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Guia (académico) de Sobrevivência

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Para que servem?

As citações bibliográficas servem diversos propósitos:

– Permitir ao leitor consultar os trabalhos originais, não só para aprofundar o tema tratado, mas também para verificação da veracidade e precisão da interpretação dos dados e informações originais;

– Atribuir crédito aos autores originais e reconhecer os vários trabalhos e publicações que suportaram o trabalho agora desenvolvido;

– Indicar descrições exaustivas de certos métodos, evitando repetições desnecessárias em todas as publicações científicas;

– Identificar recursos extensivos sobre um tema específico, que pode ser do interesse do leitor, ainda que não explorado no artigo em questão;

– Construir métricas de publicação e carreira científica: o índice H, por exemplo, que corresponde ao X número de artigos com X citações de um certo autor, é uma métrica comum de avaliação de carreira de um Investigador Científico.

Estilos de Referências

Nem todas as referências são iguais, ou fornecem o mesmo tipo de informação. Para além de haver formas específicas de nos referirmos a diferentes tipos de fontes (artigo em revista científica, dissertação de doutoramento, capítulo de livro, artigo em conferência, website, software, patente, entre outros), cada publicação científica tem o seu próprio estilo de referência. Os estilos afetam não só a formulação final das citações, normalmente encontrada no fim de um texto académico, mas também a forma como são indicadas ao longo do texto. Por exemplo 1, [2,3] ou até (Magalhães et al, 2022).

Um dos estilos mais conhecidos é o APA (American Psychological Association), usado principalmente na engenharia, educação e ciências sociais. Este é um estilo do tipo autor-data, que refere o último nome de um autor e o ano de publicação.

O CSE (Council of Science Editors) é um dos estilos típicos nas ciências exatas e da vida. Uma das principais diferenças é que, nas referências embutidas no texto,o APA contém apenas o apelido do primeiro autor (Magalhães et al), enquanto que segundo o estilo CSE todos os autores são mencionados (Magalhães and Martins). Nestes casos, o ano da publicação é sempre mencionado, o que já não acontece nas referências do texto segundo o estilo AIP (American Institute of Physics), que usa apenas números (1) para indicar referências no texto.

Apesar de um conhecimento geral de estilos de referências ser útil a qualquer investigador, não é de todo necessário saber estas regras e diferenças de cor. Para além de cada estilo ter guias muito compreensivos, a melhor forma de inserir referências num texto é recorrendo a um gestor de referências, que contém grande parte dos estilos mais comuns. E as boas notícias não ficam por aqui – é sempre possível adicionar estilos novos, sejam criados por nós ou fornecidos pelas publicações científicas a que pretendemos submeter os nossos trabalhos.

Gestores de Referências

A lição principal que devem retirar deste artigo é: Não Se Adicionam Referências à Mão!

Os gestores de referências existem não só para se poder organizar e armazenar a bibliografia, mas também para que esta seja adicionada no texto de forma automática e estandardizada. Ao usar um gestor de referências associado ao software em que se está a escrever o artigo, garante-se que estas mantêm sempre a ordem certa (ou seja, são referidas pela ordem que aparecem no texto), mesmo que inseridas fora de ordem. Para além disto, um gestor permite garantir que não se está a repetir referências, e que se está a citar a fonte que efetivamente foi consultada.

O próprio Microsoft Word tem um plugin para adicionar referências incorporado, mas que não nos permite armazená-las e consultá-las, nem associá-las a documentos independentes (por exemplo pdf) com anotações ou sublinhados. Para isto existem os gestores externos, que podem ser incorporados no Word, e alguns até no Google Docs, permitindo um trabalho coletivo.

Atualmente, vários gestores com diversas características estão amplamente disponíveis, dos quais  se apresentam três dos mais populares:

  1. EndNote

O EndNote, lançado originalmente em 1988, é um dos gestores mais populares e utilizados em todo o universo académico. Nesta lista, é o único cuja licença é paga (cerca de 300 $ por ano), mas várias universidades, incluindo a Universidade do Porto, oferecem licenças académicas. Para além disto, a versão para a web do gestor (EndNote basic) é de utilização grátis. Está disponível para Windows e MacOS, e permite sincronização com mais do que um dispositivo. Inclui leitor de pdf, que permite a adição de notas pesquisáveis. Apesar de permitir integração com algumas plataformas e dispositivos, a limitação de não ser grátis constitui, frequentemente, uma barreira ao uso coletivo e partilha de referências entre diferentes elementos de um grupo de investigação, por exemplo.

  1. Mendeley

Uma das grandes vantagens do Mendeley é ser open-source, ou seja, grátis. Lançado em 2008, pertence atualmente à Elsevier, e pode ser usado online (como plug-in do browser) ou instalado localmente. Exige a criação de conta e está disponível para Linux, Windows e MacOS. Para além de permitir a criação de pastas individuais, facilitando a organização dos artigos, tem também a opção de criação de grupos com outros membros e contas, possibilitando o trabalho coletivo. Permite a integração de ficheiros pdf nas referências e as anotações e sublinhados feitos nos documentos são pesquisáveis, ainda que não exportáveis. Contém 2 GB de armazenamento grátis de documentos integrados com o gestor, que pode ser aumentado mediante a necessidade.

  1. Zotero

Lançado em 2006, o Zotero é um gestor de referências grátis e cada vez mais popular, principalmente pela facilidade com que pode ser integrado com outras ferramentas. Existem inúmeros plug-ins que potenciam as suas funcionalidades. Está disponível para Windows, MacOS e Linux, e a nova versão poderá também ser utilizada em IOS. Tem um plug-in que pode ser instalado no browser, permitindo a adição automática de artigos e integração com sistemas de armazenamento como a Google Drive e a Dropbox. Ou seja, os ficheiros em pdf associados às referências podem estar armazenados nas clouds dos utilizadores, permitindo acesso independente do dispositivo, já que o armazenamento no próprio gestor é local. Apesar de ainda não ter leitor de pdf próprio, a nova versão (já disponível em beta) irá conter esta característica. Finalmente, o Zotero pode ser utilizado em Google Docs, permitindo trabalho colaborativo e no browser, algo que não acontece no Mendeley e no Endnote.

Rapidamente se conclui que todos os gestores têm vantagens e desvantagens inerentes às pequenas diferenças entre cada software. Como tal, o ideal será explorar e experimentar vários, de forma a perceber o que funciona melhor para cada um. Este processo é facilitado pela possibilidade de exportar e importar as bibliotecas de referências entre gestores.

Onde Encontrar Referências Bibliográficas

Esclarecidos em relação à função e estilos de referências disponíveis, e já com um gestor instalado, resta uma questão: Onde encontrar referências? Os três gestores mencionados permitem pesquisa e integração direta através do DOI dos artigos, o que facilita largamente o processo. No entanto, não é incomum que certos artigos mais recentes ou pertencentes a certas publicações não sejam encontrados facilmente desta forma, exigindo integração externa. Para isto, os próprios sites dos artigos podem ser utilizados para exportar as referências, com vários formatos disponíveis, que podem, consequentemente, ser importadas para o gestor em uso. Outra opção que substitui o uso de um site particular para cada artigo ou publicação é recorrer às bases de dados de artigos, como a Web of Science ou o Scopus.

A proficiência e o uso diário de um Gestor de Referências adequado às nossas características e necessidades facilita o processo de criação de uma bibliografia e garante que está sempre impecável, sem que para isso tenhamos de perder muito tempo.

Texto por Rita Prata Magalhães. Revisto por Maria Teresa Martins.