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Política

TURBULÊNCIA NA RELAÇÃO PORTO-TAP

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O desinvestimento da TAP no Aeroporto de Sá Carneiro e o comunicado da possibilidade do cancelamento de voos diretos do Porto para Barcelona, Bruxelas, Paris e Milão, estão a provocar descontentamento junto de várias entidades e personalidades, destacando-se entre elas Rui Moreira, o atual Presidente da Câmara do Porto.

Com o desaparecimento das quatro rotas mencionadas, passarão a existir apenas 12 rotas exploradas pela TAP a partir do Porto, contra quase cem que partem de Lisboa. O Porto acusa a TAP de cortar 70% das operações no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, ao que a empresa responde que após a perda de mais de 8 milhões de euros nas rotas que viriam a ser suspensas, não lhe restava outra opção.

Rui Moreira, o porta-voz da indignação deste processo, afirmou, em entrevista à VISÃO, que “a estratégia da TAP é contrária ao interesse nacional”. O presidente portuense acusa a transportadora aérea de servir outros interesses que não os do país e de “acelerar o esgotamento do aeroporto de Lisboa”.

Para Rui Moreira, a privatização da TAP é “um mau negócio” e considera que se tal acontecer, os acionistas estarão a “gerir mal a empresa” e que, por isso, tentará “causar o maior dano possível para que a TAP mude de opinião”.

Quando confrontado com uma afirmação sua proferida em abril do ano passado, onde desvalorizava a relação entre o Aeroporto Sá Carneiro e a TAP, o presidente justifica que na altura o desinvestimento da TAP no Porto “permitiu que o mercado tomasse conta daquilo que a TAP desprezava”, ao contrário do que acontece agora, onde há uma “redução drástica” dos investimentos no Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Rui Moreira acredita que o estatuto de “empresa de bandeira” da TAP ficará em causa, caso ela não seja uma “empresa de domínio público em termos estratégicos e definição de rotas e destinos”.

O Presidente da Câmara do Porto condena algo que considera ser “transversal a vários governos”: o investimento no sul do país. Rui Moreira afirma que “o Sá Carneiro não pode ser uma sucursal do Aeroporto de Lisboa” e confessa que lhe preocupam aqueles que não compreendem a sua revolta. Rui Moreira explica que “isto não é bairrismo” e que “bairristas são aqueles que pensam que só há interesse público no sítio onde vivem – e onde, às vezes, nem sequer nasceram – e que o resto do País é uma colónia”.

Questionado se estava perto de fazer um apelo ao boicote da transportadora aérea, o presidente negou a necessidade de fazê-lo, uma vez que o boicote já estava a ser feito devido ao “dano criado na reputação da TAP”. Rui Moreira afirma que a TAP “era um caso de afetividade”, mas que o Porto a estava a abandonar e aconselha os accionistas privados a, caso queiram “manter o que estão a fazer à TAP”, não irem ao Aeroporto Sá Carneiro. “Acabem, vão-se embora, deixem o lugar aos outros”, remata. Porém, avisa que fará “o possível para que a TAP não tenha o estatuto de bandeira”.

Uma questão transversal a toda a entrevista foi a do centralismo. Rui Moreira acredita que “o Império desapareceu, mas a estratégia colonial ficou. E aplicou essa estratégia ao País”. O presidente portuense elogia o Norte, que a seu ver é “bestial” e critica o facto de ser “sempre o Porto a fazer sacrifícios”. Para concluir, Rui Moreira afirma que não se sente “nada sozinho” na luta contra a TAP, contando com o apoio de várias “pessoas, entidades e autarcas”.

Foi nesta mesma entrevista que o autarca do Porto proferiu declarações acerca de Vigo que desagradaram o alcaide da cidade da Galiza e levaram à rotura de relações entre ambas as cidades. Rui Moreira, em relação ao pacote promocional de ligação entre Vigo e Portela que incluiria uma noite de hotel em Lisboa, afirmou que Vigo se sente como “a salsicha fresca dentro da francesinha, mas percebeu que há um senhor americano em Lisboa que tem uns aviões a hélice parados e pode mandá-los àquele aeroporto miserável que eles lá têm e trazer uns passageiros a dormir a Lisboa, acompanhados ou não, durante uma noite… Há cidades parceiras numas áreas e concorrentes noutras. Se Vigo tiver a oportunidade de tirar tráfego ao Porto de Leixões, também fará isso. É normal”.

Abel Caballero, o alcaide de Vigo, perante as declarações de Rui Moreira, avisou que não voltaria a participar no grupo regional Eixo Atlântico, que reúne as câmaras do noroeste de Portugal e da Galiza, até que Rui Moreira pedisse desculpa pelo que disse, algo que Rui Moreira ainda não terá feito.

Quanto às rotas que iriam ser suspensas, poderão já não o ser, ou pelo menos para já, uma vez que a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) aplicou esta sexta-feira medidas cautelares que impedem a tomada de decisões de “gestão extraordinária ou que tenham um impacto materialmente significativo no património, na actividade e na operação dessas companhias sem o acordo prévio da ANAC”, explica o comunicado do regulador.