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Opinião

O tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem

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Hoje saltou do meu baú de memórias o dia em que aprendi uma lengalenga nas aulas de português do 2º ciclo. Era assim: “O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. E o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.”.  Recordo-me do sorriso enternecedor, da vivacidade e do entusiasmo que a professora transmitia, como se mais do que um trava línguas, fosse uma filosofia de vida. Lembro-me de chegar a casa a cantarolar essa lengalenga numa mescla de pura diversão e ingenuidade.

Ainda sei essa ladainha de cor e salteado, porém hoje atribuo-lhe um significado e, de certa forma, encaro-a como um lema de vida.

Faço parte da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2012), que veio suceder aos Millennials – inicialmente apelidados de “preguiçosos”, por viverem em casa dos pais até mais tarde.

Somos a geração Z, respiramos tecnologia desde que viemos ao mundo, somos hábeis no “multi-tasking”, capazes de utilizar vários ecrãs em simultâneo, somos os mais familiarizados com o mundo dos emojis e estamos habituados a acompanhar a vida dos que nos rodeiam através das redes sociais. Não obstante, somos também considerados os mais tolerantes e ecologicamente conscientes, gostamos de causas e de lutar por aquilo em que acreditamos, temos vontade de trabalhar, de aprender, de ter novas experiências e de nos autoconhecermos. Mais realistas e conscientes do mercado de trabalho e das dificuldades inerentes do que a geração anterior, ambicionamos um equilíbrio entre a vida profissional e familiar. Prevemos que a idade da nossa reforma seja acima dos 70 anos, sabemos que uma maior esperança média de vida implica mais comorbilidades no fim de vida e, por conseguinte, damos mais importância à qualidade de vida e à valorização individual.

As estatísticas revelam que somos também a geração com níveis mais elevados de ansiedade e com dificuldade em desligar a wi-fi. Fãs número um do instantâneo, não gostamos de esperar, de todo. Achamos que, por vezes, os dias deviam ter mais de 24h, temos inúmeras tarefas e compromissos para cumprir. Os primeiros desta geração a ingressar no mercado de trabalho estão a fazê-lo durante uma pandemia global, o que certamente moldará e marcará as nossas perspetivas de vida e as lentes com que vemos o mundo.

Segundo o jornal online OBSERVADOR, estudos efetuados em plena pandemia revelam que uma grande percentagem das pessoas tem dificuldade em desligar do trabalho e separar a vida profissional/académica da pessoal.

Para onde caminhamos? Como podemos aproveitar a vida se achamos que estamos sempre com falta de tempo?

O tempo nunca vai deixar de ser um conceito um tanto abstrato, marcado pelas translações da Terra em torno do Sol. Resta-nos fazer escolhas, definir as nossas prioridades, optar pelo que nos faz felizes, ocupar o tempo junto das pessoas que nos preenchem o coração e encarar a vida com leveza. Há tempo para tudo, fases na vida para tudo e a efemeridade é algo que não podemos negar e compreender – compreender isso é um grande passo para a felicidade. Quando andamos a adiar um café com um amigo há séculos porque achamos que nunca temos tempo e é difícil conjugar os horários de ambos, não estamos mais do que a enganar-nos a nós próprios. Não sejamos pessoas cujos filtros impedem que se veja a vida com a nitidez que merece.

É preciso tempo para cultivarmos a pessoa que queremos ser, não sejamos negacionistas do tempo – o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem!

 

Artigo da autoria de Mariana Batista Maciel

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