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Desporto

SELEÇÃO NACIONAL: COM ENGENHEIRO MAS SEM ALICERCES

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1817287_w2A FPF anunciou recentemente a contratação de Fernando Santos para o cargo de selecionador da equipa A de Portugal. O homem que ficou conhecido como engenheiro do penta, aquando da sua passagem pelo FC Porto, conta com um enorme currículo que se divide apenas entre 2 países, Portugal e Grécia. Incluído nele estão (para além da já referida orientação dos dragões) passagens pelas equipas de SL Benfica, SC Portugal, AEK de Atenas, PAOK e Panathinaikos.

O último cargo do treinador luso residiu aliás no comando da seleção helénica, onde se encontrava desde 2010, tendo terminado essa mesma ligação após a participação no Mundial 2014, onde levou a equipa aos oitavos-de-final da competição.

Durante a orientação da equipa grega Fernando Santos realizou um trabalho muito bom na gestão da equipa. Aproveitando a mestria de alguns dos resistentes da geração de ouro do país e lançando progressivamente alguns jovens talentos, esta equipa conseguiu o melhor resultado de sempre dos helénicos em mundiais, em 2014. Já em 2012, tinham alcançado os quartos-de-final do Europeu mas viriam a cair aos pés da sensacional Alemanha. Tornou-se um deus para o povo grego sendo que quase todos pediam a sua renovação.

Durante a sua carreira manteve-se sempre no mais alto nível. Mesmo não sendo a Grécia um país de primeira linha no futebol, todos os clubes que orientou são históricos do velho continente (excetuando o Estrela da Amadora).

Por toda essa experiência, por todo o trabalho que desempenhou, Fernando Santos seria sem dúvida uma das opções mais credíveis para assumir o cargo. Mas o facto é que com a sua chegada, temos de contar também com a ideia de que há muito trabalho pela frente. A grande questão está no que há de ser feito para tirarmos dividendos de toda a nossa matéria-prima futebolística.

O que têm em comum Alemanha e Espanha, que nos últimos anos foram responsáveis pelo domínio do desporto-rei a nível continental e mundial? Pois bem, a resposta é simples: Pensaram, planearam e implementaram meios e condições para potenciar ao máximo o talento dos seus jogadores, desde os escalões mais jovens até ao futebol sénior.

Após fases de declínio em termos de rendimento, apostaram forte na área e conseguiram resultados. Na Alemanha, a maior parte das cidades tem campos de futebol espalhados por parques, jardins, etc. Nestes e noutros países foram implementadas diretrizes respeitantes aos escalões de formação (nomeadamente na organização das idades), de maneira a permitir que as competições potenciassem ao máximo o desenvolvimento dos jovens atletas.

Nós devemos analisar e repensar todo o nosso processo, uma vez que cada vez mais se torna não uma questão de aproveitamento, mas sim uma questão de falta de matéria-prima. A ausência de prática desportiva e do futebol em particular faz com que os “miúdos” de hoje sejam difíceis de trabalhar. Nos dias de hoje assistimos a mudanças de hábitos abismais. Hoje os “miúdos” passam horas ou dias fechados em casa em volta de uma televisão ou de uma consola. Passam demasiado tempo em atividades sedentárias e fazem-no quase sempre sozinhos.

Lembro-me bem do quanto o futebol de rua, atividade que adorava praticar na minha infância e adolescência, contrariava tudo isso. Era um processo de exercício, de socialização, de resolução de problemas. Todos os dias aparecia um vizinho, um amigo do vizinho, um primo de um amigo, o que quer que fosse, todos os dias aparecia alguém diferente para jogar. Já para não falar dos problemas que esse tipo de jogo nos impunha. Era necessário solucionar e ultrapassar barreiras distintas e únicas. Muitas das vezes aparecia alguém novo e tínhamos de procurar conhecer essa pessoa. Ou a estrada era inclinada, ou havia uma poça de água enorme no meio do campo, ou uma das equipas era composta pelos mauzões do bairro.

Claro que hoje, com o desenvolvimento das cidades e todos os locais, na maior parte dos sítios é impossível esta prática, mas há a possibilidade de tirar os miúdos de casa e lhes incutir esta prática, em condições melhores até e mais seguras.

Aquilo a que se assiste hoje é a chegada aos clubes e escolas de muitos miúdos com condições limitadas e às vezes até “deficientes” na maneira como se movimentam e executam as mais diversas atividades físicas.

Não é a única situação mas é um bom exemplo do quão pensada e de quanto impacto deve ter toda a reestruturação do futebol português. Voltando aos casos-exemplo daquelas duas seleções constatamos que têm sido o espelho dos seus principais clubes. No caso da Espanha o Barcelona servia como uma espécie de base para a equipa nacional, acontecendo o mesmo com o Bayern de Munique e a Seleção Alemã. Com o que tem isso a ver senão com todo o trabalho e planeamento realizado pelas federações destes 2 países?!

É preciso tomar consciência de que Fernando Santos tem muito trabalho pela frente, mas ele será sempre apenas o estandarte de todo o processo de estruturação e formação futebolística. O tempo de que um selecionador aquando dos trabalhos da equipa nacional não chega minimamente para a criação de filosofias ou ideias de jogo novas. O que o selecionador tem a fazer é apenas uma continuação do trabalho feito nos clubes e alguns ajustamentos. Daí a importância de todo o processo.

Fernando Santos dará com certeza o seu melhor e tem ferramentas para tal, mas lembremo-nos: Nenhum engenheiro constrói algo sem mão-de-obra, e muito menos sem matéria-prima.

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