Connect with us

Desporto

Mundial de Hóquei em Patins: Argentina verga Portugal e é campeã do mundo

Published

on

À procura de igualar a vizinha Espanha em número de consagrações mundiais na modalidade (17), Portugal veio à procura de conseguir, apenas pela segunda vez na sua história, revalidar o título de campeão nacional, bem como quebrar uma malapata que dura há décadas – a de nunca ter vencido um torneio desta categoria realizado na Argentina. 

Primeiro tempo bem aceso

Não demorou muito a perceber que seria um confronto de titãs. Logo no primeiro minuto, Gonçalo Alves e Hélder Nunes arriscaram a sorte em remates de meia distância, ainda que sem o fim pretendido. O ambiente era de grande entusiasmo no Aldi Cantoni.

Nos 60 segundos seguintes, as temperaturas subiram com a equipa da casa a ripostar e a testar os reflexos de Ângelo Girão, que se opôs ao remate com distinção. No contra-ataque, Hélder Nunes apareceu em posição de enorme perigo e tocou curto para Henrique Magalhães, que atirou de primeira para o lado desprotegido da baliza de Conti Acevedo, inaugurando o marcador. 1-0 exibia agora o placar.   

Portugal continuava por cima no encontro, e nos minutos seguintes voltou a ameaçar pelos mesmos intervenientes do lance do golo. Conti Acevedo, guardião do OC Barcelos, agigantou-se e impediu o 2-0. Ainda nesta fase do jogo, João Rodrigues é derrubado dentro da área adversária, num lance que gerou muitos protestos da comitiva lusa. 

Só aos cinco minutos a Argentina criou uma verdadeira chance de perigo através do “stick” de Gonzalo Romero, remate que foi prontamente neutralizado pelo seu companheiro de equipa no Sporting CP, Ângelo Girão. Passados 20 segundos, Pablo Álvarez apareceu isolado na cara do guarda-redes português e introduziu a bola na baliza, ainda que o lance tenha sido invalidado por tê-lo feito com o patim.

O pavilhão estava ao rubro e ambas as seleções estavam determinadas em chegar ao golo. À passagem do minuto seis, João Rodrigues entregou de bandeja para o companheiro Rafa, que disparou com força o esférico, intercetado por Conti Acevedo com o capacete. A reação da equipa das pampas foi imediata, com Pablo Álvarez e Carlos Nicolía a “stickarem” com selo de golo. Voltou a valer o sujeito do costume, Ângelo Girão, à formação lusitana.

Depois de três minutos sem oportunidades e pouco característicos de ambos os países, a ação voltou e em grande. João Souto assinou duas ocasiões de enorme aperto para os milhares que apoiavam a Argentina nas bancadas, acertando na barra à primeira e saindo por baixo contra Conti Acevedo na segunda. 

Mas as paradas de Conti Acevedo eram replicadas em dobro por Ângelo Girão, que, a 11 minutos e meio do fim, fez duas defesas de levantar o estádio. O recém-entrado Ezequiel Mena, atleta do FC Porto, quase conseguiu fazer o esférico transpor a linha de golo, no entanto, a muralha das quinas serviu-se do instinto para proporcionar um lance monumental de hóquei e impedir o tento oposto. Poucos segundos depois, o mesmo Ezequiel Mena voltou a ameaçar com um tiro à velocidade da luz, que esbarrou no capacete de “Anjo” Girão, sendo mesmo necessário limpar a viseira do mesmo.

Apesar da pressão crescente da seleção albiceleste, foi Portugal quem fez valer a eficácia. Com cerca de 10 minutos para se jogar no primeiro tempo, Henrique Magalhães apareceu à entrada da área a passe de João Souto e atirou a contar. O esférico ainda desviou num elemento da equipa das pampas e traiu o guarda-redes Conti Acevedo. Estava feito o 2-0 em San Juan.

Nos minutos que se seguiram, Portugal impôs um ritmo mais lento na partida, pautado por tentativas inconsequentes de ambos os lados, com a Argentina sem grande capacidade para fazer tremer a defesa portuguesa. 

O gelo que se tinha instaurado na pista só viria a ser quebrado ao minuto 23, quando a nação da casa, motivada pelos seus fervorosos adeptos, beneficiou de um momento de pura genialidade por parte de Pablo Álvarez. O criativo da equipa sul-americana partiu de trás da baliza de Ângelo Girão e finalizou com astúcia ao primeiro poste da baliza. Execução clínica e precisa que fixou o resultado em 2-1 ao soar da buzina para o fim dos primeiros 25 minutos.

Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce

Depois de um primeiro período repleto de oportunidades, aquilo a que se assistiu no segundo tempo foi uma enorme demonstração de crença por parte de toda a Argentina rumo a um único objetivo – a conquista da taça. Portugal, oprimido por esta energia renovada, cometeu mais erros e mostrou-se sempre vulnerável, acabando por sucumbir.

Mas vamos por partes. A princípio, até foi a equipa das quinas quem apareceu em melhor plano, com Rafa, Hélder Nunes e João Rodrigues a construírem uma clara ocasião, frustrada pelo sujeito do costume, Conti Acevedo. 

Foi à passagem do minuto seis que Portugal começou a perder o controlo sobre o jogo, quando Telmo Pinto travou em falta Carlos Nicolía, num lance confuso e fora do raio de ação onde estavam a bola e os restantes jogadores. O jogador português foi admoestado com cartão azul e, na conversão do livre direto, o mesmo Carlos Nicolía, que representa o SL Benfica, não tremeu, restabelecendo a igualdade e fazendo estalar o alvoroço nas bancadas. Estava feito o empate, 2-2 no marcador.

De seguida, Henrique Magalhães, a passe de Hélder Nunes, ainda tentou chegar ao hat-trick, mas, no frente-a-frente com Conti Acevedo, saiu por cima a parede argentina. Desde esse momento, foi a seleção albiceleste que, sempre com o apoio dos seus adeptos, emergiu e tomou o controlo da partida.

Primeiro foi Lucas Ordóñez a causar perigo, depois Gonzalo Romero, que desferiu um remate violentíssimo com selo de golo, mas foi negado por Ângelo Girão, que dava o que tinha e o que não tinha para defender as malhas lusas. Contudo, não há resistência que seja inquebrável e, em função de uma perda de bola em zona proibida, Pablo Álvarez viu-se isolado em região privilegiada para fazer o 2-3 e não desperdiçou. O argentino atirou rasteiro por baixo do corpo de Ângelo Girão, que ainda tocou no esférico, mas sem intensidade suficiente para o fazer parar a tempo. A cerca de 11 minutos do fim, 2-3 era o resultado.

Com o terceiro golo, a aura que restava da equipa das quinas foi ficando cada vez mais ténue, enquanto a Argentina respirava e transpirava confiança. Como consequência, João Rodrigues fez a décima falta de Portugal sobre Matías Platero. Chamado a converter a bola parada, Carlos Nicolía esbarrou no único membro em que residia alguma réstia de fulgor – Ângelo Girão.

A 12 segundos do fim e já com a formação lusa com cinco jogadores de campo, Gonçalo Alves “stickou” de muito longe e viu a bola ser intercetada pela equipa adversária que, com a baliza a descoberto, não desperdiçou. Ezequiel Mena sentenciou a partida e silenciou por completo uma visivelmente abatida comitiva portuguesa.

2-4 foi, desta forma, o resultado último de uma final cheia de emoções que elevou a seleção albiceleste ao topo do mundo, a equipa que nunca deixou de acreditar e que fez tudo o que estava ao seu alcance para alcançar a vitória. Quanto a Portugal fica um sabor amargo, mas perdurará na memória dos portugueses o nível elevadíssimo que fez a seleção chegar ao jogo de todas as decisões invicta, bem como a certeza de que, no futuro, haverão novas oportunidades de reconquistar o troféu. Para fechar, a França carimbou o terceiro lugar, após vencer a Itália nas grandes penalidades. 5-5 (3-2 g.p.) foi o resultado que deu o bronze à embaixada gaulesa.  

Artigo da autoria de João Pedro Pereira.