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Política

Comboios: ferrovia em todas as cidades com mais de 20 mil habitantes

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Ministro quer que os portugueses não tenham a necessidade de usar o automóvel, como acontece nos Países Baixos. Foto: Instagram/ Pedro Nuno Santos

No passado dia 19 de abril deu-se o pontapé de saída para a criação de um Plano Ferroviário Nacional. Se hoje é necessário o governo telefonar à IP (Infraestruturas de Portugal) para saber o que se pode fazer, no futuro o objetivo é ter um plano nacional com reflexo numa lei. Quer-se planear o rumo da ferrovia em Portugal, mesmo que não haja financiamento agora, para que futuramente, quando houver verbas, o governo saiba onde investir no setor e avançar com rapidez para os projetos.

Frederico Francisco, coordenador do grupo de trabalho do Plano Ferroviário Nacional, afirmou que um dos propósitos deste é ligar todas as capitais de distrito através do comboio e as cidades com mais de 20 mil habitantes, como Felgueiras, Loulé e Quarteira. Sublinhou também a importância das ligações de mercadorias e passageiros a Espanha e ao resto da Europa. “O transporte ferroviário é aquele que traz mais benefícios económicos, sociais e ambientais”, disse.

Neste que é o ano europeu do transporte ferroviário, o documento apresenta uma grande importância para o país. Os comboios  são, segundo Pedro Nuno Santos, «o meio de transporte do futuro», devido ao seu contributo para a sustentabilidade ambiental. O ministro realçou ainda um dos problemas da economia portuguesa, a forte dependência da importação de combustíveis fósseis, que tem impactos negativos na vida dos portugueses.

O governo pretende inverter a tendência de desinvestimento na ferrovia que vem desde há mais de 40 anos. “Um país que produz energia renovável como poucos na Europa andou durante décadas a financiar o automóvel e a desinvestir na ferrovia, que facilmente podia ser migrada para ferrovia eletrificada”, disse Pedro Nuno Santos, para frisar a importância deste plano no equilíbrio da balança comercial.

“Não escondo que quero tirar carros e camiões das estradas”, diz Pedro Nuno Santos

Até julho deste ano vão-se ouvir entidades competentes de várias regiões do país e todas as ideias dos portugueses que quiserem dar o seu contributo (pode fazê-lo aqui). Depois disso, seguem-se as fases de redação e apresentação do documento que, no início de 2022, vai a parlamento para ser discutido pelos vários partidos e tornar-se em lei. Isto facilitará a aplicação do plano no futuro, mesmo com outros partidos políticos no poder.

Obras da ‘Ferrovia 2020’ concluídas em 2023

Ao longo da sessão, o ministro das infraestruturas e habitação relembrou por várias vezes que já estão em curso várias modernizações ao longo das linhas nacionais, assim como a recuperação de material circulante. O plano de investimentos Ferrovia 2020 está no terreno e até 2023 será finalizado, sob pena de perder os fundos comunitários caso assim não aconteça.

Recentemente, Pedro Nuno Santos e António Costa foram inaugurar a obra na linha do Minho, apesar de esta ainda não estar terminada. A ligação entre Nine e Valença passa agora a albergar comboios elétricos, o que vai diminuir os tempos de viagem entre o Porto e Vigo e aumentar o conforto dos passageiros.

Contudo, entre os 92,5 km da linha é necessário ainda recorrer ao sistema de cantonamento telefónico do século XIX, em que os comboios precisam de esperar por uma autorização dada via telefone para seguirem viagem. A modernização da sinalização apenas deve estar concluída em 2022.

Como a eletrificação da linha ainda não está completamente acabada, a diminuição do tempo de viagem na linha do Minho vai dever-se em grande parte à substituição do material circulante. As automotoras elétricas recuperadas na oficina de Contumil vão reduzir o número de locomotivas a diesel que o Estado aluga a Espanha desde 2011, com o custo de cerca de 8,3 milhões de euros por ano.

Pedro Nuno Santos afirma que a reabertura da oficina de Guifões vai ser bastante importante para conseguir reforçar a aposta na ferrovia portuguesa. A requalificação de carruagens e uma possível construção de comboios em Portugal é vista com bons olhos pelo ministro, uma vez que é “uma área de negócio em crescimento em todo o mundo”. Apesar disso, o Estado vai comprar este ano 129 locomotivas elétricas – algo que ainda é pouco para dar resposta às necessidade da CP.

A requalificação de carruagens e a construção de comboios em Portugal é vista com bons olhos pelo ministro, uma vez que é “uma área de negócio em crescimento em todo o mundo”.

Outra empreitada prevista no ‘Ferrovia 2020’ era a reabertura e eletrificação da ligação entre a linha da Beira Baixa e a da Beira Alta, entre a Covilhã e a Guarda. Esta foi inaugurada no início deste mês, num investimento global de 77,12 milhões de euros (60,57 milhões de euros de fundos da União Europeia e 16,55 milhões do Estado português).

A estrutura em árvore da nossa rede ferroviária, que traz problemas para as pontas das linhas, começa a ser fechada com a reabertura do chamado “anel das Beiras”, que esteve interrompido por 12 anos. A obra muito ansiada pelas populações da região vai agora dinamizar a mobilidade entre as Beiras e a Serra da Estrela.

Contudo, a modernização desta linha não traz um aumento muito significativo na velocidade dos comboios. A maior parte do percurso faz-se a 80km/h, atingindo-se apenas os 100km/h no troço entre Caria e Belmonte.

O fim das obras na linha da Beira Baixa acontece numa altura em que se aproxima o encerramento da linha da Beira Alta, que vai começar a ser intervencionada (mas que também não deverá trazer grandes mudanças na velocidade das automotoras). O transporte de mercadorias para lá de Vilar Formoso terá que ser feito através da Beira Baixa, pelo menos durante nove meses.

Já a sul, no Alto Alentejo, está a ser construído aquele que pode ser chamado “o primeiro troço de alta velocidade de Portugal”. A ligação entre Évora e Elvas vai encurtar a distância do porto de Sines à fronteiras e dinamizar a mobilidade e trocas comerciais com o outro lado da fronteira. Esta obra apenas está prevista terminar no fim de 2023.

Alta Velocidade entre Lisboa-Porto-Vigo é objetivo para 2030

O Plano Nacional de Investimentos 2030 traz de novo a alta velocidade entre Lisboa e Porto para cima da mesa. A criação de um ‘Eixo Atlântico’, que ligue todos os 11 portos desde Sines até Ferrol, assim como os principais aeroportos portugueses e galegos, vai permitir descongestionar a linha do Norte, que está no seu limite nas áreas metropolitanas, e estimular o tecido empresarial do país.

Em entrevista ao “Dinheiro Vivo“, o secretário-geral da associação transfronteiriça Eixo Atlântico, Xoán Vázquez Mao, afirmou que esta ligação pode tornar Portugal num dos principais pontos de entrada de mercadorias na Europa, da qual beneficia da sua posição geográfica. Isto poderia deixar o nosso país a competir com Roterdão e Hamburgo.

As duas principais cidades portuguesas vão ficar a 1h15min de distância, enquanto que Vigo e Porto terão cerca de 1h de viagem. Além disso, vai ser possível diminuir tempos de viagem para vários outros locais do país que tenham linhas conectadas a este Eixo.

As duas principais cidades portuguesas vão ficar a 1h15min de distância, enquanto que Vigo e Porto terão cerca de 1h de viagem.

A nova linha entre Lisboa-Porto e Porto-Vigo vai custar 5,4 mil milhões de euros ao Estado nos próximos dez anos. A construção será feita em bitola ibérica, mas terá travessas polivalentes que permitem mudar para bitola europeia quando Espanha o fizer do outro lado da fronteira. Está prevista ainda a construção de uma nova ponte sobre o Douro e outra sobre o Tejo, que permitirá reduzir o tempo de viagem para o sul do país.

Novas linhas para o comboio chegar a todas as capitais de distrito

Atualmente, Viseu, Vila Real e Bragança são as únicas capitais de distrito que não têm acesso a ferrovia. Viseu é inclusive a maior cidade europeia sem ligação a caminhos de ferro. A solução para este problema, segundo Frederico Francisco, passa pela construção de uma nova linha de Aveiro até Mangualde, que futuramente poderá seguir até Vilar Formoso para fazer ligação a Salamanca e a Madrid.

Vila Real e Bragança levantam um problema maior, uma vez que a reabertura das linhas do Corgo e do Tua não é competitiva. Pode ser positiva para responder ao turismo, mas a duração da viagem não permite melhorar a acessibilidade entre estas capitais de distrito e o Porto.

A solução poderá passar pela criação de uma nova linha que vá desde a Invicta diretamente para Vila Real e Bragança, mas para o coordenador do grupo de trabalho do Plano Ferroviário Nacional é necessário ainda estudar em que contornos isso seria possível. O objetivo seria, mais uma vez, ligar posteriormente a capital transmontana à rede de alta velocidade espanhola.

Possível nova linha ferroviária que ligará o Porto a Vila Real e Bragança

Soluções para o Vale do Sousa e do Vouga

Felgueiras é uma das cidades com mais de 20 mil habitantes a que o Plano Ferroviário Nacional pretende chegar. A resposta apontada por Frederico Francisco é a criação da linha do Vale do Sousa, que terá uma grande importância devido ao tecido empresarial da região e ao facto de reunir cerca de 430 mil residentes.

A proposta é que ligue o Porto a Valongo, Paços de Ferreira, Lousada, Felgueiras e Amarante, sendo que depois, com a reativação do troço Amarante-Livração, seja possível ligar este novo eixo à linha de Marco de Canaveses. O custo para o Estado rondaria os 200 milhões de euros.

Esta empreitada está prevista no Plano de Investimentos 2030, tal como a reabilitação e modernização da linha do Vouga. A linha que transportou cerca de 337 mil clientes no ano passado e que serve uma área altamente povoada encontra-se bastante degradada. O “Vouguinha” tem ainda o problema de ser movido a diesel, apesar de existirem projetos para construir automotoras a hidrogénio para esta linha.

Prevê-se que a partir de 2023 seja possível haver viagens diretas entre o Porto e Oliveira de Azeméis, com a criação de uma interface no apeadeiro de Silvalde, em Espinho. Atualmente, desde a estação do “Vouguinha” em Espinho, até à estação subterrânea por onde passa a linha do Norte, os utilizadores têm que andar quase 1km a pé.

Apesar da eletrificação da linha do Vouga, esta continuará com a bitola métrica (mais estreita que o normal), o que pode condicionar o seu funcionamento. A mudança para bitola europeia traria custos mais elevados, uma vez que seria necessário alterar o traçado da própria linha.

No plano de investimentos do governo está prevista a requalificação do troço Espinho-Oliveira de Azeméis, que passa também por Santa Maria da Feira e São João da Madeira (cidades com grande importância industrial), com um custo que rondará os 75 milhões de euros.

Requalificação da linha do Vouga prevista no PNI 2030

Artigo da autoria de André D’Almeida. Revisto por Marco Matos e José Milheiro.