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Crónica

BOMBAS DE PAZ

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Sonhei com bombas de paz. Vi-as caírem como penas, sem arrastarem uma única pedra, uma única poeira. A explosão foi o fenómeno mais belo que alguma vez vi. O seu som arrebatador entrou pelos meus ouvidos como uma sinfonia. A sinfonia ecoou de um lado ao outro da terra. Era como uma aurora boreal que se espalhava por todo o horizonte. Cores fortes aspiravam todas as sombras que se escondiam. Uma rajada súbita que passou à velocidade da luz e que limpou o que não fazia falta. O mundo nascia outra vez.

Vultos surgiram e logo se transformaram em formas humanas. Não havia medo, insegurança ou inquietação. Tudo era novo, inocente e delicado. Cada coisa era uma descoberta e cada descoberta algo a proteger. Aprenderam o universo outra vez e amaram-no, como um dia o tinham feito. Cuidaram dele e ouviram tudo o que ele tinha para dizer. Todos escutaram a sinfonia e, maravilhados, dançaram juntos. Ligaram-se uns aos outros, cresceram em número e em sabedoria. Eram prósperos, movidos pelo amor a toda e qualquer forma de criação.

Hoje sonhei com bombas de paz, mas algo me acordou. Eram bombas, mas não eram as bombas de paz. Belisquei-me para ver se já não estava a dormir. Fui a correr à janela, olhei a rua. Todos sabiam o que se passava não muito longe e perguntavam-se como era possível, ali, onde estavam, o mundo ainda não conhecer o desespero da aniquilação da vida. “Tivemos sorte”, pensavam.

Hoje sonhei com bombas de paz e com um mundo que renascia. Porque pode renascer. Algures no tempo, há-de renascer e a esperança será restaurada.

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