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Política

CORRENTES POLÍTICAS: INTRODUÇÃO AO CONSERVADORISMO

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Enquanto ideologia política, o conservadorismo pode ser descrito como a resistência à mudança. As ideias conservadoras nascem como resposta às mudanças políticas, sociais e económicas protagonizadas pela Revolução Francesa. O livro fundamental deste pensamento político é a obra de Edmund Burke, “Reflexões sobre a Revolução Francesa” (1790).

Num tempo em que as sociedades ocidentais, abaladas pelo boom industrial, viram crescer em importância movimentos socialistas e nacionalistas, o conservadorismo surge como uma força antagónica aos desejos reformistas e revolucionários.

Esta ideologia apoia-se em cinco pilares essenciais: a tradição, a imperfeição humana, a sociedade enquanto organismo, a hierarquia e autoridade e a propriedade.

“A sociedade é uma parceria entre aqueles que vivem, os que estão mortos e os que ainda não nasceram”. As palavras de Burke refletem o modo como os conservadores encaram o passado, um acumulado de experiência e conhecimento, que é necessário preservar, enquanto base para as ações do presente e do futuro. A tradição é também o veículo da identidade de um grupo, os costumes e práticas que os indivíduos reconhecem como suas e dos seus. Este sentimento é essencial à coesão social. A manutenção da tradição é uma forte oposição à mudança, que é vista como terreno desconhecido, criador de insegurança e incerteza.

Enquanto o pensamento liberal descreve o homem como bom por natureza (ou capaz de ser bom se as suas condições sociais assim o deixarem), capaz de melhorar as suas qualidades e limar os seus defeitos, os conservadores encaram esta posição como utópica. Na visão conservadora, o homem é de natureza imperfeita, limitada, atraída pelo familiar e de moralidade corruptível.

A sociedade desempenha um papel importante para os conservadores. Maior que o indivíduo, é uma entidade viva composta pela tradição, autoridade e princípios morais partilhados pelos seus membros e é vista como o fruto da necessidade humana de procurar proteção junto dos seus similares. Para além disso, é, por necessidade, hierarquizada.

A desigualdade é justificada pela necessidade de haver líderes e subordinados, relação que produz responsabilidades e recompensas distintas entre indivíduos, e está intimamente ligada à noção conservadora de autoridade. A autoridade é necessária e benéfica, pois serve como guia, suporta e protege o indivíduo. O limite à autoridade não é desenhado por um contrato artificial, mas sim pela responsabilidade que advém de uma posição de poder.

A propriedade, outra característica importante do pensamento conservador, abarca valores como o respeito pela lei, autoridade e ordem social. O parimónio de um indivíduo é uma extensão da sua personalidade, um porto de abrigo, promotor de sentimentos de proteção e segurança.

Todos estes elementos compõem a linha conservadora clássica. No entanto, a segunda metade do século XX viu nascer a nova direita (new right). Este é um termo que abarca novos movimentos de conservadorismo clássico, bem como o conservadorismo libertário. Foi nesta altura que se cunhou o termo “neoliberalismo”, referindo-se ao renascimento da teoria económica de Adam Smith, forte crítico do intervencionismo estatal, quer na sociedade, quer na economia. É sobre o conservadorismo libertário que nos iremos debruçar no próximo artigo desta série.