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Crónica

NA AMÉRICA LATINA #1

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30 horas de voo, entre vôos propriamente ditos e escalas, 5 horas de fuso horário e 2800 metros de diferença. Eis-me em Quito, a capital do Ecuador. Esperava-me um fim de semana de muito calor como sinal de boas vindas. Respira-se América do Sul desde o autocarro que me levou do aeroporto à cidade, em que as paragens eram anunciadas com o vendedor de bilhetes a gritá-las com cabeça de fora da janela. Ouve-se reggaeton e ritmos latinos em alto volume em cada esquina. Por todo o lado há bananas gigantes que assam com queijo, espetadas de carne, panquecas equatorianas, milho frito, gigantescas e coloridas saladas de fruta, fatias de melancia, gelados de gelo, cigarros à unidade. Nos mercados, as bancas de fruta mostram-nos todas as frutas que poderíamos imaginar e mesmo as que não poderíamos porque são completamente desconhecidas. Os restaurantes mostram porcos inteiros, dos grandes e dos da Índia (especialidade local), sopas de patas e estômago de galinhas e muita, muita batata e banana. Há muito movimento, muitos carros, muita gente na rua. Nos parques, multidões juntam-se para ver espectáculos de comédia improvisados ou jogos de voleibol entre amigos. Um mural do Partido Comunista lembra ao mesmo tempo os 90 anos da morte de Lenine, o apoio ao povo sírio, o aviso às mulheres de que o aborto no Equador já é legal, a Revolução de Outubro e frases do Che Guevara que apelam a uma união de Esquerda.

Passear pelo centro histórico com o Sol que entra pelas ruas e nos transporta, entre as suas sombras, a um tempo onde todas as casas eram coloridas, bem pintadas e habitadas. Perco-me na época colonial, com as suas mansões senhoriais ensolaradas e empoeiradas. Viro ao acaso para ruas que são sempre uma surpresa de tão bonitas, encontro pequenos jardins onde descansar à sombra das árvores e me refrescar nas fontes, deito-me na relva em enormes parques. A basílica, monumental, está no cimo de uma colina, e aparece-me gigantesca quando subo a colina para lá chegar e olho para cima. As montanhas verdes rodeiam toda a cidade e, qual Cristo Rei no Rio, La Virge olha-nos do cimo do El Panecillo.

Nas discotecas os europeus são envergonhados com a salsa que toda a gente dança perfeitamente. Os taxistas perguntam-me, como habitualmente pelo Cristiano Ronaldo, mas também se Portugal é bonito, se se come bem ou até se estamos numa má situação como está Espanha.

Todos os dias aparecem novos amigos, estrangeiros ou equatorianos com quem combinar visitas a outras partes do Equador ou programas para fazer em Quito. O trabalho na associação está a arrancar e a fazer-me muito feliz. A medicina é isto mesmo que fazemos aqui. Falarei sobre o meu trabalho aqui numa próxima crónica, quando já estiver mais enturmada, mas trata-se de trazer a Medicina a quem não tem acesso, de educar para a saúde e de combater a hipertensão e a diabetes, os grandes flagelos médicos deste século.

Resumindo, para já tudo corre bem. Trabalho durante o dia e à noite tenho sempre a companhia dos outros hóspedes para jantar e falar espanhol, inglês e francês. O dono do hostel emprestou-me uma guitarra, o que tem preenchido os meus fins de tarde.

A guitarra, e beber uma cerveja quitenha no terraço, com o Sol húmido a por-se e a cidade aos meus pés.

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