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Desporto

MULHERES IMPEDIDAS DE CORRER PRIMEIRA MARATONA DO TEERÃO

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De acordo com o website oficial, o evento organizado pela “TheRUN” na capital iraniana contou com 442 participantes, de 45 países. O objetivo era promover a hospitalidade através do desporto e difundir a cultura do país. Citado pela estação televisiva iraniana “Al Jazeera“, Maryam Feize, um dos organizadores da competição, disse que o intuito era mostrar que “o Irão é um parceiro na construção de pontes, não de muros” – recentemente, o Irão foi um dos países abrangidos pelas restrições à imigração do Presidente norte-americano, Donald Trump.

Cortar a meta ao fim de 42 km foi uma sensação que apenas os homens puderam experimentar. Três semanas antes da corrida, a organização comunicou que as mulheres estavam impedidas de participar na competição.

Anamaria Lascurain Montero, uma atleta de Espanha, disse ao JUP que se sentiu “vitimada pelo organizador do evento, porque já tinham feito o registo e pago os bilhetes de avião para para correr uma maratona de 42 km”. Anamaria contou ainda que quando chegou ao local da prova “foi a confusão total”.

“Não sabíamos horas, nem nada. O organizador nunca deu a cara”, adiantou a desportista. Debbie Tai viajou de Hong-Kong até Teerão para correr a maratona e explicou ao JUP como recebeu a notícia: “Fiquei desapontada. Não nos deixaram correr na rua, ao lado dos atletas masculinos”.

“Não nos deixaram correr na rua, ao lado dos atletas masculinos.”

Na passada quarta-feira, dois dias antes da maratona, a decisão foi retificada. As mulheres podiam participar na corrida, mas estavam confinadas a 10 km, à volta da pista de um estádio e tinham de manter os requisitos apropriados de indumentária.  No Irão, a lei impede homens e mulheres de participarem em eventos desportivos em simultâneo. Os homens também estão proibidos de assistir a desportos femininos e vice-versa.

Alguns meios de comunicação internacionais noticiaram que um grupo de oito mulheres se infiltrou na corrida masculina e que tentou desafiar as autoridades iranianas, mas Karin Brogtrop-Beekman, uma corredora holandesa, contou ao JUP que não houve nenhuma tentativa de protesto: “Nós não quebramos nenhuma regra. Não queremos ser vistas como rebeldes que desafiaram as leis do Irão”.

No entanto, o grupo de mulheres conseguiu cumprir os 42 km, mas de uma forma pouco convencional. As oito mulheres fizeram uma maratona “secreta” num parque e correram várias voltas de 700 metros, até cumprir 32,2 km, para terminarem os restantes 10 km na prova oficial para o sexo feminino. Karin explicou que não quiseram desafiar as regras porque “têm de respeitar as leis islâmicas” e que só desta forma “podem, aos poucos, contribuir para permitir que as mulheres iranianas possam correr as mesmas distâncias que os homens”.

Debbie Tai clarificou que “não é com protestos violentos que se vai mudar as coisas”. A atleta disse que a alternativa foi a forma que encontraram de sobrepor as restrições locais e correr os 42 km, sem violar a lei: “Esta foi a nossa forma de protestar e ao mesmo tempo de poder cumprir a maratona”.

A desportista espera no próximo ano poder correr os 42 km da maratona e que um dia as atletas iranianas possam praticar desporto em pé de igualdade com os masculinos: “Quero que as mentalidades mudem, mas isto não se faz hoje, nem amanhã. Leva tempo”.

“Se tivéssemos agido de outra forma podíamos ter impedido as raparigas iranianas de continuarem a correr e levar a um retrocesso daquilo que já foi alcançado. Temos de pensar nas pessoas que cá ficam, apesar de não concordarmos”, acrescentou a corredora.