Hóquei em Patins: Do céu ao inferno. FC Porto desperdiça vantagem e sai de cena no campeonato

Depois de quatro jogos em que a vitória sorriu sempre à equipa da casa (e de forma expressiva por, pelo menos, três golos), os “azuis e brancos” entraram em pista cientes da árdua missão que seria derrubar o líder da fase regular, o SL Benfica (Sport Lisboa e Benfica). Foi, no entanto, através dos próprios deslizes que os ainda campeões nacionais em título deixaram escapar o sonho da final entre as mãos.

Primeira parte pautada pelo respeito mútuo

Era a primeira vez, ao fim de quatro partidas, que a equipa encarnada se via sob a pressão de poder perder o campeonato, o que justificou uma maior cautela no seu plano estratégico, ainda que o FC Porto não estivesse numa situação mais confortável, jogando fora ao som de uma banda sonora ensurdecedora de adeptos benfiquistas. E se, ainda antes do primeiro minuto, houve uma ameaça impedida pelo ferro oriunda do stick de Nil Roca, o resto dos primeiros 25 minutos foi sobretudo de expectativa de parte a parte, à espera do erro adversário.

Neste sentido, não houve grandes oportunidades de destaque nem para um lado nem para o outro, ainda que fosse o SL Benfica a tomar a iniciativa na maior parte do tempo, domínio esse que não se refletiu em ocasiões perigosas. Apesar desse facto, os encarnados pressionaram os portistas a cometerem mais faltas. Foi assim que, e encontrando-se “à bica” no capítulo das infrações, os dragões se impulsionaram na busca do tento que vieram a encontrar ao décimo sétimo minuto de jogo, por via de Ezequiel Mena. O campeão do mundo fez valer o seu virtuosismo para concluir a jogada iniciada por Gonçalo Alves e colocar os “azuis e brancos” em vantagem ainda antes da décima falta aparecer. 0-1 no marcador, e o FC Porto a demarcar o ascendente na partida.

Ascendente esse que só aumentou quando, quase três minutos depois, Roc Pujadas entrou de maneira faltosa sobre Carlos Nicolía mas este, na conversão do livre direto, não soube aproveitar e viu Xavi Malián negar-lhe o sabor do golo em três momentos. Alívio para a formação orientada por Ricardo Ares a contrastar com o desalento da equipa da casa.

No entanto, tal estado de amargura viria a durar pouco já que, e logo após os dragões terem criado um par de chances perigosas, Carlos Nicolía executou um cruzamento-remate em tudo semelhante à jogada de Ezequiel Mena no lance do golo portista para Pablo Álvarez desviar de forma fatal e introduzir a bola no fundo da baliza “azul e branca”. Estava feito o empate com a tensão a pulsar a ritmo acelerado uma vez mais (1-1).

Até final, Telmo Pinto ainda acertou na barra a 105 segundos do fim após um desvio magistral a passe de Ezequiel Mena, tendo ficado a escassos centímetros do golo que devolveria a vantagem aos portistas, os quais, deste modo, recolheram aos balneários com tudo por decidir no segundo tempo em função da igualdade a um que expressava o placar.

A diferença entre luxo e lixo

De regresso ao recinto, os jogadores de Ricardo Ares não podiam ter pedido melhor início: logo aos 30 segundos, falta de Lucas Ordoñez sobre Carlo di Benedetto, cartão azul para o internacional argentino e livre direto a favor do FC Porto que, por intermédio de Gonçalo Alves, chegou ao 1-2 que Telmo Pinto havia ameaçado no fechar dos primeiros 25 minutos. O avançado português ainda permitiu, num primeiro momento, a intervenção de Pedro Henriques, mas este já nada pôde fazer aquando da recarga sublime em forma de “picadinha” do número 77 portista. Voltavam os “azuis e brancos” a ter o comando da partida, estando o SL Benfica a apenas duas faltas de conceder novo livre direto.

No entanto, a tal décima falta nem foi necessária quando, após Roberto di Benedetto (irmão de Carlo di Benedetto) ter falhado o alvo de forma escandalosa, Nil Roca fez a sua melhor imitação de Lucas Ordoñez e rasteirou o dianteiro nortenho, Gonçalo Alves, originando novo livre direto em função da exibição do cartão azul por parte do árbitro.

Todavia, a infração que poderia ter-se revelado decisiva para o FC Porto (uma vez que, a converter o livre, ficaria com vantagem de dois golos, estando a comitiva encarnada a outras tantas faltas de conceder nova oportunidade), tornou-se num autêntico pesadelo para os visitantes. Pedro Henriques, o atual titular da seleção nacional efetuou uma enorme parada e, no seguimento, Lucas Ordoñez compensou o erro anterior, ao empatar o encontro a duas bolas num lance individual em situação de underplay. Tudo de volta à estaca zero, com as águias a terem total superioridade no capítulo psicológico.

Superioridade essa que se veio a materializar em golos, consumando a cambalhota dos encarnados no marcador. Em menos de dois minutos, a equipa da casa aproveitou o desamparo dos dragões e o calor que se fazia sentir no Pavilhão Fidelidade para cavar um fosso de dois golos, após disparos certeiros de Roberto di Benedetto e Gonçalo Pinto, respetivamente. 4-2, ilustrava o marcador, que espalhava bem a frustração dos “azuis e brancos”.

E se a situação já estava má, pior ficou quando, a dez minutos e meio do fim, Roberto di Benedetto voltou a faturar na sequência do passe de Diogo Rafael. A vantagem era agora ainda mais confortável, numa altura em que a deceção estampada nos rostos dos elementos portistas era quase mais ensurdecedora que o ruído vindo das bancadas (5-2).

Pouco tempo depois, o SL Benfica dispôs de nova ocasião para dilatar a diferença depois de o FC Porto cometer a décima quinta falta, mas Pablo Álvarez não fez melhor que o seu compatriota, deixando uma réstia de esperança para os visitantes. Esperança esta que aumentou dois minutos depois quando, de grande penalidade, Gonçalo Alves voltou a não tremer e atirou em cheio para o canto inferior direito de modo a reduzir para 5-3 a desvantagem portista.

Neste sentido, e estando as águias “à bica” em termos de faltas, a situação de preocupação e nervosismo só disparou quando, a pouco menos de sete minutos do fim, Roc Pujadas foi carregado por Roberto di Benedetto, tendo este sido punido com cartão azul. No entanto, clássico que é clássico não vive sem polémica, e foi aqui que esta estalou. Após Gonçalo Alves ter celebrado o seu remate bem-sucedido, os protestos da formação lisboeta acumularam-se e a equipa de arbitragem reverteu a decisão por entender que o internacional português se tinha antecipado à autorização do juiz. Certo é que o penálti foi repetido e, desta vez, Pedro Henriques levou a melhor.

Ainda assim, e com algum tempo para jogar, os dragões agarraram-se com tudo o que tinham e o que não tinham para ir atrás do resultado. Carlo di Benedetto, após jogada “às três tabelas”, acabou mesmo por conseguir desviar o esférico para lá da linha de golo e diminuiu para um a distância dos portistas para os encarnados, que, mais do que nunca, temiam agora o desfecho do encontro (5-4).

Tudo ficou por desvendar quando, a 96 segundos do fim, o FC Porto beneficiou da décima falta do SL Benfica e consequente livre direto, o qual ficou ao encargo de Carlo di Benedetto. No auge do êxtase, e com Pedro Henriques estendido no chão, o francês não fez melhor do que um toque rasteiro à figura, que deitou por terra quase todos os esforços empregues na recuperação. A machadada final veio na sequência de Telmo Pinto, que descarregou a frustração cometendo falta e sendo excluído da partida. Com os olhos postos na fase derradeira do Campeonato Nacional, Lucas Ordoñez não fraquejou e bisou na partida para selar o marcador em 6-4 e carimbar a passagem à fase seguinte.

Termina desta forma a época para os dragões, que se despedem com a conquista histórica da WSE Champions League, bem como da Elite Cup (tendo ultrapassado o SL Benfica em ambas as competições), ficando pelo caminho nas semi-finais da Taça de Portugal (frente ao SC Tomar – Sporting Clube de Tomar) e também no campeonato. Já o SL Benfica fica a três triunfos de somar o título da primeira divisão ao de vencedor da Supertaça António Livramento. Para tal, terá que derrotar o Sporting CP, estando a primeira partida agendada para dia 8 de junho.

Artigo da autoria de João Pedro Gomes