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Crítica

Capuchinho Vermelho é uma Fábula Sobre o Proletariado?

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Em meio a lei da inércia do mercado de trabalho Lusitano, a narrativa de Capuchinho Vermelho emerge como uma metáfora perturbadora da realidade trabalhista em Portugal
Ilustração: Circe, o feiticeiro

Na onírica floresta de oportunidades, uma superestrutura de árvores altas com suas velhas raízes [morais] invictas fincadas ao chão impedem que o brilho do sol aqueça o solo. Destarte, o verde dos recibos que florescem entre os galhos secam rapidamente com o passar do tempo: lhes faltam vitamina D. Promessas de oportunidades abundantes são feitas, sim, mas passado o verão, como numa fábula capital, revelam-se verdadeiras armadilhas para os incautos.

Portugal, 2024. Em meio a lei da inércia do mercado de trabalho lusitano, a narrativa de Capuchinho Vermelho emerge como uma metáfora perturbadora da realidade trabalhista que jaz neste país. O lobo dessa história, simbolizando o capitalismo voraz, representa as forças do mercado que perpetuam a desigualdade e a injustiça. Esta narrativa não apenas ilustra a dura realidade dos trabalhadores em Portugal, mas também ressalta a necessidade premente de políticas que promovam a equidade e protejam os mais vulneráveis no mercado de trabalho: todos nós, meros camponeses. 

Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele primeira Lei de Newton

O povo português — e os que aqui contribuem — são como a pequena capuchinha vermelha que alimenta a sua vovó (empresários), mas que, na verdade, trata-se do lobo mau (Estado). Não hesito em dizer que [quase] todas — das poucas — leis trabalhistas desse país beneficiam exclusivamente o empregador porque partem dessa falsa ideia fincada no imaginário social de que os empresários não conseguem “manter” os seus funcionários. Mas os lucros estão sempre a crescer anualmente e novos negócios estão sempre a surgir.

Os inúmeros benefícios para reinserção de profissionais no mercado de trabalho estão — também — pensados para beneficiar estas mesmas empresas. Mas a sociedade é levada a acreditar que os investimentos são focados no povo. Parece-me que toda política social vira um negócio e, mais uma vez, no final, a quem se destina a verba é sempre o “senhor feudal” (Estado), que está a molhar as mãos de seus servos (empresários) em troca de lealdade. 

Como isso? As altas taxas para contratação são usadas para justificar a precarização dos contratos de trabalhos que se refletem na subordinação e na falta de direitos, benéficos e afins. Tudo isso gera um alto índice de desemprego que se resolve — de forma paliativa, porque não é vantajoso resolver — com os programas de inserção de mercado subsidiados pelo governo — e o fundo europeu de desenvolvimento — que “empresta” aos empresários mão de obra barata. Quem não se submete, migra para outro país europeu. Mas se ficar, o Governo oferece um bônus anual de 1500 euros para os jovens que decidirem trabalhar no país.

Programas de estágios (IEFP), Vida Ativa, Cheque-Formação + Digital e tantos outros projetos que pagam [alguns] 1,96 € à hora para que profissionais já capacitados façam mais capacitações subsidiadas para poder desempenhar as suas habilidades em um estágio de três meses — no mínimo — sem custo algum para a empresa. É um verdadeiro negócio de capacitação modular. Afinal, se não houver aluno, não há investimento europeu. E sem “justificação”, o dinheiro não circula, ele volta.

Quantos profissionais capacitados estão a trabalhar em empresas recebendo [apenas] uma bolsa de estágio como salário? Quem realmente é beneficiado com essa politica de inserção? Quantos direitos são “ignorados”?

É uma torneira aberta a correr água para regar uma selva de pedra

Num país onde o sol parece se esconder por detrás das sombras econômicas, a história de Capuchinho Vermelho ecoa como um conto sombrio da realidade. Aqui, os trabalhadores são os pequenos capuchinhos, perdidos na densa floresta do mercado de trabalho. Sua mão de obra, tão barata quanto a cesta de doces que carregam, é explorada impiedosamente pelos lobos corporativos, ávidos por lucro. 

Como a avó do conto, os subsídios estão adoecidos, incapazes de proteger os vulneráveis da real fome e do verdadeiro frio que impede o sol de chegar. Como na fábula, o capitalismo também assume o papel do lobo, disfarçado de gentil avó a sussurrar promessas vazias de prosperidade. Enquanto isso, o povo, com o seu capuz vermelho de esperança, caminha inocentemente pela vasta floresta de oportunidades, sem saber que o lobo está à espreita, pronto para devorar os seus sonhos.

Entender isso é entender a real importância das lutas de classes. Entender isso é se perceber enquanto indivíduo. A ideia socialista de se chegar a um sistema comunista é demonizada porque enfraquece o poder do capitalismo e destitui todo e qualquer forma de exploração. Isso não é sobre comunismo — o mundo está longe disso —, isso é sobre o fetiche do bicho homem em explorar os seus iguais. O poder corruptível de ter e ser

Nesta fábula, a moral não é sobre uma garotinha ingênua, mas sobre um sistema predatório que devora os mais frágeis, deixando apenas as migalhas de uma falsa promessa de justiça social. Capuchinho serve como um poderoso lembrete das injustiças enfrentadas por muitos em um sistema econômico desigual que agora atrai o povo [imigrante] para uma emboscada preparada por uma matilha de lobos famintos por dinheiro e sede de poder.  

 

Artigo de autoria de Ícaro Machado

 

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