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Ciência e Saúde

TECNOLOGIA PORTUGUESA MEDE RADIOATIVIDADE DO TEJO EM TEMPO REAL

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O recém desenvolvido detetor de radioatividade projetado pelos investigadores Carlos Azevedo e João Veloso da Universidade de Aveiro (UA) foi instalado em março junto à central nuclear de Almaraz, na estação de monitorização de Arrocampo, permitindo análises em tempo real aos níveis de trítio das águas libertadas no arrefecimento dos reatores nucleares.

Projetado e desenvolvido no laboratório do Instituto de Nanoestruturas, Nanomodelação e Nanofabricação (I3N) do Departamento de Física da UA, o sistema deteta radioatividade por cintilação. Dessa forma, o detetor permite quantificar os níveis de trítio, isótopo do hidrogénio, que funciona como indicador da presença de outras partículas radioativas. O isótopo é produzido na água de arrefecimento da central nuclear quando os neutrões interagem com os núcleos de hidrogénio das moléculas de água, podendo atingir valores muito superiores àqueles que se verificam no ambiente (radioatividade natural e cosmogénica). Se os níveis de trítio ultrapassarem o valor definido pela norma europeia 2013/51/EURATOM para a concentração máxima (100 Bq/L) em água para consumo humano, é necessário realizar mais análises à água para verificar a presença de outros radioisótopos.

Antes da entrada em funcionamento do detetor, as análises aos níveis de trítio das águas libertadas pelos sistemas de refrigeração dos reatores nucleares eram realizadas em laboratório, demorando 3 a 4 dias a conhecerem-se os resultados devido a todos os procedimentos necessários (recolha das amostras, envio para laboratório, análises, tratamento dos dados e divulgação dos resultados). O detetor, agora em funcionamento e em fase de testes em Almaraz, possibilita uma monitorização com elevada sensibilidade e em tempo real dos níveis de trítio que, se ultrapassarem o valor limite definido, desencadeia um alerta imediato e uma mais rápida resposta com aplicação de medidas de contenção.

Para além da sua importância para a monitorização ambiental do rio Tejo, o detetor tem igualmente relevo ao nível da segurança da central. “A medição de trítio em tempo-real, para além de monitorizar o nível de radioatividade na água que retorna ao rio depois de passar pela central nuclear, pode ser usado como um alerta de eventuais problemas na própria central nuclear”, explica o investigador Carlos Azevedo.

Os investigadores João Veloso e Carlos Azevedo e o detetor de trítio.

Os investigadores João Veloso e Carlos Azevedo e o detetor de trítio. Fonte: Universidade de Aveiro.

O detetor de radioatividade foi desenvolvido no âmbito do projeto TRITIUM com financiamento obtido através do programa Europeu INTERREG-SUDOE. Para além da UA, participam neste projeto a Junta de Extremadura (Espanha), as universidades da Extremadura e de Valência (Espanha) e a Universidade de Bordéus (França). O principal objetivo do projeto era a construção de um detetor em tempo-real que conseguisse detetar baixos níveis de trítio na água e dessa forma monitorizar in situ os níveis de radioatividade dos rios que recebem água de centrais nucleares.

Apesar de, por enquanto, estar apenas a ser testado em Almaraz, o futuro do detetor pode passar também por outras centrais nucleares, uma vez que este novo dispositivo assegura a qualidade da água consumida e o respetivo abastecimento à população nos limites de radioatividade impostos pela legislação europeia.

 

Artigo por Mariana Miranda. Revisto por Ana Sofia Moreira.