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Crítica

JUP BAÚ: Your Name, um amor para lá do que a razão é capaz de explicar

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Your Name, ou Teu Nome, como é vulgarmente designado em Portugal, apresenta um romance em anime com elementos de fantasia que estreou no verão de 2016 e não demorou a fazer as delícias daqueles que o assistiram, seja pela frescura do argumento, a subtileza do seu traço ou o aroma da sua banda sonora.

A história, da autoria de Makoto Shinkai (escritor e diretor), tem lugar no Japão e conta a relação amorosa de Mitsuha Miyamizu com Taki Tachibana, dois adolescentes que têm os seus destinos cruzados para sempre quando, sem motivo aparente, estabelecem uma especial interligação através da qual trocam de corpos um com o outro durante os seus sonhos. Os laços que formam são, no entanto, postos à prova por um meteorito que ameaça arrasar a terra de Itomori e levar consigo Mitsuha, para desespero de Taki. Será o amor que os une forte o suficiente para resistir ao poder do tempo, da distância e da morte?

Nem sei por onde começar a falar desta obra de arte. Só de me lembrar de assistir a este filme, fico arrepiado de cima a baixo. Contudo, estou certo de que não foi pelos meus arrepios que deram uma chance a este artigo, então falemos daquilo que me levou a escrever-vos. Penso que o primeiro aspeto que me fascinou foi a riqueza dos cenários e a desconcertante elegância e expressividade da animação. Nunca tinha presenciado algo assim antes. A vivacidade das cores, o cuidado com os detalhes, os elementos em cada paisagem, tudo comunica connosco de forma quase tão intensa como as próprias personagens e eleva o que nos é apresentado à décima potência.

E num mundo em que a Disney, estúdio que impera no ramo da animação, tende a apostar cada vez mais em enredos formulaicos e sem sal – tendo em vista a fácil obtenção de receita -, devo confessar que sabe bem sentir o carinho, a originalidade, a inteligência e a criatividade que precedem este projeto. Porque se há tipo de filme que pode abarcar aquilo que a nossa imaginação é capaz de conceber é a animação, pelo facto de não estar sujeita às limitações do mundo real, ao contrário dos filmes live-action.

Fonte: CoMix Wave Films

Mas o filme não se fica pela beleza e expressão visual dos seus elementos, sejam eles cenários paisagísticos ou personagens. Ele sustenta e completa essas virtudes através da banda sonora, que sabiamente acompanha o estado de espírito dos protagonistas ao mesmo tempo que dá voz aos momentos de silêncio destes.

É interessante perceber como a música reflete o espetro de sensações causadas pelo amor. Ela acrescenta ao que está a ser contado, sendo por vezes mais irreverente, alegre e estridente, ou mais calma, melancólica e introspetiva.

Falando em experiência, este filme acrescenta muito ao género de romance, seja animado ou não. Um filme até pode ter a banda sonora on point, os visuais estonteantes, mas isso só releva mesmo na medida em que enaltece aquilo que está a ser contado. E o que aqui é contado é soberbo e é o que faz deste filme um hino ao amor.

Não há como não ficar impressionado com o enredo da autoria de Makoto Shinkai. Muitos escrevem, falam, filmam e cantam sobre amor. No entanto, e como em tudo na vida, apesar de qualquer um poder dar o seu entender sobre seja que tema for, são poucos aqueles que captam a essência, a dimensão e o alcance do mesmo, e ainda menos aqueles que conseguem expressar devidamente esse mesmo parecer.

E Shinkai demonstra ser portador desta qualidade ao criar um universo onde capta astutamente o nosso interesse e afeição aos protagonistas e à relação que entre eles se estabelece e, consequentemente, sujeita a pujança desses mesmo laços a alguns dos mais duros obstáculos que qualquer pessoa do mundo real enfrenta (e por isso, se identifica), como a falta de tempo, a distância e até a morte. Não só isso, mas a forma de como deixa tudo fluir, dedicando a cada avanço da narrativa a devida atenção e paixão, faz desta animação qualquer coisa de especial. Talvez um pouco complexa ou longa demais, mas nada que nos consiga distanciar do amor de Mitshua e Taki, um amor lindo e profundo, um amor que vai para além daquilo que a razão pode explicar, um amor eterno.

Fonte: CoMix Wave Films

Disposto isto, resta-me convidar-vos a receber esta aventura com olhos, ouvidos e braços bem abertos, porque certamente será tempo bem empregue da vossa parte, não fosse esta a longa-metragem romântica em anime mais bem-sucedida de todos os tempos, com uma receita superior a 350 milhões de dólares por todo o mundo. E ainda que tenha sido completamente esquecido na corrida ao Óscar de Melhor Filme de Animação em 2017, não se deixem enganar — esta é uma das mais bonitas perspetivas sobre amor.

Artigo da autoria de João Pedro Pereira.