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Devaneios

32 Anos: Por Que É Tão Difícil Fazer Amigos?

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Imagem desfocada de uma festa ou bar, com várias pessoas ao fundo em movimento. Em primeiro plano, há uma pessoa usando um blazer rosa, também desfocada, segurando algo na mão. As luzes coloridas criam um efeito de longa exposição, deixando rastros e duplicações das figuras. Comemorasse os meus 32 anos de vida.
O passado passou por mim… mostrou que sim, há amor no futuro. Que eu erro porque arrisco e que vivo porque me arrisquei | Imagem: Arquivo Pessoal

Há textos que nascem como rito. Este é um deles. Antes de prosseguir, convido-te a entrar comigo nesse estado de suspensão — onde música, memória e número se encontram para desenhar sentidos. O que segue é uma tessitura de anos, espelhos, afetos e estradas, narrada no instante em que o tempo se dobra sobre si. É um convite para ouvir, sentir e ler com o corpo inteiro desses 32 anos.

(indico começar a leitura dessa tessitura textual a ouvir a canção “Still Sane”, do álbum Pure Heroine da cantora Lorde)

“Hoje é meu aniversário, quero só notícias boas…”

Alguém me disse que o dia do meu aniversário carrega uma simbologia numérica. Essas superstições que o bicho homem cria para lidar com a sua falta de fé, embora todo pensamento supersticioso exista porque há fé nele. A numerologia do 12/12, doze apóstolos, doze meses… 1+2=3. A santa trindade que habita em nós — a partir dessa visão machista do homem macho no centro do mundo… com a razão, toda beleza renascentista iluminista… LUX hahaha

Aos 31, aprendi que a fé está dentro da gente. E acreditar em algo é a força motriz para não enlouquecer — mesmo sabendo que louco é quem me diz, e não é feliz. Não é. Aprendi que a natureza é a maior prova divina, mesmo que esse tal Deus — maiúsculo — não seja assim tão duro… mesmo que muitas das religiões queiram nos enfiar, goela abaixo, que Dios Es Un Stalker — mas eu improviso.

Aos trinta e um — assim por extenso  — questionei: quando foi que eu comecei a ter medo da natureza? Isso tudo num abraço no tempo e espaço que Bacu, um viralata do mato, me deu. Eu percebi que nadar contra a corrente também é um sentido válido. Falta ar, embrulha o estômago, mas a vista sempre vale a pena — e, depois, uma nova vista… vista… para ser revista na memória que é insistir em existir. 

Então, nesse curto espaço de caracteres, palavras e signos, decidi partilhar essa nova chegada: 32 anos. 3+2=5. Uma sequência matemática que resulta num número primo, o qual só se pode dividir comigo e consigo. A matemática da vida é sobre dividir as somas e equacionar as perdas a fim de achar soluções positivas, assim as parábolas te sorriem no final. 

32 Anos: “Carreira”

O que você vai ser quando você crescer… 2025 — mais números — foi um dos anos mais produtivos pra mim. E eu estou a trabalhar num café. Sete velas brancas; encruzilhadas em chão de barro; joelhos no chão — “tu gosta do mato”, disse ele. Pedi a Exú um trabalho, mas ele sabia que o que eu queria era integração. E foi isso que ele me deu: pertencimento. E a gente pertence a lugares onde é querido, mesmo que haja desencontros no caminho. 

A grande verdade é que os nossos antepassados sabem que não é o que a gente pede, mas sim o que a gente precisa — o nosso Ori rege na frente. E, quase sempre, a gente precisa daquilo que acha que já tem, mas que, na verdade, é o que nos falta para ter. Fez sentido?

De início, não. Mas a gente foi criado para achar sentido nas coisas… fugir do niilismo… criar, nós mesmos, a nossa razão dentro do espectro de razões estabelecido. Revolucionários não são evolucionistas porque evolução segue em linha reta e parte de algo preexistente, enquanto toda revolução parte de uma destruição de tudo. E toda nudez será castigada. 

O conforto material é algo que alicia também. Mesmo quando o emocional se faz/é tão precioso. 

32 Anos: Viagens

Se encontrar em novas histórias é criar uma geografia de si. Incorporar para encorpar. É confirmar incertezas que nunca se podem confirmar porque não podem ser certas jamais… jamais se pode definir aquilo que, por si só, carece de definição. Às vezes estamos a lutar para sermos aquilo que dizem que nós somos, mas caímos na mesmice de ser exatamente aquilo que conseguimos ser. Aquela falsa conclusão que põe em cheque o fim: o fim é apenas o começo do fim… mas “não é mais cíclico, é nítido que há uma força maior que nós e não podemos resistir”. (ouça) 🎶

A geografia do mundo me traz cada vez mais perto da minha família. A família é importante. E tolo é aquele que acha que família é apenas sangue. Embora o nosso sangue sempre faça a gente sangrar… e “o universo em mim, é a força de como o vi”. E o mundo é do tamanho das palavras que conhecemos…

A gente tá sempre no início — e no fim —  de algo. Por isso, senta na janela, aprecia a vista e desfruta… vão surgir várias paradas no caminho… a gente pode sempre descer e conhecer… assim como sempre poderemos pegar o próximo ônibus… uma próxima jornada. Por isso, mantenha-se em movimento…

Afinal, tudo está melhor do que parece… eu olho e vejo tudo errado — faz tempo que está tudo certo 🎶

32 Anos: Amigos São Os Nossos Chatos Prediletos

Falar de amor… relações líquidas… identidades comercializáveis… violências afetivas… banalização das relações… relações por interesse. Não há troca: só puxam a nossa energia… esse era o brainstorm dessa discussão. A gente não está no mundo para “evoluir” ninguém que não nós mesmos — mas é tão bom crescer junto, né?

Tem pessoas que, na luta para ser, expurgam de si tudo aquilo que condenam, mas o são. Melhor: há quem combata no outro aquilo que não suporta ver em si. Então, como resolver a “manchete” dessa questão? 

Não sei. Numa era digital de aproximações instantâneas, estamos cada vez mais distantes de nós — e desse outro — numa lógica de transparência que sustenta essa sociedade e-comtemporânea pornográfica: imagens soltas, vazias de sentidos, ricas em estéticas. Essa pessoa “boazinha. Ela é tão galera”, tá cada vez mais down in the high society: down, down, down, In the high society… 🎶🎶

Nesses três anos estando imigrante, percebi que tudo é muito volátil. Me questionam sobre tudo; duvidam até da minha identidade — para o europeu, sou indiano. E fazer amigos num ambiente minado por desconfiança é ainda mais difícil… artificial, mas sem a parte da inteligência. Emocional, no caso. Uma expulsão do outro (HAN).

Brincar é a forma como um mamífero aprende o seu comportamento social e, “se a gente fosse em política o que somos em estética…”, seguiríamos sempre brincantes, até porque o mundo real é tudo aquilo que acontece no recreio. 

32 Anos: Amor? Manda Nudes do Coração!

A gente ama tal qual foi amado. E, como um mantra, isso penetra a minha (nossa) alma, as tais 21 gramas. E, como num instante de momento — ou no momento de um instante — a gente (re)aprende que amor é coisa que afeta. Emocionado é todo aquele que se deixa afetar: “quem dotado de um coração para amar e nele coragem de demonstrar tal amor”. Nunca li Macbeth, mas já assisti ao clássico As Dez Coisas Que Eu Odeio em Você…

Mas o problema de uma pessoa receber pouco amor é que ela não sabe como ele é. Então, é fácil ser enganado/a… ou se deixar enganar… pedir… mentir… chorar… são muitas certezas para um date “descompromissado” que, se não tiver investida, passa batido sem se deixar abater por medo de doer. A ansiedade do medo: o mal do século. 

Com o tempo, percebi que me dói mais “me trair” do que “ser traído”. Já tive conflito comigo sobre eu ser “amigo demais”; então entendi que me doar faz parte de quem eu sou… a piada sem graça da minha forma de amor ser servir… há quem manifeste amor no conflito; dinheiro; cuidar ou punir… volte duas casas e relembre: a gente ama tal qual foi amado. E a definição — gramatical — de amor também foi criada. É a fisiologia dos sentimentos.

Depois — ou não —, a gente percebe que a gratidão vem de outros lugares… outras pessoas… e a expectativa é importante na medição, mas não deve ser um corpo feito para ocupar espaço. Rancor e raiva são reações fisiológicas que causam mais danos a quem os sente.

Mas também é preciso se levantar quando o amor nunca é servido… é que tem gente que não sabe lidar com o amor… e nessas pessoas, dói ser amado. Mas força para andar e perceber que a estrada vai além do que se vê… 🎶🎶

32 Anos: O Passado de Presente

O passado me encontrou na pista de dança na última festa em que estive antes de gripar. Ele sorriu para mim, e me agradeceu. Disse-me dessa tal luz irradiante que se abriga em mim; o quão inteligente eu sou — a tal validação. E como foi lindo me encontrar nesse desencontro entre tudo aquilo que aprendeu comigo versus o medo de aprender. Lê-se trauma. 

Eu também aprendi contigo. Obrigado!

Me fitou fixamente os olhos, mas também titubeou entre dois ou três desvios de ótica; sorriu com todo o seu corpo molhado de etílicos. Elogiou o meu estilo. Lembrou-me do quanto eu estava bonito. Encarar de frente se faz difícil, mas é extremamente necessário em tempos de deslizes para a direita, impressões, direct e (des)likes

Sim, às vezes a gente se esquece disso… 

Agarrou a minha mão enquanto falava. Podia sentir ele pulsando de alegria. E assim, disse-me: “que feliz te encontrar aqui”. O passado me encontrou no presente — e que presente! Me fez recordar de que o nosso fim não me devia “custar tão caro” — eu e a minha culpa de me culpar por ser demais.

beijo imenso… (amor é filme)… onde eu possa me afogar…

Percebi que deixei um tanto de mim. Que não havia (sido) nada além de medo. Medo que ele perdeu depois que parti. Medo que ele aprendeu que não fazia sentido sentir. Eu também temi. Mas, “depois do medo, vem o mundo” (Clarice Lispector).

O passado passou por mim… mostrou que sim, Ícaro, há amor no futuro. Que eu erro porque arrisco e que vivo porque me arrisquei… risquei no papel: foi bonito. E que um pedaço dele agora sou eu — e ele também faz parte de mim. Para todos os meninos que amei sofrer, um bilhete perdido para lembrar que é preciso esquecer para poder prosseguir, mas é sempre importante recordar. 

Recebi o passado de presente. E, ao ganhar presente, não se pode ranger os dentes: tive que desembrulhar… papel opaco, fita cintilante. O futuro é mesmo esse embrulho por abrir:

Not in the swing of things yet… mas eu sempre sei dançar 🎶

 

Texto da Autoria de Ícaro Machado



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