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Política

GUERRA CIVIL NO LESTE DA UCRÂNIA

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História

O genocídio ucraniano de 1932 a 1933, também conhecido como “Holodomor”, levou à fome e à morte milhões de ucranianos. Este genocídio fora planeado pelo próprio Stalin durante o domínio da URSS. Stalin pretendia “limpar” a região de grupos e etnias que não se identificassem diretamente com a cultura russa. Com o intuito de mudar completamente a região, implementou incentivos à emigração russa, de modo a reocupar as aldeias e vilas dizimadas pela fome.

A Ucrânia moderna vê-se, assim, dividida. No Oeste do país predomina a identidade ucraniana, enquanto no Este predomina a identidade russa. A existência destes dois polos de identidade nacional, que se opõem devido a caraterísticas históricas, teve um papel crucial no culminar da guerra no leste da Ucrânia.

Infografia: Sara Felgueiras

Infografia: Sara Felgueiras

Euromaidan

No dia 21 de novembro de 2013, o governo ucraniano liderado por Viktor Yanukovytch abandona as negociações com a União Europeia, cujo objetivo era estabelecer um tratado económico de associação. A UE coloca, como requisito essencial para que o acordo seja assinado, a implantação de medidas democráticas na Ucrânia e o presidente opta por rejeitá-las, entrando imediatamente em negociações com a Rússia, um forte aliado da Ucrânia desde a queda da URSS.

No mesmo dia, uma onda de manifestações nacionalistas explode nas principais cidades ucranianas. Inicialmente, os protestos exigiam que o acordo com a UE fosse assinado mas, face à hesitação do governo ucraniano, a população passou também a exigir a renúncia do presidente Viktor Yanukovytch e do seu governo. A falha nas negociações foi a gota de água para a população ucraniana, que vivia sobre a corrupção generalizada do governo, do seu abuso de poder e das violação dos direitos humanos no país.

A dispersão violenta dos manifestantes, por parte das forças de segurança ucranianas, gerou mais violência nos protestos. A capital, Kiev, chegou a ter nas suas ruas entre 400 000 e 800 000 manifestantes. Vários edifícios governamentais foram ocupados por manifestantes, e, em janeiro de 2014, o primeiro-ministro demitiu-se.

Os tumultos tomaram sérias proporções quando, em fevereiro do mesmo ano, foram registados 67 mortos. A oposição falava em “disparos para matar”, enquanto o governo afirmava suas forças de segurança apenas agiam em “legítima defesa”. Com o aumento esporádico da violência, o próprio presidente ucraniano, Víktor Yanukóvytch, foge para a Rússia.

Queda do governo de Yanukóvytch

Yanukóvytch foi eleito presidente da Ucrânia em 2010 e reconduzido ao cargo em 2012. Porém, em 2014, na sequência da tomada de edifícios governamentais por parte de opositores ao regime, o seu governo perde efetividade. A oposição considera a sua ausência de Kiev uma manifestação de abandono do cargo. O novo parlamento vota favoravelmente à sua destituição, através de um processo de impeachment, dando como motivo a “negligência de funções”.

Impacto no país

A chamada “Revolução de 2014” trouxe consequências imediatas. A Rússia recusou-se a reconhecer o novo governo, apelidando a ação como um “golpe de Estado”. Por outro lado, o novo governo assinou o acordo de associação com a UE, anteriormente recusado por Yanukóvytch, comprometendo-se à aplicação de reformas sociais, económicas e políticas, com grande parte da ajuda financeira a chegar do Fundo Monetário Internacional.

Nas zonas Este do país, começaram a surgir protestos pró-russos. A Crimeia foi a primeira região a rebelar-se contra o poder central, declarando a sua independência da Ucrânia e votando esmagadormente num referendo a favor da anexação à Federação Russa. No lado oriental ucraniano, a situação não era favorável, dado que a ocorrência de tumultos, invasões a sedes governamentais e tentativas de proclamação de soberania eram acontecimentos diários. A instabilidade criada levou a uma intervenção por parte do exército ucraniano, escalando posteriormente para um conflito armado com os separatistas.

O conflito armado inicia-se em março de 2014, com a declaração de independência das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk.

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Infografia: Sara Felgueiras

Composição das linhas da frente

As forças ucranianas são compostas maioritariamente pelas Forças Armadas Ucranianas, sendo que grande parte dos seus soldados são voluntários. Existe também uma forte presença de milícias de extrema-direita. Estima-se que o conjunto das forças Ucranianas cheguem aos 69 mil homens. Tanto o exército como as milícias ucranianas têm sofrido um processo de modernização militar com a requisição de equipamento e veículos mais sofisticados, assim como um forte investimento no treino de atualização das suas unidades.

Os separatistas são, na sua maioria, provenientes de locais com etnicidade russa e estima-se que cheguem aos 40 mil homens. Uma porção das forças separatistas é, também, compreendida por voluntários oriundos da Rússia. O equipamento militar usado pelos separatistas é na sua maioria antigo ou desatualizado. Contudo, existem indícios de que a Rússia estará a financiar e enviar equipamento militar moderno para os separatistas. Um bom exemplo desta relação é a utilização de um veículo antiaéreo de longa distância conhecido como BUK-M1. Este equipamento moderno e caro foi utilizado pelos separatistas para abater, por engano, o avião civil “Malaysia Airlines Flight 17”.

As forças ucranianas querem, a todo o custo, voltar a integrar as regiões de Donetsk e Luhansk no território ucraniano. Já os separatistas querem total independência e soberania sobre essas regiões. Existem também indícios da possibilidade de integração dessas mesmas regiões no território russo, tal como aconteceu com a Crimeia.

Números da guerra

Os dados referentes ao número de baixas resultantes da guerra são incoerentes, devido à dificuldade que existe para organizações independentes e neutras se deslocarem às linhas da frente. Os números estimados vão desde as 10 mil às 50 mil mortes, incluindo civis e militares.

Face aos horrores da guerra, mais de 1,7 milhões de ucranianos fugiram da região em conflito para o resto da Ucrânia e países vizinhos. Em termos económicos, o GDP ucraniano diminuiu 17,6% de maio 2014 a maio de 2015. Os custos diretos da guerra, segundo o atual presidente ucraniano, Petro Poroshenko, chegam aos 5 milhões de dólares por dia.

A Ucrânia vive atualmente numa grave crise da dívida nacional que veio, desta forma, ser agravada pelo conflito. Independentemente do resultado do conflito, a reconstrução das zonas afetadas vai certamente levar décadas e irá acarretar um custo muitíssimo maior do que a guerra em si.

Infografia: Sara Felgueiras

Infografia: Sara Felgueiras