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Crónica

QUESTÃO DE PREFIXO

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A época é próspera ideologicamente. O século XXI trouxe-nos talvez a ousadia, talvez o conhecimento, talvez a coragem, talvez a liberdade, talvez a irreflexão de fazer explodir uma ideia sem que esta imploda em nós. Ou talvez tudo isto.

A verdade é que, felizmente, as vozes de tolerância começam a ser ouvidas em Portugal. As vitórias quanto a justiças sociais e equidade entre todos nós perante a lei começam a ser uma realidade em terras lusas. E isso é formidável.

O problema surge, então, da solução. É “in” ser tolerante. É socialmente aceite ser tolerante. Não se pense que não apoio a tolerância, pelo contrário! O que me corrói as veias da paciência é a (in)tolerância! Este novo tipo de sujeito que vive para tolerar e cai no ridículo de tropeçar na intolerância. Porque o (in)tolerante só “tolera o que tolera” e o que não tolera estripa, discute e tiroteia verbalmente.

Porque a sociedade já tolera (quase) as diferenças étnicas e raciais, a homossexualidade, a adopção por casais homossexuais, a equidade entre géneros, entre outros outrora tabus. Agora o que não se tolera é uma opinião diferente. Acredito que a este ponto, considerariam que estava a refletir sobre a intolerância relativa a outros problemas sociais atuais. Mas não, o (in)tolerante só não tolera a opinião alheia, uma vez que esta se distancia do seu espetro político, económico, religioso ou social.

Porque ser tolerante é “trendy”, daquele tipo de “trendy” que não quer ser “trendy”. Mas a tolerância é mais do que uma forma de estar na vida com estilo – ou ser uma espécie de “in” ­- é um direito e dever do ser humano. Afinal, ser tolerante não é sinónimo de ser “da mesma opinião de”, mas é reconhecer o direito de alguém pensar, ser, vestir, viver de forma distinta, desde que não magoe o outro.

Mudem o prefixo – sejam extratolerantes.