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Sociedade

Confrontos em Paris após ataque racista

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A época natalícia francesa deste ano ficou marcada pela violência. No dia que antecede a véspera de Natal, dia 23, um homem de 69 anos matou três pessoas e feriu outras duas narua de Enghien, no 10.º Bairro parisiense,  junto de uma associação cultural curda. William M., o atirador, também saiu ferido em resultado do tiroteio. Uma testemunha de uma das lojas em redor relatou o pânico à agência noticiosa France-Presse (AFP):

Sete a oito tiros na rua, foi o pânico total, ficamos trancados lá dentro [da loja] -Anónimo

O suspeito foi, posteriormente, detido e a sua identidade fez soar alguns alarmes. Ao que tudo indica, o maquinista reformado já era conhecida pelas autoridades francesas.  William já estava a ser investigado por crimes de índole racista, sendo um deles um ataque a um campo de migrantes. O atirador enfrenta, agora, múltiplas acusações, entre elas a de homicídio na forma tentada, estando o ataque a ser considerado um crime de ódio.

As manifestações encheram as ruas de Paris. Fonte: Julien De Rosa / Afp

Não tardou até que os protestos se alastrassem por várias ruas de Paris. O que começou por serem manifestações pacíficas da comunidade curda, rapidamente escalou para a violência. A tensão começou quando os protestantes se depararam com um cordão das forças policiais a proteger Gérald Darmanin, o ministro da Administração Interna. A polícia usou gás lacrimogénio para dispersar a multidão, ao passo que esta erguia barricadas e queimava latas de lixo.

O Natal não fez abrandar os atos de violência, tendo os protestos voltado às ruas no dia 24 de dezembro. No meio dos manifestantes, têm-se juntado também indivíduos que aproveitam os momentos de tensão para roubar e causar ainda mais confusão. No total, e até agora, cinco polícias ficaram feridos.

A revolta da comunidade curda incide em duas frentes: França e Turquia. Do lado europeu, uma das vítimas, Emine Kara, já tinha pedido asilo político, mas este foi “rejeitado pelas autoridades francesas“. O crescimento do discurso islamofóbico no país é também uma das causas da agitação dos curdos.

No que diz respeito à Turquia, o país apresenta um longo historial de tensão com os curdos, que representam cerca de 20% da população da Turquia. De maioria muçulmana sunita e sem Estado próprio (estando distribuídos pela Turquia, Arménia, Irão, Síria e Iraque), os curdos há muito que “lutam por maior autonomia política e cultural“. Em 1984, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) iniciou uma uma luta armada pela independência que terá vitimado cerca de 40 mil pessoas. O cessar-fogo foi acordado em 2013, mas dois anos depois sucedeu-se um novo ataque e, desde então, a tensão nunca abrandou.

A comunidade curda acusa a Turquia de ter ordenado o ataque, tendo o Conselho Democrático Curdo na França, CDKF, declarado numa conferência de imprensa que:

A situação política na Turquia e os desenvolvimentos políticos relativos ao povo curdo levam-nos claramente a crer que se trata de assassinatos políticos” -Conselho Democrático Curdo

Por outro lado, Recep Tayyip Erdogan, um conselheiro especial do Presidente turco veio, no Twitter, culpar o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) pelo acontecimento:

“Este é o PKK em França, a mesma organização terrorista que vocês apoiam na Síria. O mesmo PKK que matou milhares de turcos, curdos e forças de segurança nos últimos 40 anos. Agora estão a queimar as ruas de Paris. Vão continuar em silêncio.”

Artigo por: Amália Cunha

Revisão por: Carina Seabra