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Desporto

AMOR À CAMISOLA: CONCEITO EM VIAS DE EXTINÇÃO

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Francisco Perez

Francisco Perez

Os campeonatos acabaram, mas a época 2013/2014 não coloca apenas um ponto final nas ligas europeias. É, também, um adeus a jogadores de enorme categoria que nas suas carreiras se dedicaram de corpo e alma aos clubes que representaram.

Javier Zanetti chegou ao Inter de Milão em 1995, proveniente do Banfield, e disputou este mês o último jogo com a camisola nerazurri, tendo feito 858 partidas e conquistado 17 títulos. Versátil e com grande classe, marcou uma era em Itália.

Quando o atual guarda-redes do Manchester United, David De Gea, nasceu, já Ryan Giggs alinhava na equipa principal dos red devils. Acabou a época como treinador e para trás ficam 37 troféus e mais de 1000 jogos. O Mago Galês abandona o futebol, perdendo o clube de Old Trafford mais uma referência, após a saída de Sir Alex Ferguson.

“O homem que viveu o sonho de milhares de crianças” entrega a braçadeira de capitão a outro colega da Catalunha. Carles Puyol sempre foi conhecido não só pelos caracóis, como também por deixar a pele em campo nos 593 jogos que disputou pelo Barcelona. As lesões, infelizmente, não permitem mais.

Antonio Di Natale é talvez o menos conhecido deste grupo, mas a sua despedida é outra (grande) perda para o futebol italiano. Ainda que não tenha jogado apenas na Udinese, clube onde marcou 191 golos em 368 encontros, demonstrou a sua grandiosidade ao adotar Maria Carla Morisini, a irmã de Piermario, jogador que faleceu em campo e que não tinha mais ninguém que pudesse cuidar dela, uma vez que perdeu os seus pais ainda muito nova. Di Natale ficará sempre nos corações dos adeptos italianos pela sua humildade dentro e fora das quatro linhas.

A vida é cheia de mudanças. Umas vezes avançamos, outras recuamos, mas sempre com o objetivo de procurarmos o que é melhor. Talvez, por isso, sejam cada vez mais raros os casos de jogadores que fazem carreira num só clube, com a “mesma camisola”.

Steven Gerrard dedicou toda a sua vida ao Liverpool, conquistando  ao longo de 23 anos todos os títulos possíveis com exceção do campeonato, e no entanto, recusa-se a abandonar o seu clube do coração. Francesco Totti é o “Imperador de Roma”.O maior guerreiro do clube chegou em 1992. Atualmente, ainda é jogador da cidade eterna, nunca tendo abandonado o barco, ainda que só tenha vencido uma Liga Italiana. Embora tenha também representado o Parma, Gianluigi Buffon ama a Vecchia Signora. Aquando do Calciocaos, na época 2005/2006, a Juventus foi condenada à descida de divisão, sendo que as grandes figuras do plantel, como o sueco Zlatan Ibrahimovic ou o francês Patrick Vieira, abandonaram Turim. Com exceção do guarda-redes mais caro do mundo e de Alessandro Del Piero, o eterno número 10 da equipa transalpina que marcou 208 golos em 513 jogos, poucos seriam aqueles que ficariam no clube. No entanto, não abandonaram o barco, lutando para reeguer a Juventus e torná-na na atual tricampeã italiana.

O conceito de “amor à camisola” caminha para o seu fim. Nos dias de hoje, o dinheiro comanda a vida, situação compreensível em virtude das ambições dos futebolistas e da atual crise financeira, mas é pena que continue a  acontecer.  Lendas como Paolo Maldini, Franco Baresi, Paul Scholes, Gary Neville ou João Pinto, antigo capitão do Futebol Clube do Porto, viveram carreiras de sonho ao serviço de um só clube. É caso para dizer: “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.

“No tempo em que o futebol não era ainda uma indústria nem os jogadores funcionários competentes, comandados por esse horror a que chamam técnicos: era pura criação, uma atividade eufórica, uma magia cinzelada, uma nascente de prazer, uma inspiração, um entusiasmo.” afirmava António Lobo Antunes. Infelizmente é verdade.

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2 Comments

2 Comments

  1. David Guimarães

    21 Mai 2014 at 18:05

    Justa e merecida homenagem a grandes jogadores que demonstraram, ao longo da sua carreira, fidelidade para com os seus clubes. Muito interessante e comovente a informação sobre a adopção da mãe de um colega por parte de Di Natale. Com a progenitora do companheiro sem rede, este craque, deu um bonito exemplo de humanismo!

    Um abraço.

  2. Francisco Perez

    21 Mai 2014 at 18:31

    Obrigado David. Parabéns pelos teus artigos já agora. Posso assegurar que tive um enorme gosto em poder mencionar as brilhantes carreiras destes senhores. Também destaco Di Natale, um homem letal na finalização e com um grande coração, pois não esqueçamos que Maria Carla, infelizmente sofre de uma deficiência.

    Abraço

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