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Desporto

Hóquei em Patins: 37 anos depois, o FC Porto volta a sorrir na Taça Continental

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A época até começou com um dissabor para os portistas, que, no primeiro jogo oficial da temporada, perderam frente ao SC Tomar (Sporting Clube de Tomar) para a Elite Cup, troféu que haviam vencido no ano transato. Ainda assim, os dragões chegaram ao primeiro teste europeu como a equipa a bater, na busca de “pôr as mãos” numa taça que escapava desde 1986, altura em que bateu a AD Sanjoanense (Associação Desportiva Sanjoanense) por 9-3 e 3-4, quando a competição ainda se chamava Supertaça Europeia e era disputada apenas entre dois clubes.

Avalanche na primeira parte carimbou a passagem frente ao HC Braga

O primeiro desafio que o FC Porto teve nesta final-four foi o HC Braga (Hóquei Clube de Braga), finalista vencido da WSE Cup de 2022/23, e orientado pelo único treinador português triunfante nesta competição, Tó Neves. Apesar disso, depressa se percebeu que os dragões não estavam com meias medidas, e precisaram apenas da metade inicial para cavar um fosso irremediável para os minhotos.

Logo a abrir, Ezequiel Mena inaugurou o marcador com remate certeiro para o lado direito da baliza, após assistência perfeita de Gonçalo Alves, que ganhou bola dividida e entregou de bandeja para o argentino finalizar. Não tinham decorrido 2 minutos, e o marcador já estava ativo (1-0).

Depois de oito minutos com ascendente do conjunto “azul e branco”, a bola voltou finalmente a entrar aos 10 minutos, com Hélder Nunes a rasgar pelo lado direito e a disparar um cruzamento-remate venenoso, desviado por Rafa à boca da baliza. 2-0 era o resultado, e ainda nem estávamos a meio da primeira parte.

O rolo compressor não tinha travão e, dois minutos e meio depois, Roc Pujadas aproveitou erro defensivo dos minhotos para celebrar o 3-0. Os guerreiros perderam a bola em posição proibida, deixando o jovem espanhol na cara de Nélson Filipe, que acabou serpenteado e estendido com o esférico no fundo da baliza.

A partir desse momento o jogo tornou-se mais dividido, mas a eficácia dos portistas manteve-se em alta num encontro em que tudo lhes saía bem. Gonçalo Alves, o novo capitão após saída de Reinaldo García, “desfez” a bola em remate cruzado do meio da rua, sem hipótese para Nélson Filipe. O placar ilustrava esclarecedores 4-0 no marcador.

E não foi preciso esperar muito para mais um golo do camisola 77, recentemente melhor marcador do Campeonato da Europa. Com um movimento a partir de trás da baliza, o internacional português executou uma “picadinha” exemplar para selar os 5-0 ao intervalo.

No segundo tempo, o FC Porto geriu a liderança no marcador e manteve-se no controlo das operações. Miguel Henriques ainda reduziu de grande penalidade para a menos cotada das equipas portuguesas, aos 13 minutos da segunda parte, mas viu Telmo Pinto aproveitar uma bola discutida por Rafa para fechar o resultado final: 6-1 e os pupilos de Ricardo Ares a 50 minutos da vitória.

Final de levar as mãos à cabeça

Depois de uma meia-final resolvida de maneira sucinta, o mesmo não se esperava do desafio seguinte. A jogar no Pavilhão Oliveras de la Riva, o conjunto “azul e branco “ tinha pela frente os vencedores da WSE Cup em 2023 e a equipa da casa – os espanhóis do CP Voltregà (Club Patí Voltregà), que bateram tranquilamente o AD Valongo (Associação Desportiva Valongo), por quatro bolas a zero.

O jogo começou bastante equilibrado, com ambas as equipas a tentar chegar ao golo. No entanto, e depois de Gerard Teixidó dispor da primeira chance, de bola parada, foi o FC Porto quem se adiantou no marcador. Gonçalo Alves com um movimento “em colher” descobriu uma brecha desprotegida da baliza de Miguel Estrada e inaugurou o resultado (1-0).

Não obstante, os dragões voltaram a ser penalizados com nova falta para cartão, desta vez para Hélder Nunes, e contemplaram o empate surgido do stick de Jordi Burgaya, que esperou que Xavi Malián fizesse a mancha para fazer passar a bola por trás das suas costas. Estava reposta a igualdade com 1-1 no placar, com 16 minutos ainda para se jogar.

Só que, durante esse período, as muitas oportunidades nunca se chegaram a traduzir em golos. Miguel Estrada, guardião da equipa dos nuestros hermanos foi sempre intrespassável e negou várias iniciativas dos campeões em título da WSE Champions League. Foi, ainda assim, Xavi Malián quem impediu o pior no final do primeiro tempo quando, a 36 segundos do fim, se opôs a grande disparo de Didac Alonso. Ao intervalo, tudo na mesma com um golo para cada lado.

O segundo período começou como terminara o primeiro: oportunidades para ambos os lados e muita intensidade na pista. Foi só a cerca de 12 minutos do fim que o ketchup se abriu – Gonçalo Alves, em incursão pela direita, serviu o companheiro Hélder Nunes, que, subtil e sagazmente deixou os dragões no comando da partida (2-1).

E depois de a comitiva da casa dar de cabeça com o ferro da baliza de Xavi Malián, Didac Alonso carregou Mena em falta que se traduziu em livre direto para os dragões. Dessa marca, o capitão portista fez aquilo que melhor sabe – marcar. A força de todos os portistas concentrou-se numa “stickada” da autoria de Gonçalo Alves, que atirou a contar para fazer o 3-1 e deixar os “azuis e brancos” com a faca e o queijo na mão a sete minutos do fim.

Todavia, o grande golpe de teatro ficou para o final. Em menos de um minuto, a equipa do CP Voltregà faturou em dose dupla e gelou o clube português, para delírio das bancadas. Primeiro foi Àlex Rodríguez que rematou para toque fatal de Jordi Burgaya e depois, a um minuto e 48 segundos do fim, Gerard Teixidó encheu-se de fé para arriscar um remate a meia distância e quebrar a resistência de Xavi Malián que ainda resvalou no esférico, mas foi insuficiente para intercetar a bola. Quando já poucos acreditavam, 3-3 no marcador.

Só que, quase como se de um sórdido guião se tratasse, o jogo, que mais parecia um filme, foi de terror para os espanhóis nos instantes finais. Depois da hercúlea recuperação adversária, Edu Lamas impôs a sua envergadura e furou pelo meio descobrindo Rafa, que foi aguçado na sua finalização entre os jogadores adversários. Estava devolvida a vantagem aos dragões, que silenciaram os adeptos vizinhos.

Por fim, e já em esforço final, o conjunto de Lluís Teixidó “meteu a carne toda no assador” e lançou-se para a frente com os seus cinco elementos, deixando a baliza desguarnecida. Aproveitou Hélder Nunes que, depois de recuperar a bola, encontrou uma baliza deserta para respirar de alívio e colocar um ponto final nesta montanha-russa de emoções – 5-3 era o resultado final, e o FC Porto podia finalmente festejar a conquista da WSE Continental Cup.

Com este triunfo, Ricardo Ares, técnico que foi recentemente galardoado com um Dragão de Ouro, destronando Sérgio Conceição como treinador do ano, completa a galeria de troféus conquistados ao serviço dos “azuis e brancos”. Cimenta assim o percurso fenomenal que tem feito pelo FC Porto, que, de resto, defronta o Famalicense AC (Famalicense Atlético Clube) no próximo dia 5 de outubro, em encontro a contar para a primeira jornada do Campeonato Nacional.

Artigo da autoria de João Pedro Pereira