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Crónica

HISTÓRIAS DE AMOR QUE NÃO CHEGARAM A ACONTECER

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Talvez aquela velhinha que se senta na paragem tenha perdido uma história de amor. Do lado oposto, na outra paragem, também está sentado um velhinho. E, ao vê-la do outro lado, curvada e pensativa, decide que talvez seja um bom dia para experimentar novos destinos – de qualquer das formas, não tem pressa em chegar a casa.

Mas, por distração dos deuses ou impaciência do destino, passa o autocarro dela naquele momento. Alheia ao senhor que se encaminha na sua direção, ela entra no 204, saco das compras na mão, olhar pesaroso. E os deuses resignam-se com mais uma história que não aconteceu.

Se recuarmos 15 segundos antes da senhora entrar no autocarro, apercebemo-nos que começa a chover e de que uma rapariga que estava na mesma paragem, no seu ímpeto habitual, decide correr para casa para ir buscar o guarda-chuva. Ela corre e entretanto o autocarro passa. A senhora entra, mas ela não. Talvez se não tivesse chovido naquele dia ou se ela não tivesse sempre a teimosia de andar de guarda-chuva, ele e ela ter-se-iam encontrado. No mesmo autocarro, em direção a faculdades diferentes (ou talvez à mesma, quem sabe). Mais um amor que não foi, mais um dia de chuva em que não se viram.

A tantos já aconteceu isto: caminham apressados, com vontade de chegar a casa, sem se aperceberem de quem passa. Aposto que se eles tivessem olhado um para o outro naquele dia, se teriam apaixonado. Às vezes faz falta uma mãozinha do destino, um leve empurrão da coincidência. Mas quando nem o destino nem as coincidências ajudam, só lhes resta esperar que, algures no autocarro, possam finalmente encontrar-se.

 (Escrito ao som de “Big Bird in a Small Cage” de Patrick Watson)

 

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