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Crítica

West Side Story reaviva uma história com mais de 60 anos

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Numa época em que extravasam remakes em Hollywood, que cansam alguns espectadores, há remakes que são necessários e West Side Story de Steven Spielberg é um deles. Estreou nas salas de cinema no dia 8 de dezembro e reavivou um dos maiores clássicos musicais de sempre, enriquecendo-lhe a narrativa.

Esta versão de West Side Story de Spielberg, com argumento do dramaturgo Tony Kushner, conta-nos a história do bairro pobre de San Juan Hill com mais contexto, que se reflete nos discursos das personagens. Talvez por ser lançado em 2021, com bastante mais distância temporal em relação à ação, em comparação com a atualidade que o tema tinha em 1961, seja necessário enquadrar o público na realidade que retrata, mas isso também enriqueceu a narrativa. Assistimos à demolição de lares de muitas famílias da classe trabalhadora, devido a interesses económicos, como a construção do empreendimento Lincoln Center. O novo West Side Story intensifica também a hostilidade entre os gangues rivais: os porto-riquenhos Sharks e os brancos Jets, ambos motivados pelo ódio e pelo preconceito.

Com uma banda sonora sempre presente ao longo do filme, para além dos icónicos temas do musical-  tais como ‘Tonight’, ‘Maria’, ‘America’ e ‘I feel pretty’ -, a música de fundo ajuda muito a contar a história em West Side Story, encaminhando-nos para o sentimento de cada cena. Estes são vivenciados pelas personagens com muita mais intensidade do que possamos imaginar e convém que percebamos isso para compreender as suas decisões, sempre ao estilo dramático e engrandecido.

O West Side Story de 2021 não é uma versão moderna da história nem o quer ser. Pelo contrário, engrandece o clássico, sendo um filme à moda antiga, no que diz respeito nomeadamente à fotografia e aos figurinos. As interpretações dos atores são das poucas exceções. A teatralidade também está muito presente nesta longa-metragem, inspirada no musical homónimo original da Broadway. O design de luzes de West Side Story faz a ligação entre o cinema e o teatro, em cenas como a decisiva luta entre os Jets e os Sharks, em que o jogo de luzes e sombras intensificam a tensão da ação.

Este remake de West Side Story traz mais realismo à história, com um elenco composto por atores, de facto, de ascendência latina a interpretar as personagens porto-riquenhas. Entre eles, David Alvarez no papel de Bernardo, o problemático líder dos Sharks, Ariana DeBose como sua namorada, Anita, e Rachel Zegler, que faz a sua estreia no cinema como Maria, a protagonista.

A escolha de atores latinos para estes papéis parece óbvia hoje em dia, mas foi um avanço relativamente à versão de 1961, que esteve envolta em polémica pela escolha de Natalie Wood para o papel da porto-riquenha Maria, e pela única porto-riquenha no elenco ser Rita Moreno, que interpretou Anita e foi forçada a usar maquilhagem escura.

Sessenta anos depois, Anita é interpretada por uma atriz negra, Rita Moreno, produtora executiva do filme e faz parte também do elenco como Valentina, dona da drogaria e viúva de Doc que era o dono na antiga história. A sua personagem é fulcral para uma nova abordagem do filme. Sendo um ponto de ligação entre Maria e os porto-riquenhos e Tony e os Jets. Gentil e afetuosa, Valentina dá algumas lições às personagens.

Quanto ao elenco, Mike Faist interpreta Riff, melhor amigo de Tony, e apesar de ser personagem secundária é das que mais se destaca. Contudo, a sua atuação vibrante não combina com a do protagonista Ansel Elgort, com quem contracena e que tem uma prestação menos dramática, mais ao estilo de rapaz popular de um filme juvenil. O mesmo se aplica à prestação como cantor. Elgort não tem um alcance vocal tão grande quanto os restantes cantores do elenco ou outros atores que interpretaram Tony no passado. (Spoiler alert) No entanto, a atuação ao receber a notícia da morte de Maria foi arrebatadora.

Steven Spielberg não conta uma história diferente da clássica no seu West Side Story, apesar das ligeiras alterações e enriquecimento do contexto, nem acrescenta força ou atualidade ao tema do ódio entre raças (nem tinha de o fazer), mas reacende o interesse por uma história com mais de sessenta anos e prova o seu talento e paixão pelo cinema.

Artigo da autoria de Bruno Azevedo