Política
O PAPEL DA MULHER POLÍTICA
Março é por excelência o mês dedicado às questões da emancipação feminina, razão pela qual a Academia de Política Apartidária (APA) decidiu dar a palavra a três reconhecidas deputadas portuguesas, para uma reflexão conjunta sobre o papel interventivo da figura feminina no panorama político.
A conversa começa com um pequeno enquadramento histórico da aquisição dos direitos das mulheres. Carla Martins, escritora e moderadora convidada do debate, inicia a cronologia no ano de 1911, em que uma mulher portuguesa, a sufragista Carolina Beatriz Ângelo, votou pela primeira vez; passa, ainda, pela Constituição de 1976, documento oficial que concede pela primeira vez o direito ao voto às mulheres portuguesas, e chega a 2006, ano em que é aplicada a lei da paridade, que obriga a que as listas à Assembleia da República sejam constituídas por, pelo menos, 33% de mulheres.
Após a exposição, as primeiras questões da moderadora são dirigidas a Ana Gomes: “É relevante que se discuta o papel da mulher na política?”, “A política tem género?”, “O género é relevante para o exercício de um cargo político?”. A eurodeputada do PS começa por explicar que a temática tratada lhe “diz muito” e reconhece que ainda existe discriminação, desigualdade de oportunidades (no que concerne a homens vs mulheres) e muitas dificuldades no exercício de cargos políticos realizados pelo sexo feminino. Continua o seu discurso realçando que a lei da paridade foi um avanço, mas diz acreditar que esta é meramente transitória e que, um dia, vai deixar de ser necessária. Por outro lado, realça que “as mulheres têm de se chegar à frente”, apesar de todas as dificuldades.
Às mesmas perguntas, Margarida Balseiro Lopes responde que a igualdade de género está num bom caminho, ainda que se faça a “passo de caracol”. Prossegue com uma reflexão no que toca ao simbolismo das datas de março, dizendo que o dia 8 (Dia Internacional da Mulher) é importante, mas que o dia 6 de março é ainda mais, pois celebra-se o dia da igualdade salarial. “Uma mulher tem de trabalhar mais 59 dias para ganhar o mesmo que um homem”, afirma.
“É fundamental discutir a igualdade?” foi a questão colocada a Joana Mortágua, à qual a deputada replicou que o poder político concedido às mulheres é um direito de cidadania: “Não há mulheres políticas sem haver mulheres cidadãs”. A deputada afirma que a política precisa de mulheres para ser representativa e vai mais longe: “precisa de mulheres como precisa de negros”. Joana Mortágua finda a sua intervenção acrescentando que não concorda com o facto de existir uma forma feminina de fazer política.
O rol de perguntas termina com o papel dos media na promoção ou despromoção da igualdade de género. A deputada do PSD garante que a comunicação social possui um papel muito importante, porém conota-o como sendo negativo, dando um exemplo concreto: o Expresso convidou um painel de 20 homens para comentar o Orçamento de Estado para 2016. De forma irónica, questiona se não existe, em Portugal, nenhuma mulher suficientemente competente para realizar tal comentário.
Sobre a mesma questão, Joana Mortágua concorda com a deputada do PSD, recordando um anúncio televisivo onde uma mulher era comparada diretamente a um “test drive” de um carro. Confronta, ainda, a audiência ao dizer que a sociedade, ao não fazer queixa destes anúncios, compactua diretamente com a promoção da desigualdade de género e inferiorização da figura feminina.
Por fim, as três deputadas congratulam que este tema seja promotor de convergências políticas, sendo que da esquerda à direita é consensual a urgência da igualdade de género. A única divergência quanto a este tema reside na forma como as medidas para atenuar as diferenças são aplicadas, mas, segundo as deputadas, também nesse campo são possíveis consensos.
Graça Raquel Soares
20 Mar 2016 at 17:22
Muitos parabéns! O artigo apresenta com grande clarividência as questões que mereciam ser tocadas, é sempre de grande importância trazer estas questões para cima da mesa, ainda mais numa época em que é crucial um empoderamento feminino mais ativo. Parabéns!