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Crónica

PARISIENSE OU TURISTA?

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Anna Luísa MarottiHá tempos, fui a Paris. Como sonho de qualquer romântica incurável, que sofre a dor da saudade em uníssono com a dor apática do amor, lá juntei todos os meus salários e fui visitar a capital francesa. Ah! Mas que bela!

Percorri todos os cantos e cantinhos, avenidas e ruelas. Perdi-me nas galerias Lafayette e voltei a encontrar-me enquanto me deliciava com um magnífico croissant. Descobri, da forma mais dura, que Paris é a nona cidade mais cara do mundo… Mas ela merece sê-lo! No século XVII, Paris era a maior potência política europeia; no XVIII, o centro cultural; e no XIX, a capital da arte e do lazer. Estar lá não podia deixar de me inspirar… Naveguei o Sena de cima a baixo; Subi a Torre Eiffel e descobri que podia ter o mundo aos meus pés… E, naquele momento, lá em cima, tinha mesmo… Eu era a dona do mundo, do meu mundo. Naquele instante, os relógios não corriam mais e o vento frio de Março abraçava-me como quem jubila uma nobre e abastada dama da Belle Époque. Naqueles segundos, a vida era infinita, eu era a rainha de todo aquele gigante reino, envolvida por um manto de peles que me alimentava os sonhos e as vontades. Louvre, Montmartre, Arco do Triunfo, Catedral de Notre-Dame, a todos “os imperdíveis” visitei, sem deixar escapar nenhum. Encantei-me, fui encantada! Que cidade!

Porém, no último dia de viagem, apercebi-me que a única coisa que fiz foi enganar-me a mim própria. Eu não fui a rainha do mundo em Paris. Eu fui, apenas, uma turista, uma mera e banal turista. Ao meu redor, no aeroporto, dei conta que todos se sentiam os donos do mundo, de cabeça erguida e nariz empinado. Eu fui uma medíocre turista, que não fez além do que o esperado de um visitante da mediocridade. Fiz tudo aquilo que sempre neguei fazer: li todas as informações de viagem que encontrei, fui a todos os destinos turísticos com uma câmera ao pescoço, comprei uma camisola que dizia “Paris” em letras grandes. E foi aí, perdida nos meus pensamentos, que decidi que voltarei a Paris.

Decididamente, voltarei a Paris. Levarei as minhas roupas prediletas e limitar-me-ei a sentar numa das melhores e mais bonitas esplanadas nos Champs-Elisées. Sentarei estática, elegante, só com os meus devaneios. Observarei tudo ao pormenor, verei todas as raças que ali se misturam: os abastados dos belos “arrondissements”, os livres dos “bairros sensíveis” e os turistas que se perdem por ali.

E tenho certeza que, nesse momento, não será a vida infinita, serei eu. E, nesse instante, ainda que por um ínfimo instante, serei, simplesmente, parisiense.

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