as “chicas” exercem o seu poder de influência, mas não pretendem ficar por aqui. “Para o ano, vamos ter Nova Iorque e Los Angeles”, acrescenta Mariana Santos, CEO e fundadora do movimento.
O projeto foi concebido na Costa Rica por Mariana Moura Santos. A ideia era que houvesse uma colaboração entre, por exemplo, os programadores e as jornalistas e designers, algo que para Mariana era “óbvio”, mas não acontece numa sala de redação tradicional.
No fundo, o projeto inclui treino em media digitais, conferências de manhã e, à tarde, sentam-se todos numa mesa com grupos multidisciplinares e fazem projetos de investigação e de visualização de dados.
Para além disso, o movimento das Chicas Poderosas envolve também o espírito de colaboração e amizade. “Não estamos aqui só para ser as melhores possíveis profissionalmente. Estamos aqui também para ser boas pessoas e ter amigos”, acrescenta a CEO do projeto.
“Nós acreditamos que uma mulher com autoestima e uma mulher confiante consegue tudo e depois cria asas para ir à procura das ferramentas técnicas, da inspiração e de tudo aquilo a que se propõe”, defende Teresa Morais, que é jurista e olha para o projeto como um trabalho onde está inserida.
Catarina Marques Rodrigues, jornalista da RTP, acredita que “as Chicas Poderosas funcionam porque cada uma de nós agarra naquilo que tem de melhor – e algumas de nós descobriram-no no projeto -, usa esse talento e contribui para a causa”.
O nome “Chicas” foi escolhido para que “as mulheres se sintam confortáveis a virem a eventos que têm um foco de tecnologia bastante forte e homens que queiram trabalhar e gostem de apoiar o trabalho com mulheres”, explica a fundadora do projeto.
Filipa Larangeira juntou-se à equipa há duas semanas e afirma que “a razão pela qual nós empoderamos mulheres é porque o mundo está desequilibrado”. “Neste momento, estamos a pôr mais algumas fichas do lado das mulheres só para haver um equilíbrio e para que tenhamos todos as mesmas oportunidades, os mesmos direitos e a mesma confiança”, explica. Para isso, Filipa acrescenta que conta com os homens para “trazer um equilíbrio ao mundo necessário para que tenhamos um mundo com mais paz e mais sustentabilidade”. Erin Rebecca é uma jornalista que começou a sua carreira em Nova Iorque, já tendo passado também pelo Brasil e acredita que “as mulheres têm mais carinho e, com isso, vão mudar o desequilíbrio”. Para Joana Cleto, uma das Chicas Poderosas “há que saber, realmente, ver que existem diferenças e como é que todos podem colaborar e, especialmente, entre mulheres”.
Mas Paula Cordeiro, provedora do ouvinte na RTP e integrante das Chicas Poderosas acredita que esta “não é uma coisa limitada ao sexo feminino e, muito menos, um projeto sexista”. A missão é, segundo Paula, “unir pessoas que tenham objetivos comuns e que os queiram levar a cabo”, uma vez que quando se juntam, têm um poder que isoladamente não possuem.

A importância da educação

Para Mariana, “a conversa está a mudar” e é “muito mais visível que há três anos atrás”, o que não significa que a situação esteja igualmente a alterar-se.
“Eu acho que, enquanto eu puder fechar os olhos e contar pelos dedos das mãos o número de mulheres líderes do mundo, significa que alguma coisa está errada”, sublinha Inês Silva. Apesar de nunca ter sentido na pele algum tipo de opressão por ser mulher, a fundadora da empresa Startup Pirates considera que a “tal igualdade de género” só será efetivamente atingida “quando isso nem sequer for uma questão”.
No entanto, Inês adverte que se se “perguntar a qualquer mulher se acha que deve existir igualdade de género, dizem que sim, mas se ativamente estão a fazer alguma coisa para isso, provavelmente, não”.
A palavra “feminismo” ainda é vista como algo “negativo” e “as próprias mulheres duvidam delas próprias, questionam-se e têm falta de poder de negociação”, defende a fundadora das Chicas Poderosas. “Acho que ainda temos um longo caminho a percorrer também na parte: como é que mudamos o chip às próprias mulheres para sentirem que o feminismo e querer igualdade de direitos é uma coisa normal e não têm de se envergonhar por isso”, acrescenta.
No que toca ao empreendorismo, apenas quatro porcento das mulheres europeias são empreendedoras, número que contrasta com os 42% na Zâmbia, local onde Inês Silva já trabalhou há uns anos atrás.
Inês acredita que, quando entrou para a universidade era “tudo menos empreendedora”, era “um bocado geek e nerd. Mas, ao longo dos estudos, percebeu que gostava de juntar pessoas e que era preciso que se falasse mais de empreendedorismo em Portugal, pois em 2011 o assunto não estava em cima da mesa como atualmente. “Percebemos que era preciso que as pessoas que quisessem ser empreendedoras tivessem ferramentas que as ajudassem a fazer isso e que essas pessoas precisavam de uma rede de contactos, uma network, ou mentores que os ajudassem a desenvolver essas ideias”, explica.
Daqui surgiu a ideia de criar o Startup Pirates que está espalhado por cerca de 40 cidades mundiais, em regiões como o Paquistão, o norte de África, a América Latina e a Europa. Os “piratas” podem ir desde líderes de comunidades, empresas e instituições a candidaturas individuais.
São oito dias intensivos em que os participantes têm atividades práticas, como oficinas e o apoio de uma grande comunidade de empreendedores experientes. Durante este tempo, os “piratas” estão em contacto com mais de 40 empresas globais ligadas à tecnologia e testam ideias de negócio e melhoram as suas capacidades empreendedoras.
Ao longo deste percurso, a fundadora da Startup Pirates foi criando outras organizações em paralelo, como o blog Portugal Startups.
Contudo, Inês acredita que “as mulheres dificilmente tomam a decisão de serem empreendedoras”. “Eu acho que isso também acaba por ser muito de, desde pequeno, da educação, as mulheres têm de perceber que podem criar o seu próprio projeto, não é preciso ser por necessidade, mas sim porque sentem a vontade de criar coisas próprias”, explica. Inês acredita, por isso, ser importante que “exista uma rede à volta que possa apoiar essas mesmas mulheres”.

“A igualdade de género é uma luta minha”

Esta conferência é a segunda das Bisturi Talks, que existem desde junho. São um prolongamento da coluna de opinião do PT Jornal, Bisturi.
Mafalda Gonçalves Moutinho tem 27 anos, é médica e estuda cirurgia vascular. Há três anos atrás, devido aos textos de opinião que escrevia para um blog de política, foi desafiada para criar um conceito no PT Jornal. Aliou a paixão pela cirurgia à participação cívica e criou a coluna Bisturi, com o objetivo de “dissecar e cortar os temas”.
Como “se cansou” de ser a única a escrever, começou a “convidar várias pessoas com várias profissões também para opinarem sobre os temas e para incluir opiniões, sobretudo, sobre política”, explica.
A partir daqui, começou a sentir que ainda faltavam pessoas e teve vontade de se “lançar aos tubarões” e enfrentar o seu medo de falar em público. Então, nasceram as Bisturi Talks, que pretendem fazer chegar os anseios de todos a quem decide.
Mafalda acha que o tema escolhido para esta “talk” é atual porque “o Fórum Económico Mundial diz que só daqui a 170 anos haverá igualdade de género”, o que é algo “preocupante” e que mostra que “ainda há muito por fazer”. “A igualdade de género é uma luta minha, porque em todos os sítios em que me movimento, sobretudo, no mundo da cirurgia, ser mulher não é nada fácil”, explica Mafalda.

Novos projetos em vista

Mafalda revelou que a Bisturi vai chegar à rádio. O formato será mensal com o objetivo de comentar a atualidade política.
A próxima “talk” vai acontecer no próximo mês no Porto e no Chiado. A norte o tema será “O Porto que nós sonhamos, o Porto que nós queremos”, em que o objetivo é discutir a identidade da cidade e a ocupação turística.
Mais a sul, o Orçamento de Estado 2017 será o tema que vai ocupar a discussão com dois deputados da Assembleia da República.
A partir de janeiro, Mafalda espera levar as Chicas Poderosas a uma nova “talk”, mas, desta vez, à Fnac do Chiado.
Quem também vai estrear-se na rádio são as “chicas” com as Chicas Stories, um podcast coordenado por Paula Cordeiro que vai “contar histórias de pessoas que tenham tido muito sucesso, um grande fracasso e tenham aprendido alguma coisa com esse fracasso e pessoas que nos possam ensinar alguma coisa”. Os temas passam pelos media, design, gestão de social media, “enfim, tudo aquilo que é preciso saber para quem está a começar a trabalhar ao nível do digital e quem quer saber mais”, explica Paula.
No primeiro trimestre do próximo ano, as “chicas” querem voltar ao Porto e, depois, vão andar pelo resto do país: em Évora, Algarve, Lisboa e vão também tentar ir aos Açores.