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Crítica

JUP Baú: De volta à “Casa Ocupada” dos Linda Martini

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O álbum começa com uma faixa cheia de energia. “Mulher-a-dias” dá vontade de moshar com riffs de influência punk e metal. Sempre com a intensidade a 100%, esta faixa faz-nos salivar pelo que virá a seguir com um começo tão violento, que se faz acompanhar, por vezes, de um toque de rock progressivo e noise rock.

O princípio da canção que se segue, “Nós Os Outros”, traz ao ouvinte uma descida na intensidade, contrastando com a faixa anterior. No entanto, um crescendo muito bem desenvolvido começa a fazer-se notar até culminar em gritos que colapsam numa passagem cheia de distorção. Esta vertente mais punk desagua depois num momento com influências mais notórias de post-rock, com os efeitos nas guitarras a sobressaírem. Nesta faixa, tal como em tantas outras, é notória a mestria dos Linda Martini em levar o ouvinte por montes e vales de grande intensidade como se se tratasse, ao fim e ao cabo, de uma planície sonora.

“Amigos Mortais”, inicialmente, cria novamente um momento de maior introspeção que vai crescendo com o aumento da bateria e do conjunto musical em geral.

O refrão, assim como as várias repetições de outros versos, fazem com que o ouvinte rapidamente cante frases que, numa primeira audição, parecem carecer de união mas que vão formando o seu próprio sentido ao longo da música.

“Elevador” não é a faixa indicada para quem não suporta muito tempo a ausência de voz. Metade da música, sensivelmente, é passada com efeitos na guitarra como o uso abusivo de delay e reverb que exigem toda a atenção do ouvinte. Sempre sem cair em nenhuma progressão de acordes mais cliché, a entrada da voz soa quase como a entrada de um outro instrumento, voltando o enfâse a recair na intensidade dos excelentes riffs de guitarra, bateria e baixo. E a nossa cabeça nunca para de abanar, inevitavelmente.

Já é uma prática recorrente a este ponto que, após uma saída brusca da música anterior, entre uma faixa num registo antagónico. É o que acontece também com “S de Jéssica”, um instrumental cuja falta de voz nem é sentida. Os ambientes sonoros criados pelos efeitos nas guitarras como pano de fundo são a base ideal para as melodias da guitarra, que surge como protagonista nesta música. O seu crescendo não é tão acentuado como nas outras, mas essa falta de intensidade é bem colmatada pela constante adição de efeitos e ruídos inesperados, que entram como surpresa para o ouvinte.

“Juventude Sónica”… não faz soar um sino? Após um fade out da faixa anterior e um fade in tão ténues que quase nem nos apercebemos que a canção mudou se não estivermos a olhar para o ecrã do reprodutor de áudio, é notório que o nome escolhido não tenha sido mera coincidência: os Linda Martini fizeram aqui uma homenagem, muito provavelmente, a uma influência maior na sua escrita, Sonic Youth.

“Ameaça Menor” talvez seja o ponto mais fraco de um álbum cheio de pérolas. Apesar do crescendo inicial e do texto recitado no início, as riffs ouvidas quando já o pico de intensidade foi alcançado são um pouco repetitivas.

Posteriormente, somos brindados com “Queluz Menos Luz” que traz mais experimentação com os efeitos nas guitarras para além de umas excelentes linhas melódicas, fáceis de seguir e que trazem sempre alguma surpresa na manga.

“Belarmino” traz-nos de rompante uma melodia vocal muito bem sustentada por um harpejo na guitarra que desagua rapidamente numa explosão de distorção e bateria. As nuances da intensidade não são tão drásticas como nas faixas anteriores até por volta dos últimos 30 segundos. No entanto, o conjunto total traz algumas mudanças de riff bruscas que acabam por trazer algo de novo e interessante aos nossos ouvidos.

O seu feedback final é um excelente desencadeador de todo o ruído e distorção introduzidos na faixa seguinte, “Cem Metros Sereia”. O caos e acordes dissonantes são intercalados com melodias fortes que sobressaem por cima de todas as outras camadas sonoras. A primeira vez que a voz entra na música é um choque, devido à força das palavras usadas. À medida que os versos vão sendo repetidos, um novo sentido começa a despontar e mergulhamos num estado de introspeção.

O coro em gritos é o final excelente para um álbum repleto de altos e baixos íngremes.

No seu todo, Casa Ocupada é uma excelente obra, quase que me atrevo a classificá-la como a magnum opus dos Linda Martini até ao presente momento, estando talvez empatada com o mais recente álbum lançado pelo grupo, denominado de “Linda Martini”.

Artigo da autoria de Daniel Diogo