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Artigo de Opinião

Ninguém gosta de perder

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Esta qualidade intrínseca está presente desde a antiguidade clássica até aos dias de hoje. Claro que a competitividade não é a mesma. Já não temos samnitas a lutar contra trácios até à morte numa arena, mas temos outro desporto que, por vezes, também se transforma num autêntico campo de batalha.

Intitulado por muitos autores como “A paixão do povo”, nasceu no século XIX em terras de sua majestade e rapidamente se difundiu pelo mundo. Conseguiu unir operários a capitalistas e colocar todos a gritar do mesmo lado. Rapidamente se tornou numa argamassa social, que conseguia juntar vários estratos sociais muito diferentes do mesmo lado da bancada.

O futebol trouxe coisas fantásticas como a luta pela inclusão, contra o racismo e a promoção do valor de igualdade entre as pessoas. Mostrou à sociedade que os mais fortes não estão destinados a ganhar e os mais fracos a perder. Promoveu, acima de tudo, o respeito entre todos, mas também trouxe com ele a violência, os insultos, a corrupção e o fanatismo.

Chegamos ao cerne do texto e ao que realmente quero mostrar. Num espaço de uma semana vi duas situações totalmente opostas que quero expor na tentativa de chegar a uma conclusão. No domingo – 23 de maio de 2021 – jogou-se a final da taça de Portugal entre Sport Lisboa e Benfica e Sporting de Braga, saindo vitoriosa a equipa do Minho. Dá-se o momento da entrega das medalhas e vê-se a equipa perdedora a retirar a medalha de “perdedor” da forma mais natural possível, algo que não chocou nenhum adepto. Retirar a tal medalha já é uma convenção social. O segundo lugar tornou-se algo indigno e a ostentação da medalha é visto com maus olhos pelos adeptos do clube.

Uma semana depois, na final da liga dos campeões – disputada entre o Chelsea e Manchester City -, após o apito final na entrega das medalhas, a maioria dos jogadores do Manchester City retirou a sua medalha de “perdedor”, mas eis que Pep Guardiola, com um palmarés invejável e com provas dadas do porquê de ser um dos melhores treinadores do mundo e vencedor de uma liga dos campeões, rompe com esta convenção social e, além de manter a medalha, beija-a. O choque foi imediato e os adeptos questionaram-se do porquê de tal comportamento.

Mas, afinal, o que significa este comportamento tão alheio ao futebol? A única resposta a que chego é a palavra “Respeito”. O que a maioria dos jogadores, treinadores e dirigentes de clubes não se apercebe é que, ao retirarem a medalha do “perdedor”, estão a desrespeitar a competição. Pep Guardiola dignificou o lugar do “perdedor” e mostrou ao mundo do futebol que uma competição não se resume a um jogo e, mesmo não a vencendo, a competição merece todo o respeito.

A palavra respeito está, infelizmente, muito longe do vocabulário de jogadores e dirigentes. Acredito que ninguém gosta de perder, mas isso não é desculpa para desrespeitar competições como a taça de Portugal – que simboliza todos os adeptos portugueses -, ou a Liga dos campeões – que simboliza todos os adeptos de futebol pelo mundo. O futebol que traz algo tão belo e fantástico tem-se transformado em algo sombrio e violento.

Felizmente, ainda existem” Pep Guardiolas” para mostrarem o que realmente é o futebol, e o porquê de todos os dias tentar ganhar mais. Apesar de ter perdido mostrou-se digno, e que a dignidade não é definida pelo que ganhamos, mas sim por aquilo que fazemos.

Ninguém gosta de perder, e o Pep não é exceção, mas existem formas de perder dignamente, e isso está ao alcance de todos.

 

Artigo da autoria de Diogo Carvalho