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Desporto

HISTÓRIAS DO FUTEBOL: DÉCIMO ANIVERSÁRIO DE GELSENKIRCHEN

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Faz hoje, dia 26 de Maio, dez anos desde a vitória do Futebol Clube do Porto na Liga dos Campeões da época de 2003/2004. O clube portuense defrontou e derrotou o AS Monaco por esclarecedores 3-0, com os golos a serem marcados por Carlos Alberto, Deco (considerado o homem do jogo pela UEFA) e Dmitri Alenitchev.

Antes desta final, a última presença do FCP na decisão da principal competição de clubes uefeira fora na temporada de 1986/1987. A equipa francesa estava a disputar a sua primeira final da Liga dos Campeões de sempre. Os adversários mais temíveis que estas formações tiveram que derrotar nas fases a eliminar foram duas instituições campeãs europeias por diversas vezes. Os portugueses derrotaram o Manchester United nos oitavos-de-final (2-1 e 1-1). Já os franceses venceram os madrilenos do Real nos “quartos”. Tendo de recuperar de uma desvantagem de 4-2 trazida do Santiago Bernabéu, os monegascos venceram por 3-1 perante os seus adeptos, apurando-se através da regra de desempate por golos fora.

Estes dois conjuntos, não considerados favoritos no início da prova, eram comandados por treinadores muito jovens. No Monaco, Didier Deschamps era um antigo campeão do mundo pela França em 1998. No FCP, o timoneiro era José Mourinho, já com um currículo considerável como tradutor e adjunto no Barcelona. Apesar de ter conquistado a Taça Uefa no ano anterior, Mourinho era ainda um técnico pouco experimentado nos grandes palcos europeus.

Os azuis e brancos jogaram no seu sistema habitual, o 4x4x2 losango. Na baliza Vítor Baía; na defesa Nuno Valente, Ricardo Carvalho, Jorge Costa e Paulo Ferreira; no meio campo jogaram Costinha como pivot defensivo, Maniche e Pedro Mendes como médios centro e Deco como organizador de jogo; no ataque Carlos Alberto no apoio ao avançado centro Derlei. Entraram ainda Alenitchev, Benni Mccarthy e Pedro Emanuel. Como suplentes não utilizados temos o guarda-redes Nuno, Ricardo Costa, José Bosingwa e Edgaras Jankauskas. O Monaco jogou no seu 4X3X3 usual, com Flávio Roma na baliza; defesa a 4 com Evra, Givet, Rodriguez e Ibarra; no meio campo Zikos, Bernardi e Cissé; os 3 da frente eram Rothen, Giuly e Morientes. Como suplentes: Tony Sylva, Squillaci, Plasil, El Fakiri, Dado Prso, Nonda e Emmanuel Adebayor.

Os aspectos mais impressionantes desta final prendem-se com a eficácia azul e branca. O Futebol Clube do Porto fez 3 remates em todo o jogo e marcou 3 golos. O Monaco efectuou 7 “tiros”, nenhum deles na direcção da baliza. O mesmo acontecera no ano anterior, na final da Taça UEFA em Sevilha. O Porto tinha tido 100% de eficácia, visando a baliza por 3 vezes e concretizando novamente 3 golos. Estes números explicitam bem a consistência da equipa ao longo destes dois anos em que fora orientada por José Mourinho.

A vitória do FCP nesta competição foi um feito notável. Importa salientar que, desde o sucesso do Borussia Dortmund em 1996/1997, nenhuma equipa fora do grupo dos grandes colossos europeus havia vencido. E, para encontrarmos um clube que não figure nas quatro melhores e financeiramente mais poderosas ligas europeias, temos de recuar ainda mais até ao Ajax de 1994/1995.

Com a derrota anteontem do Atlético de Madrid, cumpre-se uma década onde apenas os “tubarões” das mais ricas ligas levantaram a taça da Liga dos Campeões. Temos Espanha com 4 taças, Inglaterra com 3, Itália com 2 e Alemanha com 1. Estes números demonstram, sem margem para dúvidas, que esta é uma realidade muito difícil de contrariar. A ameaça a este incontestado domínio vem sobretudo dos investimentos “estratosféricos” feitos pelas oligarquias russas ou pelos principados árabes no futebol, mais concretamente nas ligas francesa ou russa.

Será que alguma vez mais iremos ver o Futebol Clube do Porto ou um clube de dimensão semelhante erguer esta magnífica taça? Nunca no futebol, tal tarefa foi tão difícil e improvável.

Nota Biográfica: David Guimarães escreve semanalmente sobre acontecimentos históricos do mundo do futebol.

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4 Comments

4 Comments

  1. Raquel Moreira

    27 Mai 2014 at 15:32

    Interessante esta rubrica sobre história do futebol. Para que a memória não se perca e se evitem equívocos.
    Espero que o improvável aconteça e que neste caso a história se repita.
    Continua!

  2. joao barbosa

    28 Mai 2014 at 0:41

    De facto torna-se cada vez mais dificil vingar na 1a divisão europeia! ultimamente, apesar da vitoria na LE em 2011, nem a fase grupos temos passado com regularidade! o que parecia tao basico com o prof.jesualdo ferreira(passou 4 em 4, 2 vezes em 1º, sendo que foi sempre pote 2 , ao contrario dos ultimos anos que temos sido pote1) agora parece mais dificil! no entanto os exemplos de borussia e atletico devem dar-nos esperança para o futuro! acredito que podemos levantar a taça( e não, não estou nada interessado em ir somente à final, isso deixamos pra outros, as finais fizeram-se para as ganhar!)
    como disse uma vez mourinho INESQUECIVEL, MAS QUE NINGUEM NOS DIGA IRREPETIVEL!!

  3. Carlos Martins

    1 Jun 2014 at 1:45

    Olhando para trás, é realmente notável o que essa grande equipa do FC Porto, orientada pelo Mourinho, conseguiu conquistar em apenas duas épocas. O que acho mais incrível é ver que o FC Porto jogou a final de Gelsenkirchen com 9 portugueses no onze inicial (Deco é luso-brasileiro) e apenas 2 estrangeiros (Derlei e Carlos Alberto).

    Nos últimos anos, diminuiu drasticamente a utilização de jogadores portugueses pelo FC Porto. Na época que agora terminou, por exemplo, jogámos normalmente só com 2 portugueses a titulares.

    Quanto à possibilidade de voltarmos a vencer a Liga dos Campeões, todos sabemos que é difícil. Mas que ninguém diga irrepetível!!!

  4. Pedro Marques Pinto

    3 Jun 2014 at 17:10

    Meu caro David,

    Sem dúvida que o 26 de Maio de 2004 foi um dia memorável para a história europeia do Futebol Clube do Porto. Uma final equilibrada, muito bem disputada, sem sobressaltos a apontar, jogada entre duas equipas que, como referes, não sendo propriamente “colossos” do futebol europeu, foram as que apresentaram maior eficácia e consistência ao longo do caminho que percorreram pela Liga milionária há uma década. E esse foi um feito importantíssimo para duas equipas de reduzida dimensão e baixos orçamentos, quando comparadas com as principais ligas de futebol europeias. Foi, podemos dizer, uma final atípica, na qual duas equipas subalternas conseguiram romper com o discurso dominante e técnico-táctico dos eternos favoritos europeus, dentro e fora do terreno de jogo. E, recorde-se, o Porto e o Mónaco tinham duas excelentes equipas, jogadores competentes e dois treinadores de enorme qualidade. Em suma, uma final justíssima que há de permanecer na memória de portistas e monegascos e nos anais históricos da UEFA. Não sei se o Porto ou qualquer outra equipa, digamos, não favorita numa competição europeia, poderá, dentro de dez anos, erguer novamente um troféu resplandecente de prata.

    Na nossa Europa actual, politicamente, as grandes decisões tendem formular-se entre países do sul e países do norte, entre ricos e pobres, desenvolvidos e em crise, países periféricos e do centro. O futebol já provou, por inúmeras vezes, que este discurso pode ser subvertido. Mas a ver vamos o que a história nos reserva.

    Um abraço amigo

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