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Desporto

“ISTO É MUITO MAIS DO QUE SABER NADAR”

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É uma profissão sazonal no qual o psicológico (já que estamos a falar de vidas humanas) e físico andam de mãos dadas. Mas antes de embarcar neste trabalho, que pode ser feito em regime parcial ou integral, é necessário fazer um curso do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN). O JUP conversou com quatro nadadores-salvadores e esclareceu todas as dúvidas sobre esta profissão.

Trabalho de um nadador-salvador

Almerinda Soares, estudante de Desporto e ex-praticante de natação sincronizada é uma das jovens que atualmente vigia o areal da Praia Azul, em Espinho. A jovem nadadora clarifica que “o número de nadadores-salvadores depende dos concessionários e do tamanho da frente da praia” e que, de acordo com a regras, “a cada 50 metros deve haver pelo menos um nadador-salvador”.

Bárbara Peixoto, estudante de Direito, completa a equipa de socorro a náufragos nesta praia. Para a jovem de 21 anos, “ajudar uma pessoa é muito mais do que ir à água e tirá-la de lá”. O ofício passa por “ajudar quem se esteja a sentir mal, fazer curativos ou socorrer banhistas desmaiados por causa do calor” e Bárbara alerta que “as pessoas não têm noção de que ficam expostas demasiadas horas ao sol”.

De resto, o trabalho de um nadador-salvador passa “mais pela prevenção, do que pelos salvamentos”, acrescenta Bárbara: “O nadador-salvador não é aquele que faz maior número de salvamentos, mas sim o que previne da melhor maneira”.

Sem tabela salarial definida, os profissionais desta área podem ganhar até cerca de 1000 euros mensais (pagos pelas entidades privadas concessionárias que exploram os restaurantes das praias), muitas vezes a recibos verdes.

Excesso de procura e escassez de oferta no início do verão

No início do verão, essencialmente, existem mais nadadores-salvadores para o exercício da atividade do que aqueles que são necessários para trabalhar nas unidades balneares. Apesar do excesso na procura, os concessionários de praia queixam-se da falta de profissionais e admitem que isso se repercute na segurança das praias. As entidades concessionárias explicam que o perfil do nadador-salvador em Portugal está associado ao de alguém que ainda é estudante, pelo que não tem disponibilidade no arranque da época balnear (nas primeiras seis semanas de atividade, entre junho e meados de julho).

Outra das explicações para a falta de interessados prende-se com os preços dos cursos de formação de nadadores-salvadores. Antes rondavam os 150 euros mas, com a entrada das escolas privadas na formação, o preço duplicou e, atualmente, há cursos a custarem 325 euros. Por este motivo, muitos nadadores-salvadores ponderam não renovar licenças, uma vez que é obrigatório voltar a fazer o curso a cada três anos, a chamada “reciclagem”.

Existem duas possibilidades para o fazer: começar do zero, isto é, frequentar aulas teóricas e práticas para depois obter aprovação nas provas finais ou optar apenas pelas provas finais, que só podem ser feitas em Lisboa. Se fizerem o curso completo, os nadadores-salvadores têm que pagar o curso na sua totalidade, se fizerem exclusivamente as provas físicas finais em Lisboa o valor desce para os 33 euros.

Bárbara Peixoto, considera que a “reciclagem” é uma medida muito benéfica porque esta “é uma profissão na qual convém uma pessoa estar sempre informada, porque os métodos e as informações podem variar”. João Branco, praticante de natação e nadador-salvador na Praia da Baía, também em Espinho, é da mesma opinião, porque os profissionais vão “esquecendo a teoria”.

O horário extenso de trabalho – geralmente das 09h30 às 19h30 se em regime integral  e durante seis dias por semana – é outro dos problemas apontados. Os profissionais estão grande parte do dia expostos ao colar e não podem, por exemplo, fazer uma refeição completa, devido à imprevisibilidade dos dias os poder obrigar a terem de ir ao mar durante a digestão. João Gomes, estudante universitário e parceiro de João Branco no posto de vigia, deixa o alerta: “Não venham com aquela esperança de que é tudo fácil porque não é. Dez horas na praia não é nada fácil”.

Moldes de curso

Almerinda Soares refere que “o curso consiste em preparar os alunos para as provas físicas finais”. As aulas são lecionadas nos moldes de fomentar o trabalho da resistência e o doseamento do esforço. Para Almerinda, a formação “tem por base o trabalho de equipa” e a “ajuda é fulcral nas situações más”.

João Gomes, 19 anos, explica que o curso tem a duração de um mês e meio, sensivelmente. Todos os dias são divididos entre “treinar durante uma hora o físico e outra a teoria”.

Treino subjacente

Bárbara Peixoto explica um pouco do treino físico subjacente é essencial para “estarem aptos para a avaliação prática final” e salienta que os exercícios que fez no seu curso eram variados: “Havia dias em que íamos correr a manhã toda e depois íamos para o rio nadar, mas os exercícios mais usuais que se faziam eram na piscina. Todos os dias tínhamos que ir à piscina cerca de duas hora para nadar as distâncias que nos eram exigidas, fazer apneia [consiste em suster a respiração debaixo de água por forma a ganhar caixa]”.

Etapas para obter aprovação

Concluir o curso não é fácil. João Branco explica que é necessário “fazer 100 metros livres em um minuto e 40 segundos, 400 metros em nove minutos e 15 segundos, fazer apneia durante 25 metros e resgatar um boneco no fundo da piscina”. O exame teórico consiste em 20 perguntas que devem ser respondidas em 20 minutos. Para se ser aprovado na teoria deve-se tirar “acima de 75, ou seja, ter 15 ou mais respostas certas”. O exame oral é considerado “o mais flexível de todos”.

Aspetos positivos e negativos

Apesar de admitir pequenas diferenças entre os cursos do ISN, Bárbara Peixoto confessa que o curso que frequentou a preparou mais para colocar os conhecimentos em prática: “Aprendi formas de atuar em determinadas situações e diferentes maneiras de lidar com os banhistas”. Bárbara considera este tipo de conhecimentos fulcrais, porque “isto [profissão de nadador-salvador] é muito mais do que saber nadar”.

Quando questionados sobre o que deveria melhorar nos cursos, os nadadores-salvadores enfatizaram aspetos semelhantes. João Gomes acha que “devia haver mais provas no mar do que na piscina”.  O nadador-salvador explica que “a maior parte das pessoas são nadadoras e fazem muito bons tempos, mas quando chegam ao mar a realidade é completamente diferente”. Bárbara Peixoto vai ao encontro daquilo que o colega da praia vizinha refere e atenta que “uma pessoa que nada bem na piscina, no mar pode não saber nadar”, porque “a piscina não tem correntes”.Por fim, João Branco concorda com os colegas de trabalho e considera que “metade do pessoal que passa à justa não se safa no mar”.

Este trabalho adequa-se a qualquer pessoa?

Bárbara Peixoto alerta que este trabalho não é para qualquer pessoa: “Pessoas que tenham muita sensibilidade por exemplo ao sangue, pessoas que não consigam lidar em situações muito preocupantes ou que não consigam manter a calma em momentos de pânico não são indicadas”. Almerinda Soares completa a ideia da colega, referindo que têm que “ter calma não só com os banhistas, mas também com os colegas de trabalho”.

Esta profissão compensa?

João Gomes e Almerinda Soares acreditam que o trabalho compensa o esforço, “principalmente no currículo”.  Bárbara Peixoto sente-se realizada a nível pessoal: “É uma sensação mesmo muito boa porque sinto que afinal estou aqui a fazer alguma coisa”.

As pessoas respeitam esta profissão?

Para João Gomes, há uma grande dificuldade em ter como missão salvar vidas, quando os banhistas não respeitam os nadadores: “Muitas pessoas não dão valor à nossa profissão”.

Inscrições

Os Cursos de Formação de Nadadores Salvadores são agrupados pelas seguintes áreas geográficas: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve e Regiões autónomas.

As inscrições podem ser efetuadas nos seguintes locais: Capitania Marítima da área de residência, Comissões de coordenação de Desenvolvimento Regional da área de residência (Autarquias, escolas, clubes, grupos de escuteiros, Associações de Nadadores Salvadores, etc.),
Escola Nacional de Bombeiros (Corporações de bombeiros voluntários e sapadores) ou ISN.

 

No posto de vigia ou junto ao mar a missão é sempre uma: salvar vidas.