Autárquicas 2021
Autárquicas 2021: Maia
A Maia é uma autarquia mais dominada pelo PSD do que propriamente pela direita, uma vez que CDS e PPM só tiveram representatividade significativa quando coligados com os sociais democratas. O PSD alcançou maiorias absolutas entre 1989 e 2017, e tendo mesmo chegado aos 60% na eleição de 1997.
A CDU e o BE têm alguma expressão, sendo que entre 2009 e 2017 a votação nos comunistas tem sido instável e a do BE mais regular na ordem dos 4-5%.
O PS cresceu muito em 2017, mas a polémica nomeação de Francisco Vieira de Carvalho poderá colocar em causa a recuperação da autarquia pelos socialistas.
No que diz respeito à abstenção, a situação da Maia é muito semelhante à de Valongo e até à de Gaia, com uma abstenção crescente ao longo das décadas. Em 2013, a abstenção andou muito próxima dos 50%.
Perfil Sociodemográfico
A população residente do concelho maiato é de 134 959 habitantes, e está predominantemente na faixa etária dos 15 aos 64 anos. A situação demográfica é portanto semelhante à de Valongo, nomeadamente na variação entre 2010 e 2019. Um aumento significativo da percentagem de idosos na população total, um decréscimo da população com menos de 15 anos. Tal como em Valongo, o índice de envelhecimento aumentou para mais de 100 idosos por cada 100 jovens, tendo se registado mesmo uma quebra nos nascimentos, e um aumento da mortalidade. A taxa de mortalidade infantil em 2019 passou a ser inferior a 1 permilagem.
No que diz respeito ao ensino, salienta-se o decréscimo de estabelecimentos do 1º ciclo, bem como o de estabelecimentos do 3º ciclo. Em contraste, verifica-se um incremento nos estabelecimentos de ensino secundário, nos de ensino superior (2 estabelecimentos novos, além do Instituto Superior da Maia) e nos do 2º ciclo.
De acordo com os Censos de 2011, 5,9% da população com mais de 15 anos de idade está sem qualquer nível de ensino, e mais de 15% tem o 2º ciclo, o 3º ciclo ou até o ensino secundário. 24,8% dos maiores de 15 anos, contudo, tem apenas o 1º ciclo do ensino básico. É notável ainda a percentagem de pessoas com formação superior (19,1%), a 2ª proporção mais elevada da Zona Metropolitana do Porto, apenas batida pela própria cidade “Invicta”.
Na Maia, o setor económico dominante é o secundário, muito por força da indústria transformadora. Destaca-se um declínio entre 2010 e 2012 na existência de empresas não financeiras, mas a partir dessa data, e até 2019, verificou-se um grande aumento, chegando esse indicador às 16 475 empresas. Tal como em Valongo, há uma atratividade praticamente nula pelo setor primário. A construção tem também vindo a perder pessoal, perante o crescimento acentuado da indústria transformadora e ainda perante a percentagem constante de pessoal no comércio por grosso e de retalho e ainda no trabalho administrativo.
De acordo com a Pordata, em 2020, no município da Maia, estiveram, em média, por mês, 4.757 desempregados inscritos nos centros de emprego – menos 39% do que em 2009 (7.850).
Em 2018, o ganho médio mensal de trabalhadores por conta de outrem no concelho da Maia era de 1250,7€, acima da média nacional, de 1206€, tendo este valor sido mais elevado nas indústrias transformadoras, seguido das da indústria, construção, energia e água.
Em 2019, o índice de poder de compra per capita no Concelho da Maia era de 110,7 (a média nacional equivale ao valor 100).
PAN- João Borges
O Pessoas-Animais-Natureza avançou com a candidatura de João Borges para a Câmara Municipal da Maia. O PAN elegeu em 2017 um deputado para a Assembleia Municipal da Maia e a líder parlamentar dos ambientalistas, Bebiana Cunha (agora candidata à C.M. Porto) esteve presente na apresentação da candidatura. Foi numa publicação nas redes sociais do PAN-Maia que a candidatura de João Borges assumiu um “ compromisso para com estes maiatos e para com este território” Na publicação, o candidato compromete-se a trabalhar na educação, no combate à pobreza, em mais políticas de saúde preventiva e de bem estar animal, bem como na criação de “mais vias cicláveis”, na qualidade do ar, no aumento e melhoria dos transportes públicos, e na proteção do arvoredo.
Admitiu ainda, em entrevista ao Porto Canal, que pretende combater o desemprego jovem e as desigualdades. Alertou para a necessidade de “apostar nas pessoas”, para que estas consigam habitar tanto o centro como as zonas mais rurais do Concelho, de forma a mantê-las no Município. Defendeu a aposta em meios de transporte “suaves e amigos do ambiente”. Pretende “canalizar” uma rede gratuita para ligar freguesias, e levar as pessoas a locais de cuidados de saúde básicos. Em relação à aposta numa linha de metro entre o Centro da Maia e o Hospital de São João salvaguardou que não poderá ser a única solução e que serão necessários outros meios de transporte para resolver o problema em questão. Para alcançar a sustentabilidade no concelho, frisou a necessidade de lutar contra a pobreza energética das casa e edifícios públicos, e falou do investimento em painéis solares e do incentivo e ajuda a empresas transformadoras para que mudem a sua conduta.
Em relação ao Rio Leça, João Borges falou da necessidade de investir na despoluição e pensar depois num “corredor verde”. Disse que o investimento de 4 milhões que António Silva Tiago referiu intermunicípios para a despoluição do Leça é essencial porque a Maia não consegue fazer nada sozinha naquele campo.
Em relação ao que os demais candidatos têm apontado, a necessidade de acabar com os 4 pórticos da A41 para reduzir os custos para os munícipes (uma vez que é inevitável passar pelos mesmos), Borges diz que há alternativas, mas menos rápidas. Destacou que o partido ainda não tem uma posição definida em relação às portagens.
Relativamente à gestão atual, acha que a “maior parte dos projetos pecam por serem grandiosos demais” e alertou para a importância de medidas de curto prazo, mais claras.
Para a questão das matilhas, referiu, tal como o candidato do PAN em Valongo, a necessidade de criar parques de matilhas para cuidar e reintegrar os animais, ainda que muitos não sejam adotáveis e tenham mesmo de ficar no parque.
BE- Silvestre Pereira
Silvestre Pereira tem 44 anos e foi cabeça de lista pela Câmara Municipal de Maia em 2017, sem ter no entanto chegado a vereador, e foi deputado da Assembleia Municipal da Maia entre 2004 e 2017. Tem 66 anos, é natural de Pedrouços e tem especialização em Gestão de Recursos Humanos, pelo ISMAI. Exerce como mediador de seguros e é dirigente desportivo do Sport Comércio e Salgueiros. No site oficial do Bloco de Esquerda Maia, o candidato é apresentado como “garantia de que os munícipes terão, na Câmara Municipal, uma voz de esquerda”. Na apresentação da candidatura, o candidato do BE enfatizou a diferença no nível de desenvolvimento entre o centro da Maia e as demais freguesias do concelho. Destacou a importância de “mais controlo e transparência” de forma a garantir maior equidade na distribuição de projetos, e assumiu o objetivo de alcançar “uma Maia mais igual, um concelho socialmente mais justo e ecologicamente equilibrado”.
António Silva Tiago (PSD/CDS- Maia em Primeiro)
António Silva Tiago é Presidente da Câmara Municipal da Maia (ganhou em 2017, com maioria absoluta) e Presidente do PSD Maia desde 2020. Governa em coligação com o CDS, coligação essa que torna a ir a eleições. Numa nota de imprensa, PSD Maia e CDS Maia assinalam a aposta na mobilidade sustentável, na educação e na área social. Destacaram “uma resposta eficaz e ponderada” à pandemia da COVID-19 através das “mais pioneiras e sensatas medidas de mitigação deste vírus”.
Francisco Viera de Carvalho: PS/JPP-Um Novo Começo
De forma semelhante ao que se passou na Câmara Municipal do Porto, a escolha do cabeça de lista à Câmara Municipal da Maia esteve envolta em polémica interna. Em maio, a concelhia maiata do Partido Socialista escolhera Teresa Almadanim, professora universitária natural de S.Sebastião da Pedreira em Lisboa, e é Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Paraguai, a convite da embaixada do Paraguai. Ainda antes da votação, quando tomou conhecimento da falta de apoio pela estrutura nacional do PS, Teresa Almadanim retirou a candidatura.
A candidatura de Vieira de Carvalho terá perdido força devido a afirmações em tribunal, nas quais o candidato do PS assumiu favorecer uma construtora num contrato público e ainda pela sua atividade de consultadoria que “até o juiz disse que roçava a corrupção” de acordo com o Jornal da Maia.
A candidatura de Francisco Vieira de Carvalho é, ainda assim, apoiada por uma coligação entre o PS e o movimento “Juntos pelo Povo” (JPP). Paulo Rocha, líder da Comissão Política da Concelhia criticou a mudança de planos. Considera esta alteração inadmissível uma vez que a decisão só foi tomada pela concelhia após concordância da Federação Distrital do Porto e de dada a garantia à candidata de que a decisão seria respeitada pela Comissão Permanente.
Paulo Rocha não poupou críticas à nacional do PS, fazendo acusações de “práticas de autocracia interna, que desrespeitam as bases do Partido” e apontou como principal responsável por esta mudança de planos o Secretário Geral Adjunto do Partido Socialista, José Luís Carneiro, que é por Rocha acusado de ter “dois pesos e duas medidas”, uma vez que dias antes da nomeação, José Luís Carneiro afirmou (em relação à nomeação para a Câmara Municipal do Porto) que o PS respeitava as decisões das bases. Paulo Rocha acusa José Luís Carneiro de ter “uma postura autocrática” e mostra solidariedade em nome da estrutura concelhia do PS, para com Teresa Almadanim.
André Almeida (CHEGA)
André Pedro Almeida é empresário, natural de Vermoim, na Maia, e tem 30 anos. Em entrevista ao jornal Primeira Mão admitiu que a candidatura foi motivada por “uma profunda revolta”. Almeida frisou ainda assim que não acha que o Concelho esteja mal e nota que tem pontos positivos, mas que o executivo municipal “é igual aos outros”, assimilando-o ao executivo de António Costa, Primeiro Ministro.
Almeida critica a má utilização de fundos públicos, nomeadamente em “situações mascaradas de cultura”. Apontou que tal acontece pois existe uma mentalidade de “sucessão ao trono” no PSD, ou seja, que a constituição das listas sociais-democratas é previsível. Criticou ainda a proximidade entre PSD e a candidata apontada, na altura das declarações, pelo PS Maia, Teresa Almadanim. O candidato do Chega afirma que se pode estar a aprontar “um golpe de ditadura” através da formação de um Bloco Central.
Alfredo Maia (CDU)
Alfredo Maia é jornalista e foi deputado na Assembleia Municipal durante 4 anos. Começou a carreira em 1981, no jornal “O Comércio do Porto” e, em 1988, entrou para a redação do Jornal de Notícias (JN). Entre 1993 e 2015 foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas, primeiro como vice-presidente e, a partir de 2000, como Presidente da Direção. Atualmente, é elemento do Conselho Deontológico. Foi deputado da Assembleia Municipal do Porto por substituição e é o atual presidente da Comissão de Transportes e Mobilidade da Maia.
Os comunistas não elegeram nenhum vereador em 2017, mas obtiveram dois assentos na Assembleia Municipal (AM). Numa entrevista à publicação Primeira Mão, Alfredo Maia faz um balanço positivo deste mandato na AM: “a CDU apresentou mais de 30 propostas, dois terços das quais foram aprovadas. Evidentemente, algumas não foram levadas à prática, por razões que se compreende”. Alfredo assume o objetivo de recuperar o vereador na Câmara Municipal para o partido.
Alfredo Maia destacou que presença de um vereador da CDU teria feito diferença em certas situações, como a da variante da Estrada Nacional 14 em que as freguesias de Gondim e de Avioso tiveram de lutar (com o apoio da CDU), pela criação de uma passagem superior que ligasse as duas freguesias.
Criticou a aprovação por unanimidade na Câmara Municipal da expulsão dos comerciantes do Mercado Municipal de Castelo da Maia. Acusou Silva Tiago de sustentar esta ação com base numa promessa eleitoral vaga.
O candidato da CDU notou a falta de investimento nos Mercados de Castelo e de Pedrouços e afirma que o executivo entregará os mercados ao setor privado para requalificação, prejudicando os comerciantes e produtores locais.
Alfredo Maia assume que as principais bandeiras de campanha da CDU para a eleição maiata serão a habitação, as vias de comunicação e os meios de transporte. O candidato apontou a existência de inúmeras bolsas de habitações abarracadas, bem como de ilhas profundamente degradadas e “bolhas de pobreza”. Utiliza dados do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), onde é apontada a necessidade de construção de 816 habitações. Contudo, para o candidato da CDU “a verdade é que a necessidade real ultrapassa um milhar”. Olha de forma pejorativa o acordo feito entre o executivo e o IHRU para a construção de 757 habitações.
Alfredo Maia destaca que a resolução deste problema deve ser essencialmente responsabilidade do Estado Central, mas que a autarquia deve desempenhar um papel na resolução desta questão, uma vez que tem 832 terrenos suscetíveis de construção no seu património.
A importância da ligação das freguesias periféricas entre si e ao centro do Concelho, bem como aos Concelhos limítrofes é abordada pelos candidatos e neste caso realçada por Alfredo Maia, através de uma proposta de alargamento de carreiras.
Destaque ainda para a proposta de alargamento da rede de Metro para a Trofa e para o Hospital de São João, bem como a reposição do transporte de passageiros nos ramis de Leixões que estabelecem a ligação entre Leixões e Ermesinde e ainda a ligação entre Leixões e Contumil, com ponto modal em Sangemil. De acordo com Alfredo Maia, são “milhares e milhares de passageiros da Maia que poderiam ser drenados para esse sistema”. Alerta que essa reposição só será possível em toda a extensão do ramal, e não com a linha dos trabalhadores, uma vez que essa fica limitada a Gueifães.
Mariana Nina Silvestre (IL)
Enfermeira desde 2019 mas com formação e prática em Direito, Mariana Nina Silvestre é Presidente da Concelhia da Iniciativa Liberal na Maia e candidata do partido nas primeiras eleições autárquicas em que participa. Começou por trabalhar em advocacia, mas rapidamente se desiludiu com a carreira. Depois de trabalhar na gestão da empresa da sua família, decidiu perseguir “um sonho antigo” e enveredou pela enfermagem. A candidata frisou que o partido visa apresentar “um paradigma de liberdade” no Concelho, em que o indivíduo é recolocado no centro da política.
Em entrevista ao Notícias Maia, Mariana admitiu que seria muito bom para a IL duplicar a votação obtida por Tiago Mayan Gonçalves no Concelho nas Presidenciais (5,32%, 3264 maiatos). Assumiu ainda que o objetivo do partido para estas eleições é difícil de alcançar e que tal não acontecerá do dia para a noite. Notou que o programa eleitoral ainda está a ser preparado, mas que “uma política fundamental que iríamos introduzir no executivo camarário seria adequar a transparência da informação e da fundamentação da decisão”, ou seja, dar a conhecer aos munícipes o fundamento de cada decisão para que possam também eles decidir. Frisou a importância de um governo autárquico que atue considerando o interesse dos seus cidadãos, sem os desrespeitar, como a candidata considera que os políticos têm feito.
A candidata afirmou no discurso de apresentação que os partidos que têm ocupado o poder na Autarquia defendem interesses diferentes “mas partilham entre eles a visão do que deve ser a política”, ou seja a visão do poder político colocado à frente das pessoas.
Reforçou que o eleitorado deve ser tratado de forma digna, com respeito pelos seus interesses individuais, bem como pelas suas diferenças. Em relação à ideia da IL como um “partido dos ricos”, Mariana afirmou que militam na IL todo o tipo de pessoas, com vida mais fácil ou difícil, mas que estão unidas pela “vontade de mudar Portugal para melhor”. Afirmou que a Iniciativa Liberal quer salvar a Maia “dos donos da Maia”. Estão 4 mulheres como cabeça de lista, não por qualquer simbolismo por serem pessoas comuns “que querem o melhor para a Maia”.
Artigo da autoria de Filipe Pereira. Revisto por José Diogo Milheiro.