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Política

A INQUISIÇÃO GOVERNAMENTAL CHECHENA

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Após os violentos conflitos separatistas em que esteve envolvida, a República da Chechénia é atualmente liderada por Ramzan Kadyrov, herói da federação russa, aliado próximo e seguidor leal do presidente russo, Vladimir Putin.

A Chechénia fica situada na região do Cáucaso e é uma das repúblicas da Federação Russa, no distrito federal do sul. Após o fim da guerra fria, declarou a sua independência mesmo não tendo o reconhecimento internacional político necessário.

Este ano, em março, começaram a desaparecer pessoas das ruas, até que cerca de uma centena de homens, todos entre os seus 16 e 50 anos, foram desaparecendo sem explicação aparente.

No início do mês de abril, a investigação de um jornal russo independente, Novaya Gazeta, descobriu um campo de concentração em território checheno, utilizado para encarcerar e torturar os cidadãos homossexuais capturados, onde, alegadamente, três homens foram mortos.

A Novaya Gazeta referiu que a mais recente onda de violência contra os homossexuais na região começou depois de um grupo de direitos LGBT ter pedido para realizar uma parada na região do Cáucaso. O pedido, que foi negado, provocou uma demonstração anti-gay que, por sua vez, deu origem à publicação de vídeos que incentivavam a morte de cidadãos homossexuais.

De acordo com o jornal e com base em relatos de testemunhas e fugitivos, no dia 4 de abril, o governo ordenou uma “limpeza preventiva”, mantendo cerca de uma centena de pessoas em prisões improvisadas, cuja sede se situa num antigo campo militar, na cidade de Argun.

“Sabemos de quatro prisões secretas. Duas ficam em Groznym, a capital chechena, e há uma em Argún – que foi a primeira que identificamos – onde pessoas LGBT estavam sendo presas, espancadas, torturadas e assassinadas”, afirmou Elena Milashina, jornalista que fez a descoberta, ao programa Victoria Derbyshire, da BBC.

Entretanto, governos estrangeiros e grupos defensores dos direitos humanos expressaram preocupação relativamente aos abusos relatados, exigindo que as autoridades na Rússia e na Chechénia pusessem fim à situação, estando a União Europeia, os EUA e as organizações Human Rights Watch e Amnistia Internacional entre os que se manifestaram.

O porta-voz de Vladimir Putin, Dmitry Peskov, negou as alegações afirmando não ter “qualquer informação fiável sobre o problema nesta área”.

O porta-voz do líder checheno também negou a veracidade do artigo publicado pela Novaya Gazeta, afirmando que “na Chechénia, os homens levam um estilo de vida saudável, praticam desporto e têm apenas uma orientação, determinada a partir do momento da criação”.

Além disso, salientou que “é impossível deter e perseguir pessoas que simplesmente não existem no país”, acrescentando que “se houvesse gays na região, eles teriam sido tratados pelas suas próprias famílias”.

Sendo a sociedade chechena bastante tradicional e baseada em fortes valores familiares e religiosos, ter um elemento homossexual na família é considerado algo vergonhoso e que mancha o nome da família. Neste sentido, estas pessoas são assassinadas pelos próprios familiares para que recuperem a honra que outrora fora manchada.

“Os homicídios de honra são reais na Chechénia. Mesmo que os presos tenham conseguido escapar, continuam temendo por suas vidas”, reiterou Svetalana Zakharova, da Rede LGBT da Rússia.

“Tendo em conta o ambiente homofóbico e os ‘assassínios de honra’ na Chechénia, é quase impossível obter informação confirmada, pois as pessoas têm demasiado medo para falar”, acrescenta Alexander Artemyev, da Amnistia Internacional na Rússia.

Segundo o New York Times, vários homossexuais estão a apagar os seus perfis nas redes sociais, porque as autoridades estarão a atrair gays para encontros falsos para depois os prenderem. No entanto, várias organizações de direitos LGBT na Rússia condenaram as ações do governo checheno e estão ainda a ajudar a retirar do país o cidadãos gays em alegado risco de perseguição.

Entretanto, Ramzan Kadyrov, a face do governo checheno, terá alegadamente prometido  acabar com toda a população homossexual em território checheno até ao final de maio, mês sagrado do Ramadão, que começará no dia 26 este ano.