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Artigo de Opinião

SOBRE PSEUDO-JUSTIÇA

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O meu trabalho exige que regularmente me ausente de casa durante a noite e que seja frequente ser vista pelas ruas a horas que certamente seriam condenáveis no século XIV. Mas vivemos em 2017 e gostem ou não a Mulher é livre de viver como quer e de poder andar na rua sem sentir receio. Há coisas que o Jornalismo não ensina. Não me ensinou que seria tão penoso escrever este artigo, por exemplo, isto porque eu própria já fui vítima de violência por parte de um homem que o justificou com motivos arcaicos, tais como os que o senhor juíz usou como atenuante para desvalorizar o acto de violência em pleno tribunal. Desfaçamos a dicotomia já aqui: uma coisa é um homem violento justificar os seus actos com factos da Inquisição; uma outra coisa completamente díspare é um senhor juíz, figura de poder e que deve sempre salvaguardar a vítima, usar estes mesmos factos para desvalorizar actos de violência e menosprezar uma mulher abusada. Numa das minhas aulas de Direito ouvia repetidamente que a figura que representa o Direito se encontra por norma de olhos tapados pois a justiça não deve julgar aparências mas factos e apurar a verdade e sancionar os culpados. Neste caso a venda esteve nos olhos do senhor juíz, não o deixando ver que nos encontramos em pleno século XXI e a mulher não é apenas o ser que procria e deve levar uns açoites se o homem por bem o achar (sim, isto já foi considerado “normal” mas hoje em dia é CRIME).

Deixemo-nos de morais barrocas: a Mulher pode (e deve) ser considerada como igual perante o Homem. Por que razão ainda sexualizamos a Mulher e a objectificamos mas condenamos uma Mulher que quer explorar a sua sexualidade? A balança aqui ainda está longe de ter os pratos equilibrados; o Homem é aclamado por ter várias parceiras sexuais enquanto se a Mulher tiver vários parceiros sexuais é condenada e em alguns países ainda apedrejada em praça pública (nos países onde a mentalidade é tão barroca como a do senhor juíz).

A Mulher é um ser brilhantemente criado, que emana de si força e vida, não obstante, continua a ser subjugada numa sociedade em que agressões e violências são desvalorizadas, porque o que importa nas mentes arcaicas é o orgulho ferido do Homem. Tenho o prazer de conviver diariamente com Mulheres que são verdadeiros raios de sol e enche-me o coração saber que pelo menos entre o sexo feminino há esta união: fortalecemo-nos umas às outras, rimos e choramos juntas, debatemos política, debatemos temas filosóficos, vamos a concertos dançar até não sentir as pernas… a Mulher não é um ser confinado a casa e à família, mas antes um ser livre de ser aquilo que bem entender sem julgamentos de quem quer que seja. A rivalidade e as conversas mesquinhas sobre homens que as mentes arcaicas acham que acontecem são nada mais do que uma miragem má; somos seres intelectuais e livres e agimos como tal, sem receios, porque o tempo da Inquisição e de ser queimada viva em praça pública como se de espetáculo de circo se tratasse já acabou e o senhor juíz deve aceitar isso e talvez retirar-se das lides jurídicas se se sente incapaz. A Humanidade agradece.

Uma última nota ao senhor juíz: quando assinou o acordão podia também ter feito a caminhada de menos de 5 minutos até ao Instituto de Medicina Legal e assinar a certidão de óbito da mulher em causa pois graças à sua decisão esta é uma vida que está mais perto de se juntar à triste estatística em que os casos de violência doméstica acabam, do que de ser salva, como seria esperado de alguém com o seu poder.