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Crónica

Putin: porquê?

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Dia 24 de fevereiro de 2022 é um dia que ficará gravado para sempre na nossa memória coletiva, como o início da invasão russa à Ucrânia. Num ato que só pode ser descrito como sórdido e selvagem, as tropas do Kremlin invadiram território ucraniano espalhando o medo e o terror. Acabando com a paz em que vivíamos até agora.

A minha pergunta é: porquê? E poupem o vosso tempo a tentarem-me explicar as “razões” por detrás de todo este conflito, pois esta pergunta não tem resposta. Não existe qualquer tipo de conjugação de palavras possível, em qualquer um dos milhares de dialetos existentes neste planeta, que consiga preencher o vazio desta interrogação. Este “porquê?” é isso mesmo, um vazio. Uma incapacidade de conseguir construir qualquer tipo de linguagem comunicativa que permita responder a esta simples palavra. “Porquê?”, seguido de um silêncio melancólico e sentido, uma vez que essa é a única forma humana de reagir a esta pergunta.

George Orwell alegava que um dos maiores insultos que se poderia proferir acerca de alguém era “animalesco”. Essa é a palavra que deve ser usada para descrever o presidente russo. Ele e qualquer tipo de ser que apoie um mundo suportado por uma liderança baseada no medo, na opressão e na censura. Em atos de violência que permitam criar uma sociedade desigual onde existe a “gente de bem” – poderosa e forte- e os “outros”- impotentes e fracos. Numa realidade onde a palavra “liberdade” faz tanto sentido como a palavra “guerra” fazia na minha infância.

E se fico triste ao perceber que partilho o mundo com tiranos abusivos que querem que a história se repita, fico feliz ao perceber que partilho o mundo com bondosos filantropos que querem que a história se repita. Por cada vilão existe um herói, sempre foi assim e gosto de pensar que assim sempre será. Vejo uma sociedade informada, inteligente e intolerável a qualquer tipo de supressão, e as manifestações que acontecem por todo o mundo provam-no.

É que esta nem se quer é uma luta da Rússia, é uma luta individual, uma luta de Vladimir Putin. Todos os dias surgem cidadãos russos que condenam esta conduta bélica do seu presidente. O tenista Andrey Rublev escreveu “No war please” numa câmara no fim de um jogo que ditou o seu apuramento à final do torneio Abu Dhabi. Feder Smolov, futebolista do Dínamo de Moscovo e internacional russo, recorreu às redes socias para apelar à paz. Mais recentemente, Elena Kovalskaya demitiu-se de um dos mais prestigiados cargos culturais russos- era Diretora do Teatro de Moscovo- em protesto contra a invasão à Ucrânia, acrescentando “é impossível trabalhar para um assassínio”. Por isso desengane-se quem diz que isto é uma guerra russa, não o é! É sim uma guerra entre Putin e o Mundo.

Manifestemo-nos e lutemos por aquilo que outras gerações lutaram para nos oferecer. Um mundo em paz, sem guerras, sem conflitos armados que ponham em causa toda a nossa existência. Pronto agora que leio percebo que se calhar esteja a pedir demais, mesmo assim, tentar não custa.

Este texto, culmina num voto de força para o povo ucraniano que, de repente, se viu obrigado a sair das suas próprias casas, do seu próprio país e, em alguns casos, a separar-se das suas próprias famílias para garantir que não seriam engolidos por tanques militares ou atacados por mísseis aéreos inesperados. Um voto de força para o Presidente Ucraniano Volodymyr Olexandrovytch Zelensky e o seu gabinete, que nobre e corajosamente lutam junto do seu povo pelo país que tanto amam. Um voto de força aos destemidos ucranianos que ousam fazer frente a batalhões para proteger o que é seu, porque escrever um textinho escondido atrás de um computador é fácil, mas este tipo de coragem não está ao alcance de todos.

No fundo, isto é uma mensagem de esperança de um jovem inocente que tem uma visão romântica da sociedade em que vive. Um cidadão que, embora tenha os seus medos, genuinamente acha que tudo correrá pelo melhor. Um apelo à paz que nada tem a ver com o facto das sanções à Rússia poderem resultar num afastamento da sua seleção de futebol do Mundial do Qatar, abrindo espaço para que Portugal mais facilmente se apure. Não é nada disso, foquem-se na parte da liberdade e tal.

 

Artigo da autoria de José Miguel Dantas