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Crítica

tão perto quanto importante

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Do diretor Lukas Dhont, Close (2022) prova como o universo das crianças pode ser cruel sem que estas tenham a mínima consciência do que realmente se passa nele. Esta obra poderosa e sensível pondera o quão brutal as reproduções sociais conservadoras, fortemente presentes nas performances heteronormativas, seguem violentando as nossas crianças até hoje.

Entretanto, acima de tudo, Close versa sobre o papel do amor, carinho e afeto na confusão que é o rompimento da segunda infância. Tudo isso em cores vibrantes que exalam o frescor de uma fotografia de fazer os olhos brilharem.

No longa, acompanhamos a história de dois amigos muito próximos, Leo e Rémi, ambos com 13 anos. Mundos imaginários, campos de flores e a ansiedade na insônia causada pelo medo do escuro. A amizade dos dois fortalecem as suas motivações e inspiram todos ao redor. Pena que algo tão puro acaba por não resistir a um mundo viril.

Uma nova etapa na vida deles acaba interrompendo a amizade. Seus caminhos se dividem por vias sem volta. Na busca de compreender o que aconteceu, Leo fala com Sophie, mãe de Rémi. Mas o abismo entre os dois está cada vez maior.

Tudo isso acontece quando eles entraram na escola. As outras crianças percebem uma intimidade genuína que gera questionamentos. Apesar de tudo, Leo parece ser o primeiro a perceber que sua relação com Rémi pode ser vista como “anormal” para as outras crianças, legitimando assim o poder do outro sobre nós mesmos.

Num passei do colégio, Leo é surpreendido ao receber uma notícia que impactará a sua vida para sempre.

Você tem que se aproximar mais

Não se trata de um filme cujo foco seja orientar sobre sexualidade. Longe disso! Close é sobre a carência da ação humana, melhor, sobre a falta de permissibilidade para aproximar-se do outro. Sobre uma masculinidade tóxica predominante [ e opressora ] em uma sociedade sem educação sexual. Sobre o outro e o seu impacto direto no processo de civilização do ser em si. Para ser ainda mais subjetivo, é sobre o processo traumático que é viver numa sociedade que tem sua civilidade amparada por dogmas religiosos.

E, majestosamente, para ilustrar tudo isso, o diretor te solta no recreio da vida e não fala sobre. Ele te mostra tudo aquilo que acontece quando os adultos não estão vendo. Esta, de certeza, é uma obra que comove pelo impacto que causa. É como um soco no estômago. Um grito de raiva. Aquele ultimo abraço em tua meninice.

Não espere mais um filme com temática plástica LGBTQIA+. Você encontrará o mundo [ idealizado ] real.

Close me fez lembrar do “Bicha Bomba”, curta premiado do artista brasileiro, Renan de Cirilo. Me faz lembrar das quarentas crônicas do Criança Viada (2021). Me trouxe um pouco de Luca (Disney) e tantas outras metáforas sobre a submissão do amor, seja em qual forma for.

Mas, acima de qualquer gatilho emocional, me faz lembrar, sem dúvida, de minha infância e de todos os melhores amigos que tive. De tudo o que ouvi e nunca entendi. De todas as vezes que eu voltei para casa chorando pedindo perdão a Deus e das minhas tentativas de ser “o melhor dos meninos”.

Artigo da autoria de Ícaro Machado

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